Política

Como eliminar Grana ou Aidan
da disputa final em Santo André?

DANIEL LIMA - 20/09/2016

Aidan Ravin está convicto de que tem lugar garantido no segundo turno em Santo André. Se bobearem – cantarola com a exuberância carismática – nem segundo turno haverá. Carlos Grana também tem certeza pública (não se sabe o que pensa entre paredes com os aliados mais próximos) de que seu lugar estará reservado na etapa final. Cada um deles propaga que quer enfrentar o outro. Se dizem isso sem que pareça fanfarronice – e não é mesmo fanfarronice, é esperteza eleitoral – o melhor é não duvidarem de que fazem tudo para realizar o sonho. Um combate direto em returno é tudo que realmente querem. Até por instinto de sobrevivência eleitoral.

Raimundo Salles, Paulinho Serra e Ailton Lima correm no vácuo dos dois favoritos que pesquisas informais apontam como estrelas de um espetáculo eleitoral que está longe de sequer fazer cócegas em algo relativamente glamoroso. As eleições desta temporada em Santo André e em todos os endereços nacionais são uma espécie de democracia interrompida, com série de restrições financeiras e escândalos federais. Será um salve-se-quem-puder que deverá amontoar irregularidades em financiamentos espúrios, como já se tem apontado.

Raimundo Salles, Paulinho Serra e Ailton Lima fazem de tudo para chegar ao segundo turno. Eles se reconhecem entre seus pares mais próximos que estão no segundo pelotão da disputa.  Não interessa a cada um deles se a vaga que se pretende ocupar seria a do petista Grana ou do socialista Aidan, atual e ex-prefeito. Todos estão confiantes de que, passada essa etapa, a segunda será barbada. Os níveis de rejeição de Carlos Grana e Aidan Ravin seriam danosos numa segunda etapa.

Travessia complicada

Aílton Lima, Paulinho Serra e Raimundo Salles comungam a mesma opinião – quem passar pelo primeiro turno vai chegar lá. Entenda-se por chegar lá o desafio de administrar uma Prefeitura que deve acumular ao final da temporada passivo de prováveis R$ 500 milhões com fornecedores em geral. 

Sim, tudo isso é uma senhora pedalada ditada pela estupidez generalizada dos gestores municipais, estaduais e federais de que o dinheiro arrecadado com impostos de todos os tipos continuaria a jorrar nos cofres públicos como nos tempos de fartura importada dos chineses. Tempos do presidente Lula da Silva que o mesmo Lula da Silva tratou de interromper e a sucessora Dilma Rousseff, a insuperável, botou tudo a perder de vez.

Na bolsa de apostas de observadores supostamente neutros, tem-se como potencial qualquer resultado que coloque um dos três integrantes do segundo escalão eleitoral na etapa final. Aidan e Grana, por conta da memória eleitoral, mesmo que no contrapé de significativos passivos de quem já saiu na chuva e se molhou bastante, não seriam abalroados. A matemática os salvaria.

Faço parte da turma que entende que Aidan e Grana vão para o returno, no qual haveria uma briga de foice no escuro. Eles colecionam problemas que não seriam escamoteados na segunda rodada de votos. Hoje há tolerância discursiva das duas partes. Aidan e a Grana evitam troca de agressões verbais. Eles sabem que a tática abriria brechas a um dos três concorrentes que não colecionam tanta objeção do eleitorado -- mesmo quando se somam os índices de rejeição a eles.

Rejeições gigantescas

A multiplicação estridente de quem não quer votar no petista e no socialista é maior que a soma dos que pretendem votar nos três candidatos suplementares. Isso significa que num eventual segundo turno contra Salles, Paulinho ou Ailton, a tendência de Grana ou Aidan dançar é enorme. Quem tem rejeição demais não pode dar sopa para a falta de sorte. (o antônimo de sorte eu não pronuncio nem escrevo de jeito nenhum).

Contra Aidan Ravin pesam as estripulias do mandato encerrado em 2012, principalmente no campo da ética e da moralidade. A juíza da 2ª Vara Criminal de Santo André não o colocou no topo de um time inteiro de réus no escândalo do Semasa porque tenha alguma restrição à fonética do nome do ex-prefeito e tampouco condena o que seria falta de criatividade de parturientes que decidiram batizar seus filhos em homenagem ao médico que as atendeu. Há meninos de nome Aidan na praça em número suficiente para ruidosas manifestações.

Contra Carlos Grana pesam sobretudo as roubalheiras petistas apontadas pela Operação Lava Jato. A uniformidade programática do PT, antes uma virtude, tornou-se um fardo. A indivisibilidade petista atinge duramente todos que se utilizaram da massa de votos doutrinados pela cartilha de mudanças sociais e valorização das estatais. As mudanças sociais se esfarelam (cadê a classe média que os marqueteiros petistas inventaram e a imprensa conservadora, como eles chamam os jornais e emissoras de TV não alinhadas a seus propósitos, compraram acriticamente?) e as estatais viraram redutos de propinas e incompetências.

Carlos Grana faz uma administração que oscila entre o sofrível e o lamentável – como seus antecessores a partir da morte de Celso Daniel – mas nem isso é levado em conta de forma prevalecente nestas alturas do campeonato. Pesam as tranqueiras acumuladas da Lava Jato e também passou a pesar as fanfarronices do ex-presidente Lula da Silva, após ser denunciado pelos procuradores federais. 

Por sorte tanto de Carlos Grana como de Aidan Ravin não existe campanha eleitoral de massa na região. Faltam emissoras de TV aberta e sempre faltarão porque as condições técnico-topográficas não permitem. Uma retransmissora da Rede Globo, por exemplo, como se tem na Baixada Santista e em tantas regiões do Estado de São Paulo, poderia fazer a diferença ao regionalizar a programação. O trio de candidatos que pretendem chegar ao segundo turno não alcança o território que esperam governar nem mesmo se meterem sebo nas canelas. São muitos domicílios a lhes abrir as portas e o coração sem ser alcançados.

Supondo que o leitor seja questionado sobre o nome que seria desalojado do segundo turno, entre Aidan e Grana, em quem apostaria? E quem ultrapassaria um dos dois e se meteria entre os finalistas do prélio?

Pense bem para não dizer bobagem. Mas como não dizer eventual bobagem agora que, como num passe de mágica, se transformaria em respeitável premonição em dois de outubro?  É um desafio e tanto fazer intervenção que una os dois pontos. Quem perderia espaço no segundo turno entre Aidan Ravin e Carlos Grana? Quem entre Raimundo Salles, Ailton Lima e Paulinho Serra se deslocaria à glória de um segundo turno?

Não tenho a menor convicção de que essa alteração seja possível entre outros motivos porque não disponho (e quem dispõe, me digam?) de pesquisas sérias que, mais que revelar dados atuais, desnudem a progressão numérica dos últimos meses a indicar consolidação de candidaturas.

Sim, porque números frios observados sob o imediatismo do aqui e agora não são garantias de que quem lidera ou quem ocupe o quarto lugar está com posição definida no primeiro turno. O que mais importa mesmo é uma linha do tempo dos resultados. Quem avança progressivamente e quem cai ostensivamente? Isso faz a diferença.

Capital bem diferente

São Paulo de mídias de massa só define os finalistas do primeiro turno quando a TV entra em campo. Tem sido assim nas últimas eleições, com grandes reviravoltas.

Possivelmente se houvesse um conjunto de resultados de pesquisas eleitorais dos últimos quatro meses, os dados poderiam sugerir o que é o mais provável: em municípios como os que integram a periferia da Região Metropolitana de São Paulo, eclipsados por uma Capital centralizadora da mídia de massas, o movimento dos números reproduz a imagem de um coração saudável, sem grandes solavancos. E sequer emergem números que caracterizem algo traiçoeiro com as águas do São Francisco. Não há redemoinhos a engolfar a marcha das intenções de voto quando se está nas fraldas metropolitanas. 

O eleitorado da região é previsível na evolução da preferência eleitoral. Não seria, portanto -- exceto com o advento de um caso de estrondosa repercussão na mídia nacional -- cutucado por ações e incursões menos ortodoxas. O esvaziamento e a consolidação de candidaturas se dão com vagar, numa construção tijolo por tijolo num desenho lógico. Paulinho, Salles e Ailton sabem disso mas não podem perder a esperança de que alguma coisa possa beneficiá-los como um todo e, também, particularmente mais a um do que aos demais.



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