Política

Dilma mente sobre crise
econômica. Eis as provas

DANIEL LIMA - 30/08/2016

Vou apresentar sem maiores delongas quatro provas documentais (poderiam ser 400, porque meu arquivo profissional é imenso, irrefutável, aniquilador) de que a presidente afastada Dilma Rousseff mentiu durante todo o dia e noite de ontem no Senado Federal. Especificamente sobre a crise econômica, a qual vincula espertamente a supostas ações retaliatórias do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Dilma Rousseff negou o tempo todo que a crise estava enraizada no ano das eleições presidenciais, em 2014. Despreparados, os senadores de oposição às lorotas da pior presidente da historia do País não lhe impuseram o nocaute devido, até porque o ritual do evento comandado pelo representante do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, favoreceu o controle dos cordéis de ilusionismo da petista.

Vamos reproduzir os principais textos de artigos e matérias que constam de nosso arquivo, os quais revelam sem qualquer tipo de restrição a situação que já imperava na economia brasileira naquele começo de 2014, não, como exaustivamente cansou de afirmar Dilma Rousseff, em outubro daquele ano.

Primeira prova

Primeiro, os trechos do artigo de Alexandre Schwartsman, doutor em economia pela Universidade da Califórnia, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e sócio-diretor de uma consultoria, além de professor do Insper. Repararem na data: 1º de janeiro de 2014: 

 Não há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa da política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já começaram, cautelosamente, a recuar de suas trincheiras. A expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de controles diretos de preços, o crescente déficit externo, somados ao desempenho pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de política é insustentável. (...). A dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo governo se instalará (muito provavelmente a continuação do atual) e terá a oportunidade de promover os ajustes requeridos livre da camisa de força eleitoral. Resta saber se a aproveitará. (...). A menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis no front externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país, ameaçando o grau de investimento), a tendência, creio, seria a piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governador o pragmatismo.

Segunda prova

Agora, o segundo artigo, nesse caso uma reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, de 1º de março do mesmo 2014, sob o título “Consumo das famílias perde força e registra menor alta desde 2003”: 

 Na última década, o consumo das famílias brasileiras e nos investimentos avançaram mais rápido do que a produção nacional de riqueza. Entre 2003 e 2013, o PIB cresceu, em média, 3,5% ao ano, enquanto o investimento subiu 6,1% e a demanda 4,1%. Depois de anos equilibrando o que parece um paradoxo entre consumir mais do que produz, a economia do país precisa passar por um rebalanceamento, que, segundo alguns economistas, pode ter começado em 2013. (...). Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, afirma que foi possível aumentar o consumo em ritmo mais rápido do que o PIB por dois motivos principais. De um lado, o Brasil ficou mais “rico” neste período, já que os termos de troca subiram por causa da valorização das exportações brasileiras, especialmente das commodities, enquanto as importações ficaram mais baratas, relativamente. Ao mesmo tempo, o Brasil também financiou o aumento do consumo com poupança externa, o que levou o saldo em conta corrente, que era positivo há uma década, a encerrar 2013 com déficit de 3,7% do PIB. (...). “A maneira como crescemos nos últimos dez anos com forte expansão do crédito, alta das importações e poucas exportações se esgotou”, diz Gala (Paulo, estrategista da Fator Corretora), para quem a perda de fôlego da demanda das famílias, em linha com a desaceleração do mercado de trabalho e dos reajustes salariais, coloca mais desafio para o crescimento. “Se os outros motores não funcionarem, a economia para. Sem exportações e investimentos, ficamos em estagnação”, afirmou.

Terceira prova

Agora, trechos do artigo de Vinicius Torres Freire, da Folha de S. Paulo, de 28 de fevereiro de 2014, sob o título “Futuro do passado de Dilma”: 

 Dá para fazer média com os números da economia nos anos de Dilma Rousseff. Dá para fazer média com a presidente e contra ela. Na média, por exemplo, o Brasil cresceu 2% no triênio dilmiano. A fim de que o crescimento médio sob Dilma Rousseff supere o registrado nos “malditos” anos de FHC, a economia terá de crescer mais de 3,1% neste 2014. Não é impossível, apenas bem improvável. E daí? E daí, nada. Nesses termos, essa história toda é meio irrelevante, conversa de corrida de cavalos. (...). É quase tão difícil antever o futuro do pretérito quanto o futuro do presente, tão difícil dizer “o que teria acontecido” quanto “o que acontecerá”. Tendo visto o que se passou nos anos Dilma, a especulação fica menos vaporosa. (...) O governo gosta de ressaltar esse aspecto do nosso triênio de crescimento baixo (“Enfim, durante o triênio o país sofreu com os efeitos da, digamos, radiação de fundo da explosão de 2008”), mas agiu como se estivesse tudo bem. Em 2011, recém-empossado, previa crescimento médio de 5,9% ao ano; mais tarde, de pelo menos 4%. (...). Para piorar (o governo Dilma) injetou anabolizantes na economia, que desarranjou com controles artificiais de preços, expansão inflacionária do crédito da banca estatal e do déficit público. Caso a presidente tivesse feito a arrumação básica necessária em 2011, dificilmente o país teria crescido muito mais do que o fez. Mas Dilma Rousseff teria feito um governo melhor.

Quarta prova

Para completar esse breve extrato de lambanças de uma presidente que, se não for mentirosa é analfabeta econômica, se não for analbateta econômica é escandalosamente negligente e se não for escandalosamente negligente é uma tremendíssima cara de pau, eis alguns trechos do artigo assinado pelo jornalista Rolf Kuntz no Estadão de 1º de março de 2014, sob o título “A economia da hiena”: 

 De que se ri o animalzinho? – pergunta o cidadão, na velha piada, ao saber da parcimônia sexual e das preferências gastronômicas da hiena. A mesma perplexidade é inevitável diante da aparente alegria de tantos analistas ao conhecer os números da economia nacional em 2013. O miserável aumento de 2,3% do produto interno bruto (PIB) foi descrito como surpreendente. (...). Em primeiro lugar, o investimento 6,3% maior que o de 2012 ocorreu depois de uma queda de 4%, detalhe aparentemente esquecido ou negligenciado por muita gente. Em termos de volume, ficou pouco acima, portanto, do registrado em 2011. Em outras palavras, a formação bruta de capital fixo ficou praticamente estagnada ao longo de dois anos. (...). Mas o problema complica sensivelmente quando as pessoas começam a encarar como normal um desempenho pífio, muito abaixo das possibilidades do País e a festejar pequenas melhoras. (...). Em segundo lugar, a taxa de investimento passou de 18,2% do PIB em 2012 para 18,4% em 2013, muito inferior aos padrões dos emergentes e ainda abaixo do pico de 19,5% registrado em 2010. O nível de 24% já alcançado por alguns sul-americanos será atingido até 2020, prometeu o animado ministro da Fazenda. (...). O mau uso do dinheiro público, o desajuste fiscal e a inflação elevada são componentes desse quadro de baixa produtividade, mas há pouco estímulo para o governo cuidar seriamente de qualquer desses problemas. Há oposição à alta dos juros, apesar da inflação resistente e ainda muito elevada. Até a meta fiscal anunciada há poucos dias foi criticada, como se o governo estivesse empenhado, com sua modesta exibição de austeridade, em matar o crescimento. (...). Reformas para tornar a economia mais eficiente são complicadas e tomam tempo. Para que esperar? Nesse novo normal, menos e menos pessoas, a cada dia, acharão estranha a satisfação da hiena.

Mais um, de lambuja

De lambuja, como pá de cal de uma gestão desastrosa na economia e destrambelhada nas relações com o Congresso Nacional, além de em conflito evidente com a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem contar o Petrolão, reproduzo alguns trechos de outro artigo de Alexandre Schwartsman, na Folha de S. Paulo de 26 de março de 2014, sob o título “Imunes”: 

 Mencionei rapidamente em coluna recente um dado alarmante: a poupança nacional caiu de 14,6% para 13,9% do PIB entre 2012 e 2013. Mais alarmante, porém, é notar que essa tendência prevalece há alguns anos. Mesmo sem jamais ter atingido níveis particularmente elevados, a poupança, medida como proporção do PIB, caiu praticamente cinco pontos percentuais a partir de 2008, ou seja, um ponto percentual do PIB a cada ano, em média. (...). Entre 2008 e 2013, o consumo das famílias cresceu a uma taxa média de 4,2% ao ano; já o PIB, apenas 2,6% anuais, reduzindo em três pontos percentuais a taxa de poupança. (...). Some-se a isso a expansão medíocre (e em franca desaceleração da produtividade) e temos o quadro que hoje caracteriza a economia brasileira. Mesmo com crescimento médio que dificilmente superará 2% ao ano no atual mandato, há sinais consistentes de estresse sobre a capacidade produtiva. (...). Permaneço cético. No cenário político mais provável (a reeleição), tanto as crenças profundamente enraizadas sobre as “virtudes” do atual modelo quanto os interesses econômicos encastelados nas proximidades do governo devem se manter como forças contrárias à mudança. (...). A recusa em enfrentar os problemas apenas aumenta o custo futuro do ajuste. Vimos isso nos últimos anos – quando desperdiçamos nossas chances – e veremos de novo. Imunidade ao aprendizado acaba saindo caro.

Consequências dos estragos

Àqueles que eventualmente indagarem sobre a razão deste texto numa publicação que tem como mote “regionalidade para ser impressa”, não preciso dizer nada que não seja a sugestão de que deem uma olhada atenta à situação econômica da Província do Grande ABC, centro da crise econômica instalada no País, área na qual sua Capital Econômica, São Bernardo, acumulará em quatro anos, a se completarem nesta temporada, queda de pelo menos 20% do Produto Interno Bruto por habitante. Uma catástrofe que se espraia por toda a região com intensidade um pouco menos sombria, mas nem por isso menos demolidora do tecido social.



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