Política

Tomara que DataDiário
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DANIEL LIMA - 01/09/2016

O Diário do Grande ABC não pode e provavelmente não deixará de publicar pesquisas eleitorais dos candidatos às prefeituras do Bicho de Sete Cabeças, que é a Província do Grande ABC. Tomara que o faça, mas, mais que isso, que, desta feita, os resultados sejam mais condizentes com as urnas e com a importância da publicação, a mais tradicional da região. As disputas de 2012 foram de lascar.

Nas eleições de primeiro turno (e também de segundo turno) de 2012, o Instituto DGABC, que passei a chamar de DataDiário, cometeu erros demais. Um excesso que desprezou limites territoriais, avançando sobre vários municípios. Foi uma regionalização de falhas. O pesquisador Leandro Prearo, do antigo Imes de São Caetano, hoje USCS, esteve à frente da empreitada. E, pasmem, fez um balanço daqueles trabalhos que, comparados ao balanço econômico de Dilma Rousseff no Senado Federal, não deixa nada a desejar – mas tudo a lamentar.

Sou dependente psíquico de pesquisas eleitorais. Não vivo sem pesquisas eleitorais. Mas tenho paixão de amor e ódio pelas pesquisas eleitorais -- porque as devasso integralmente. Quero saber se fui ou não enganado pelos dados conectados à metodologia.  Estou ligadíssimo, portanto, nas pesquisas que eventualmente virão. Outro dia analisei o Instituto Vox Populi sobre a disputa em Santo André. Não me convenci dos resultados, confusos e contraditórios. A margem de erro de quatro pontos daquela iniciativa foi um convite à farra interpretativa.

No caso das eleições de 2012, o DataDiário entrou em conflito com o eleitorado, conforme análise que fiz logo em seguida, em nove de outubro. Vamos aos casos para que os eleitores e leitores entendam os pressupostos daqueles trabalhos.

Virada de Grana

Em Santo André, o DataDiário da véspera da disputa apontou que Aidan Ravin mantinha vantagem de 0,53 ponto percentual dos votos válidos sobre o petista Carlos Grana, resultado que correspondia ao placar de 40,13% a 39,60%. O resultado das urnas favoreceu o petista por 5,62 pontos percentuais. Ao se somar a diferença efetiva e o 0,53 ponto percentual favorável a Aidan Ravin nas pesquisas, o resultado final acusou erro estatístico de 6,15 pontos percentuais – muito acima da já larga margem de erro de três pontos percentuais para cima ou para baixo.

Há quem não diferencie pontos percentuais de percentagem. Vou tentar explicar tendo como exemplo o resultado final de votos válidos do primeiro turno em Santo André,  de 42,85% para Carlos Grana e 37,13% para Aidan Ravin. A diferença em pontos percentuais foi de 6,15 (42,85% menos 37,13%), mas percentualmente chegou a 13,35%. Ou seja, nas urnas Carlos Grana venceu por 13,35%, enquanto na pesquisa de véspera de eleição quem chegou à frente no primeiro turno foi Aidan Ravin com vantagem de 0,53 ponto percentual, ou 1,32%. No conjunto da obra, o DataDiário errou por 14,67% dos votos.

Derrapada em Mauá

Em Mauá a situação foi mais grave no primeiro turno. A pesquisa do Diário do Grande ABC, publicada no dia anterior à votação oficial, apontou que Vanessa Damo teria 45,11% dos votos válidos ante 31,39% de Donisete Braga. Uma diferença de 13,72 pontos percentuais -- 30,41% dos votos. Ou seja: para cada 100 votos válidos do primeiro turno em Mauá, em 2012, Vanessa Damo teria vantagem de 30,41 sobre o petista. Nas urnas, um dia depois, Donisete Braga venceu com 38,34%, ante 33,90% da peemedebista. Uma diferença de 4,44 pontos percentuais e de 11,58%. Entre a pesquisa e as urnas, Donisete Braga estabeleceu vantagem de 17,47 pontos percentuais – os 13,72 pontos percentuais favoráveis à Vanessa na pesquisa do Diário mais os 4,44 pontos percentuais favoráveis a Donisete Braga na vida eleitoral real. Em termos percentuais, a distância que era de 30,41% a favor de Vanessa Damo na pesquisa do Diário, passou, nas urnas, a 11,58% a favor de Donisete. Quando se somam a favor de Donisete Braga os 11,58% da vida real das urnas e os 30,41% que desapareceram da vantagem a favor de Vanessa Damo nas pesquisas, o fosso vai a 41,99%. Ou seja: houve equívoco da pesquisa nesse montante, em detrimento de Donisete Braga.

Mudança em Ribeirão Pires

Outro equívoco de uma das facetas da pesquisa do Diário em 2012 se deu em Ribeirão Pires. O instituto do jornal apontou que Saulo Benevides ganharia a disputa por 16,15 pontos percentuais de vantagem, fruto de 43,76% dos votos válidos ante 27,61% de Maria Inês Soares na pesquisa publicada um dia antes da disputa. Em termos percentuais, seriam 36,90% de superioridade de Saulo Benevides. Nas urnas, um dia depois, Saulo Benevides carimbou vantagem de 58,31% ante 36,85% da petista. Uma diferença de 21,46 pontos percentuais, ou de 36,80%. Ou seja: a variação foi profunda em pontos percentuais e praticamente a mesma em percentuais.

Fratura exposta em Diadema

Em Diadema, a pesquisa do Diário do Grande ABC apontou que Mário Reali obteria 50,31% dos votos válidos no primeiro turno, contra 38,45% de Lauro Michels. Diferença de 11,86 pontos percentuais, que caiu, na materialidade das urnas, para 4,83 pontos percentuais, ou seja, 7,03 pontos percentuais de baixa. O resultado real em Diadema foi 46,75% a 41,92% para Mário Reali. Traduzindo em termos percentuais, o que era vantagem nas pesquisas do Diário de 23,57% a favor de Mário Reali, liquidando-se a fatura no primeiro turno, caiu para 10,33% na realidade das urnas. Menos da metade, portanto.

Pinheiro bem maior

Em São Caetano, o candidato eleito em turno único, Paulo Pinheiro, obteve nas urnas 6,00 pontos percentuais a mais de votos indicados pela pesquisa do Diário do Grande ABC às vésperas da disputa: ele teria 57,35%, mas chegou a 63,35%. Adversário de Pinheiro, Regina Maura obteve nas urnas menos votos do que nas pesquisas do Diário: o jornal anunciou 40,69%, mas houve queda para 34,81% nas urnas. A diferença entre os votos das pesquisas eleitorais em São Caetano passou, portanto, de 16,68 pontos percentuais (57,35% a 40,69%) para 28,54 pontos percentuais nas urnas. Em termos percentuais, o que seria uma distância de 29,04%, nas pesquisas, passou a 45,01% nas urnas. Ou seja: se as pesquisas indicavam que Paulo Pinheiro teria a cada 100 votos 29,04 a mais que Regina Maura, as urnas determinaram que, de cada 100 votos, Paulo Pinheiro acumulou a vantagem de 45,01 votos.



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