Não sei se vou ter coragem de escrever antes do primeiro turno das eleições que o PT não fará nenhum prefeito na Província do Grande ABC. Talvez não seja coragem o verbete correto. Certeza seria melhor. Já especulei aqui sobre isso ainda outro dia, mas não me aventurei a dizer taxativamente que o PT já era nos sete municípios da região. Seria uma catástrofe histórica, convenhamos. Mas ainda não estou certo disso.
Não torço nem a favor nem contra esse desmanche partidário porque não vejo a princípio qualquer possibilidade de estoque zero ou estoque sete ser ruim ou bom para a Província.
Acho que o PT vai conhecer uma jornada sofrível na região. Fio-me cada vez mais na convicção de razoável conhecimento da política regional e também de aspectos subjetivos. Sem respirar, literalmente, um ambiente geográfico, estatísticas podem ser perigosas demais à interpretação.
Pela primeira vez desde muito tempo, mais propriamente do começo deste século, o PT será derrotado em eleições municipais nas urnas, quando se somarem os votos válidos gerais avermelhados e os confrontarem com votos azulados e assemelhados. Já ocorreu esse revés nas eleições presidenciais de 2014, após três vitórias seguidas dos petistas na região, a começar com Lula da Silva em 2002.
Mais estragos na periferia
Não fossem o escândalo do Petrolão e a derrubada de Dilma Rousseff suficientes para botar o PT a escanteio nas próximas eleições municipais, o que restava de respiradouro considerável para manter parte do voto da periferia ao lado dos candidatos da agremiação foi para o beleléu com as denúncias da Lava Jato que atingiram em cheio Lula da Silva.
O ex-presidente está esperneando, juristas falam em espetacularização do evento preparado pelos procuradores de Curitiba, abundam análises sobre possíveis fissuras no encaminhamento do caso ao juiz Sérgio Moro. Tudo isso não está agora em discussão neste espaço. O que pesa mesmo são os estragos na embarcação petista com a massificação da notícia.
Se já havia deserção caudalosa do eleitorado da periferia a inquietar os candidatos petistas de regiões metropolitanas, imaginem agora. E olhem que ainda tem muita estrada até as eleições de outubro. Sim, muita estrada. Duas semanas e pouco parecem uma eternidade quando se fala em escândalos no Brasil.
Entendo que somente Donisete Braga em Mauá e Carlos Grana em Santo André podem reunir forças para se sustentarem no poder municipal, mas mesmo assim as possibilidades de sucesso estão cada vez mais estreitas.
Nacionalização prejudicial
A nacionalização da pauta eleitoral da qual tanto fugiam porque não são bobos nem nada voltou à cena com a força-tarefa que colheu Lula da Silva.
Primeiro, a repercussão da mídia de massa democratiza os efeitos daquela operação. Segundo, Lula da Silva não vai poder mais botar a cara nas campanhas dos petistas porque as classes mais populares já ligam o nome e o sobrenome do ex-presidente às loucuras da economia com recessão e desemprego que antes atribuíam majoritariamente à insuperável Dilma Rousseff.
O mais duro na empreitada de um jornalista metido a besta como eu que quer enveredar pelo mundo eleitoral da região é que estou navegando em águas revoltas. Não existe ou não é de conhecimento amplo qualquer pesquisa eleitoral que não flerte com vícios estruturais, construídos para sensibilizar eventuais apoiadores a doações por baixo ou não dos panos.
Quando bato os olhos numa pesquisa e descubro que a margem de erro é de mais de dois pontos percentuais, tolerantemente até três pontos percentuais, perco o rebolado crítico. Não posso me embrenhar de olhos vendados numa mata selvagem repleta de armadilhas entre outras razões também porque os obstáculos no encadeamento dos respectivos questionários esgrimidos pelos pesquisadores são um imenso risco.
Pesquisas inconfiáveis
Tive acesso a uma pesquisa em Santo André e até analisei nesta revista digital os dados expostos sem, entretanto, deixar de ponderar sobre esquisitices quando, dias depois, ao tomar conhecimento da metodologia aplicada, constatei que o trabalho se converteu em obra de malandragem para favorecer alguns concorrentes. Entre o voto espontâneo e o voto estimulado havia uma pinguela indutiva a incrementar o resultado seguinte, em detrimento dos demais competidores.
Por mais que a disputa eleitoral na Capital seja completamente diferente de qualquer uma dos municípios locais, entre outras razões porque ali há pelo menos três concorrentes diretos ao segundo turno e os votos da periferia que decide as disputas estão bastante divididos, há indicativos de alertas às potencialidades dos petistas mais competitivos da região. Se contasse com dados do comportamento do voto popular em Santo André e em Mauá, poderia fazer projeção de resultados que não sofresse de viés excessivamente especulativo.
Segundo pesquisas do Ibope e do Datafolha na Capital, trabalhos que contam com margem de credibilidade bem superior ao que se registra na Província do Grande ABC, o prefeito petista Fernando Haddad é rejeitado por 48% dos eleitores. A periferia que poderia lhe dar algum fôlego tem em Celso Russomanno e em Marta Suplicy oponentes vigorosos. Como Haddad não chega a 10% dos votos estimulados, situando-se bem distante dos favoritos, parece que já foi para o chapéu.
Não é o caso de Carlos Grana nem de Donisete Braga. A Carlos Grana sobra uma avenida de possibilidade porque o principal adversário, Aidan Ravin, tem passado que o condena individualmente, enquanto o petista sofre mais mesmo por causa da legenda.
Mesma situação de Donisete Braga, embora seu principal adversário, Atila Jacomussi, por jamais ter exercido o Executivo, passe por menos restrição de quem se desiludiu com os políticos.
Perdas e ganhos
Desconfio de que, mais pela severa retração do mercado de votos a candidatos de uma agremiação que paga o preço da organicidade com que sempre se pautou, e que agora lhe custa caro em dias de escândalos, o PT poderá sucumbir nas eleições também onde se mantém ainda competitivo. O reconhecimento de que eventuais adversários petistas não são lá nada brilhantes ou confiáveis teria menor impacto do que os estragos da Lava Jato e das denúncias contra Lula da Silva.
Ou seja: o PT poderá ser desalojado completamente dos Executivos da região em outubro próximo por causa do desgaste nacional da imagem. O eventual entendimento de que os candidatos locais seriam supostamente melhores que seus adversários não teria peso preponderante na hora de registrar cada voto nas urnas eletrônicas.
Carlos Grana e Donisete Braga, portanto, teriam ao final da disputa todos os motivos do mundo para esconjurar o PT. Não à toa eles agem discretamente na identificação do partido, o qual não pode ser renegado mas também não precisaria ser tão trapalhão.
Total de 895 matérias | Página 1
19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)