Política

Manente vai esconder apoio
do PT no segundo turno, claro!

DANIEL LIMA - 26/09/2016

Há tanta certeza de que o tucano Orlando Morando e o socialista Alex Manente vão disputar a Prefeitura de São Bernardo no segundo turno quanto a garantia de bastidores de que a cúpula do PT do virtualmente derrotado Tarcísio Secoli já escolheu quem vai apoiar. Alex Manente, claro, é o preferido. Resta saber qual será o comportamento dos eleitores petistas e também dos eleitores de Alex Manente que não toleram o PT. Esses últimos se deslocarão para a candidatura de Orlando Morando ao se sentirem traídos com a mensagem opositora de Manente por conta do voto pelo afastamento de Dilma Rousseff?

Certo mesmo é que o informal acerto será envergonhado e dissimulado. Caso contrário, seria público e notório. Quem quer publicamente o baixo peso positivo e o elevadíssimo peso negativo do PT como ingredientes de jornada?

Quem numa operação matemática ou aritmética simplória considera que bastaria somar os votos do primeiro turno de Alex Manente aos de Tarcísio Secoli para sacramentar a derrota de Orlando Morando não entende de politica e de eleições. Nem sempre a soma das partes quanto há passionalidade e racionalidade eleitorais em jogo desemboca em resultado ditado pela ciência dos números. Tanto é verdade que vem o aporte petista a Alex Manente sem qualquer formalidade e, se puderem, de forma bastante dissimulada. Até mesmo transferindo maliciosamente ao candidato tucano eventual abacaxi de parceria com os petistas.

O que o PT de Luiz Marinho, o incompleto, mais quer nas eleições deste domingo é consumar um percentual expressivo de votos válidos. Seria o suficiente para cacifar as negociações com Alex Manente no segundo turno. Chegar desmilinguido ao final do primeiro turno seria o sepultamento temporário do petismo em São Bernardo.

Estratégia diferente

A estratégia dos petistas é, portanto, diferente da estratégia de Alex Manente em 2008, o qual entregou a rapadura a Luiz Marinho na reta de chegada do primeiro turno para evitar que Orlando Morando chegasse à frente e ganhasse força moral no segundo turno.

Desta feita os petistas querem registrar muitos votos, certos de que já estão fora da disputa num segundo turno incontornável, mas também convictos de que não podem dar vexame numérico. 

Para um partido que pretendia fazer do segundo mandato de Luiz Marinho uma ponte direta à reeleição de um novo petista e a construção de passarela ao Palácio dos Bandeirantes, o que teremos será melancólico. Seja qual for a votação de Tarcísio Secoli. Fala-se no máximo de 20%. Será que alcançará esse percentual?

Não se deve esperar, portanto, que acordo já firmado entre petistas e socialistas seja divulgado oficialmente aos quatro cantos. Quem vai tratar de disseminar essa operação clandestina é Orlando Morando. Afinal, é o que lhe convém como alavancagem especial a eventual vitória no returno.

Macropolítica em jogo

O tucano não tem dúvidas de que haverá conjugação de esforços da centro-esquerda para derrotá-lo no segundo turno. A macropolítica dita as regras do embate que virá. Os petistas não querem ver o berço que os embalou tomado novamente pelos tucanos. Seria um castigo duplo -- além de perder a cidadela símbolo do partido também teria de assistir a invasão do adversário mais criticado.

Basta a petulância de Orlando Morando nas últimas eleições a deputado estadual. Ele enfrentou os três petistas de São Bernardo que se candidataram e se elegeram, mas que foram surrados inclusive na soma dos votos. Luiz Fernando Teixeira, Ana do Carmo e Teonílio Barba comeram poeira de um adversário que chegou em terceiro lugar na classificação final dos mais votados no Estado de São Paulo. Não fossem os votos fora de São Bernardo o trio petista teria descarrilhado.

Alex Manente concorreu em outra raia, a deputado federal, e também perdeu para Orlando Morando em São Bernardo, mesmo sem ter tantos adversários diretos da cidade. Tudo bem que a sensatez indica que não se deve afirmar que Orlando bateu Alex nas disputas proporcionais. Afinal, eles não se cruzaram na mesma raia e muitos eleitores escolheram a dobradinha para representar São Bernardo nos dois parlamentos.

Dei uma forçada de barra interpretativa apenas para botar fogo na canjica da rivalidade entre os dois. Mas ninguém contesta que era pouco provável antes daquelas eleições e diante do contexto que Orlando Morando contabilizasse mais votos em São Bernardo do que Alex Manente. As condições eram amplamente favoráveis ao campo aberto para Alex Manente nadar de braçadas.

Culpa no cartório

Ainda outro dia, utilizando-se da engenhosidade tática que o caracteriza, o ex-prefeito William Dib, em outros tempos tucano para valer, proporcionou manchetíssima típica de quem quer confundir o eleitorado. Dib chegou a afirmar – e o jornal a comprar a informação como verdade indiscutível – que Orlando Morando seria espécie de sublegenda do PT. Ou seja: um candidato que teria, caso vá ao segundo turno e o PT não, todo o suporte dos avermelhados.

As afirmações de William Dib não teriam obtido credibilidade no mercado de votos mais conscientes se não utilizasse como argumento uma verdade quase completa. Ele declarou que ao longo do mandato de Luiz Marinho em São Bernardo o deputado estadual Orlando Morando praticamente não fez a oposição desejada e aspirada pelos eleitores que não querem ver o PT nem pintado de verde e amarelo. 

É claro que William Dib deixou de dizer que Alex Manente foi ainda muito mais indolente com os petistas, quando não parceiro: além de poucas vezes manifestar-se criticamente sobre a gestão de Luiz Marinho, colocou a inexpressiva bancada de seu partido no Legislativo local a lamber as botas dos petistas.

Aliás, o próprio ex-prefeito de São Bernardo não patrocinou embates de destaque com os petistas que, por meio do jornal oficial das esquerdas na região, o ABCD Maior, não lhe pouparam críticas e denúncias, para depois se acomodarem.

Um fio condutor

Os estrategistas de Orlando Morando não antecipam a linha de atuação num segundo turno mais que próximo. Entretanto, é certo que a conexão entre petistas e Alex Manente será o fio condutor de medida providencial à definição de votos de indecisos ou mesmo de eleitores mais flexíveis à troca de nome escolhido no primeiro turno.

Colar em Alex Manente a pecha de petista enrustido, ou de socialista com um pé no petismo, poderia ter o efeito de metástase eleitoral dado o estado quase vegetativo dos herdeiros de Lula da Silva. 

O PT vive a síndrome de Gení da política brasileira, mesmo quando se sabe que o modus operandi multipartidário não tem característica de uma meretriz solitária numa esquina qualquer, mas sim de bordel concorridíssimo no entorno do poder.

Certo mesmo é que o embate entre Alex Manente e Orlando Morando num segundo turno na terra que viu brotar o petismo significará -- noves fora quem conseguir emplacar no adversário a pecha de avermelhado -- uma nova onda de desgaste ao Partido dos Trabalhadores.

Se já não fosse suficiente tudo o que se tem visto e ouvido nos últimos tempos, desde que o Petrolão sucedeu ao Mensalão, uma rodada extra de negação ao petismo temperada de novas saraivadas de críticas terá efeito suplementar desestabilizador ao que restar do partido no Município. O efeito contaminador vai durar muito tempo e terá repercussão na disputa presidencial de 2018, entre outros estragos.

Medindo os estragos

Os marqueteiros de linha de frente de Orlando Morando e de Alex Manente já devem contar com a métrica de rejeição do eleitorado de São Bernardo ao PT de Luiz Marinho, o incompleto, e de Tarcísio Secoli, o inviável. Trata-se de passivo elevadíssimo que aumenta a sensibilidade à adoção de iniciativas de aproximação com os petistas.

Na Capital de Fernando Haddad chega a 47% os eleitores que não querem saber do PT. Luiz Marinho, o incompleto, provavelmente sofre menos dores, beneficiado tremendamente pela escuridão midiática que rege a vida regional.

A ausência de mídia de massa tanto prejudica os administradores públicos competentes quanto beneficia os administradores públicos aos quais os eleitores dedicam rezadeiras para que encerrem mandatos o quanto antes.  

No caso de Luiz Marinho, o incompleto, o PT acaba por lucrar com a penumbra tecnológica de massa. Não que o petista tenha administrado São Bernardo com a destreza de macaco em cristaleira. Não é isso. O problema de Luiz Marinho, o incompleto, é que ele atuou durante oito anos como cópia do treinador Cristóvão Borges no Corinthians, até ser demitido: o time jogava relativamente bem apenas um tempo de cada jogo, apenas um tempo de cada jogo.

Luiz Marinho foi bem no primeiro tempo do jogo, nos quatro anos de primeiro mandato de muito dinheiro federal na parada, mas se deu mal no segundo tempo, do segundo mandato, quando o dinheiro ficou curto por conta do estouro da economia e dos escândalos da Petrobras.

Daí, Luiz Marinho tornar-se incompleto. Como Dilma Rousseff tornou-se insuperável por motivos que não exigem explicações e que os petistas do Brasil inteiro, embora evoquem o fantasioso golpe, tanto lamentam.



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