Política

Alex quer Tarcísio que quer
Orlando que não quer Alex

DANIEL LIMA - 14/09/2016

Orlando quer Tarcísio que quer Alex que não quer Orlando que não quer Luís Ricardo que quer Nilza que quer Edinho que não quer William que não quer Maurício que não quer Alex que quer Nilza que quer Orlando que não quer William que quer Tarcísio. Eis espécie de suruba eleitoral em São Bernardo, inspirada na Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade e – acreditem – sem nenhuma conotação subjacente ou explícita depreciativa.

Trata-se exclusivamente de resumo da ópera da entrevista do ex-prefeito William Dib ao Diário do Grande ABC desta quarta-feira. O homem que comandou o Paço de São Bernardo durante seis anos, até ser substituído por Luiz Marinho, deixou claro alinhamento à candidatura de Alex Manente, não quer nem ouvir falar do antigo aliado Orlando Morando, e sonha em ter o PT de Tarcísio Secoli no segundo turno.

Creio que os leitores identificaram todos os personagens do jogo eleitoral em São Bernardo no arremedo de Quadrilha acima. Orlando Morando, Alex Manente e Tarcísio Secoli são os candidatos à Prefeitura. William Dib, Nilza de Oliveira, Luís Ricardo Davanzo, Edinho Montemor, Maurício Soares são alguns dos principais agentes dos três candidatos.

Tanto Orlando Morando como Alex Manente sonham em ter o petista Tarcísio Secoli como adversário no segundo turno. É claro que gostariam que não houvesse segundo turno, mas não contam com essa possibilidade. A matemática, a velha e travessa matemática, não estaria disposta a ser descartada. Por isso mesmo jogam o jogo da exclusão de um e a inclusão de outro.

Há crença generalizada de que enfrentar Tarcísio Secoli no segundo turno, com o passivo do PT em termos de ética e de responsabilidade social, é sopa no mel. Seria a garantia de que a posse em primeiro de janeiro do ano que vem não passaria de formalidade. Favas contadas, se querem saber.

Empurra-empurra

Por essa e também por outras razões menos votadas, o que mais as candidaturas de Orlando Morando e de Alex Manente deverão fazer nessa reta de chegada será o jogo de empurra que coloca Tarcísio Secoli no colo do outro. Ou seja: o candidato petista será repassado por Orlando Morando a Alex Manente e por Alex Manente a Orlando Morando como espécie de mico.

Mas seria um mico valioso porque, ao mesmo tempo em que impactaria o potencial de votos do adversário mais imediato, poderia também atingir de tal maneira o eleitorado indeciso que, vejam só, o mico se transformaria em finalista do segundo turno.

Todos querem Tarcísio porque Tarcísio é abate fácil numa segunda etapa, mas como nem Alex Manente nem Orlando Morando acreditam no poder de resiliência da candidatura petista, a utilizam em última instância como boi de piranha para minar o adversário direto.

Ou seja: o petista Tarcísio Secoli virou moeda podre que se repassa a terceiro como casca de banana para atrapalhar a corrida rumo às urnas, com reflexos extensivos ao segundo turno. Se por essas coisas do destino eleitoral essa moeda podre for mais resistente do que os abalos que causaria a um dos candidatos favoritos ao segundo turno e, com isso, chegue à próxima etapa, estaria concretizado o sonho de Morando ou de Manente. 

Sei que para quem não tem familiaridade com os nomes e com a política administrativa e eleitoral de São Bernardo essa sucessão de identidades e situações soa estranha, quase ininteligível, mas o que posso fazer se é essa a realidade dos fatos e das especulações dos fatos? 

Maestria maquiavélica

O ex-prefeito William Dib ocupou com maestria maquiavélica – se assim pode ser definida uma senhora sacanagem eleitoral –uma página inteira do Diário do Grande ABC de hoje para vincular a candidatura do ex-aliado Orlando Morando à laranja podre da candidatura petista em São Bernardo.

Entenda-se por laranja podre não o candidato em si, porque Tarcísio Secoli é bom moço, mas o produto partidário em que se transformou num contexto em que o Partido dos Trabalhadores é a Gení da vez na política nacional – embora não faltem meretrizes eleitorais na praça.

Talvez o que tenha se apresentado como elo perdido no encadeamento de pecados supostamente capitais de Orlando Morando, segundo a versão de William Dib, foi certo excesso no carregamento de chumbo grosso do ex-aliado.

Quando a esmola é demais

Da mesma forma de que quando a esmola é demais o santo desconfia, cheirou na entrevista de William Dib e também no destaque do trabalho jornalístico (manchetíssima da edição, ou seja, a manchete das manchetes de primeira página) certa tendência à retaliação deliberada ao candidato do PSDB.

Levantou-se de forma abusada a bola para os cortes fatais de William Dib. Uma entrevista com cheiro e formato de combinação prévia, por assim dizer. William Dib bateu tanto em Orlando Morando que se esqueceu de falar do próprio PT, a quem tanto combateu no passado e que agora, segundo versões de adversários políticos, observa atentamente como aliado estratégico para chegar aonde Alex Manente tanto espera – a um segundo turno sem a companhia indigesta de Orlando Morando. A recíproca, como já demonstrei, é verdadeira.

Nessa reta de chegada de primeiro turno eleitoral mais valem as entrevistas com os candidatos do que pesquisas eleitorais na maioria dos casos fajutas porque alargam de tal maneira a margem de erro que não deixam de mostrar os fundilhos dos interesses subjacentes.

A entrevista de William Dib ao Diário do Grande ABC de hoje não tem um ponto sequer de margem de erro, mas deixou uma avenida de interrogações e de avaliações em busca de certezas ao se concentrar excessivamente numa temática pretensamente atomizadora da candidatura de um oponente indigesto.

Longe de ingressar no terreno movediço de juízo de valor dos motivos que levaram William Dib a metralhar a imagem de Orlando Morando, insisto na interpretação de que teria havido certo encaminhamento prévio à produção de um libelo contra o tucano. É possível que pesquisas eleitorais sérias, guardadas a sete chaves, expliquem a iniciativa.



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