Política

Eleições na Província: saída
disponível é a especulação

DANIEL LIMA - 29/09/2016

As eleições municipais que se disputam neste domingo na Província do Grande ABC são um terreno fértil a especulações. É impossível nestas alturas do campeonato consolidar certezas. Falta o principal a qualquer tipo de projeção de resultados: pesquisas eleitorais confiáveis. Esse é um dos pontos mais importantes ao processo analítico de tentar levar aos leitores um pouco de luz sobre o que poderemos viver na região em matéria de voto.  Estamos entregues às trevas -- ou a algumas frestas de luminosidade a exigir coragem para correr riscos.

São nada menos que 50 candidatos espalhados pelos sete municípios em busca dos respectivos paços municipais. Mas apenas um terço desses competidores tem condições de chegar à vitória neste dois de outubro – ou então avançarem ao segundo turno.

Os leitores encontrarão na sequência alguma coisa com que possam contar como agregado de valor para compreender o que se passa no cenário político regional excessivamente embaçado pelas circunstâncias e também pelo contexto histórico.

O que parece mesmo uma certeza sólida é que as urnas eletrônicas deverão parir uma Província do Grande ABC ainda mais preocupante -- pela simples razão de que a cada nova fornada de vencedores e perdedores, mais nos distanciamos de um conjunto de medidas que poderiam reverter o estado de degringolada econômica da qual nos afastamos apenas circunstancialmente em breves períodos nas três últimas décadas.

Somos uma região institucionalmente aparvalhada, dividida em sete partes, um quebra-cabeças sem inteligência e comprometimento social. Vamos, agora, a algumas projeções:

PT vai sofrer primeira derrota

Pela primeira vez neste século o Partido dos Trabalhadores vai sentir as dores de as urnas eleitorais em disputas municipais contrariarem os planos do controle político regional. Os votos avermelhados serão bem inferiores aos votos azulados e assemelhados. A devastação econômica do governo Dilma Rousseff faz mais estragos nas urnas do que as também fortíssimas ondas de descrédito do PT no âmbito político, com o escândalo da Petrobras e a atuação da Operação Lava Jato. Outras agremiações não escapam à inclemência do eleitorado, mas o protagonismo federal do PT será proporcionalmente mais doloroso nas manifestações das urnas.

Votos sucateados vão explodir

Votos nulos, votos em branco e abstenção de eleitores deverão elevar em pelo menos 20% os níveis de votos sucateados nestas eleições em relação aos 29% das últimas disputas municipais. Votos sucateados são votos que não se contabilizam a qualquer um dos 50 candidatos às prefeituras da região. Teremos em torno de 35% de votos sucateados quando se consumarem as preferências dos eleitores ao final da tarde de domingo. Haverá oscilações numéricas entre os municípios. São Caetano jogará no lixo menos votos que Santo André, por exemplo.

A influência do 45 de Dória

Os eleitores da Província do Grande ABC são vítimas da zona cinzenta da mídia de massa. Principalmente nestes tempos de eleições atípicas, resumidas a 45 dias de campanha com enormes restrições de financiamento. Esses obstáculos estimularão aderência psicológica à campanha eleitoral em São Paulo. É possível que o 45 de João Dória favoreça em alguma porção os demais 45 na região. Nesse caso, José Auricchio Júnior (São Caetano), Paulinho Serra (Santo André) e Orlando Morando (São Bernardo) seriam beneficiários diretos de um contexto cultural metropolitano que não pode ser desprezado. Quem acredita que há separação tácita entre a Província do Grande ABC e Capital desconhece que um quarto da população economicamente ativa da região se desloca diariamente à Capital. É impossível ser cidadão exclusivamente municipalista ou em alguma porção cidadão regional sem considerar uma terceira dimensão de viver e trabalhar na Grande São Paulo – a cidadania metropolitana se manifesta em diferentes atividades.

A barulheira viciada das redes sociais

As redes sociais são uma ferramenta incrementadora de dúvidas e certezas numa região em que a ausência de mídia de massa coloca fogo no combustível de especulações e idiossincrasias. Mas as redes sociais não são nem dimensionadas nem avaliadas com o suporte técnico esperado para fornecer juízos de valor distantes de partidarismos. A via de mão única de cada candidatura, principalmente de hostilidade ao adversário mais ameaçador, torna a disputa na raia digital autêntico campo aberto de uma batalha pela conquista de um eleitorado sobre o qual não se tem garantias de que será de fato anexado como reserva de valor que se manifestaria nas urnas eletrônicas. As redes sociais de vocalização unilateral são tão importantes quanto nebulosas a interpretações que não corram risco de se tornarem patetices.

Municipalismo abalroado

A temática municipalista jamais terá peso inferior a qualquer outra possibilidade de doutrinação do eleitorado, mas, especialmente nestas disputas de escândalos federais graves, é certo que o voto com viés extra Município terá muita influência à definição dos eleitores. Basta ver o quanto o PT está a acusar sofrimento. É claro que não interessa a determinados candidatos dar corda a essa assertiva. Mas nada disso vai adiantar. Principalmente em áreas metropolitanas, o voto municipalista se esgarça senão de forma comprometedora, mas com força suficiente para ajustar determinadas candidaturas, tornando-as viáveis ou inviáveis.

Pesquisas que só confundem

Faltam pesquisas eleitorais minimamente sólidas como âncora a avaliações das possibilidades dos candidatos nos sete municípios da região. Existe abundância de sondagens de origem duvidosa ou de marcas corporativas sujeitas a chuvas e tempestades de manipulações. Pesquisas eleitorais com quatro ou cinco pontos de margem de erro devem ser sumariamente desclassificadas como massa técnica de análise.

Forçando a barra do estimulado

Há contingente de eleitores que não se decidiu por nenhum dos candidatos, mesmo após a apresentação do cartão de voto estimulado. Se resistem a essa etapa em que os entrevistados são colocados contra a parede pelos pesquisadores, tudo indica que o quadro é mais complexo do que parece. Há muito voto estimulado que não suporta um aperto de boca de urna ou de uma conversa um pouco mais duradoura com familiares e amigos. Essa permeabilidade fomenta estado gelatinoso que fragilizaria os números de votação.

Segundo turno em quatro cidades

Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá devem contar com eleições em segundo turno, unindo-se o circunstancial da realidade política de cada Município ao obrigatório da legislação eleitoral. São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra terão apenas um turno por força da mesma legislação.

Rezando contra segundo bloco

Aidan Ravin e Carlos Grana vão rezar muito para se classificarem ao segundo turno em Santo André. Se der uma das três alternativas do chamado segundo pelotão, tudo pode ir para o baleléu. O nível de rejeição aos dois candidatos, expostos aos rigores do despreparo para dirigir um Município que vive do passado de glórias, elevou às alturas o distanciamento do eleitorado.

Divisão pode eleger dupla rejeitada

É possível que Carlos Grana e Aidan Ravin obtenham o passaporte para o turno final mesmo com votação pífia, menor que a soma de rejeição do eleitorado. Para tanto, basta que os três principais concorrentes do segundo batalhão (Paulinho Serra, Ailton Lima e Raimundo Salles) façam disputa acirradíssima entre si. É preciso que um desses concorrentes salte à frente nas urnas para deslocar Aidan Ravin ou Carlos Grana da etapa final. A matemática eleitoral é cruel. Quem parte e reparte e não fica com a maior parte, é burro ou não entende da arte.

Quem passará pelo funil?

Qualquer um desse trio que passe para o segundo turno contra Aidan Ravin ou Carlos Grana tem enormes possibilidades de administrar Santo André por quatro anos a partir de janeiro do ano que vem. Nenhum deles tem passivo eleitoral semelhante ao do atual e do ex-prefeito. O poder lubrifica a memória eleitoral, mas também intensifica objeções.

Desprezando berço petista

Tarcísio Secoli vai sentir na pele em São Bernardo o quando custa a queda do prestígio do PT. Há pesquisas feitas às escondidas cujos resultados são reveladores nas entrelinhas. Tarcísio Secoli brada nas ruas os feitos do prefeito Luiz Martinho, mas evita pronunciar a identidade formal do partido que representa. Prefere proclamar o número que quer ver digitado nas urnas. Esse comportamento seria um forte indicativo de que pesquisadores garimparam no campo de batalha de cada voto resultado desastroso ao petismo -- mesmo na terra em que a agremiação foi criada.

Chegar em primeiro é melhor

Orlando Morando e Alex Manente fazem disputa especial neste primeiro turno. Não basta irem para o mais que compulsório segundo turno diante do esfacelamento da candidatura do petista Tarcísio Secoli: os dois jovens sonham mesmo é com o primeiro lugar, espécie de mola propulsora à vitória final. Quem chegar em primeiro contará com vantagem estratégica ao arrebatamento do eleitorado que, no primeiro turno, optou por outras alternativas.

Ajustamento complicado

A tendência de ajustamento de votos entre petistas e Alex Manente não é uma ardilosa argumentação para contaminar o eleitorado mais de centro-direita em favor de Orlando Morando num eventual segundo turno. Alex Manente e o PT sempre foram muito próximos. A possibilidade de juntarem os interesses no provável returno reforçaria a campanha do deputado federal, mas um contragolpe do tucano poderia ser fatal. Afinal, quantos eleitores menos convictos de Alex Manente poderiam deixar a embarcação num segundo turno quando constatarem o alinhamento do candidato aos petistas? 

Um Palacio sob medida

A possibilidade de José Auricchio Júnior voltar ao comando do Paço de São Caetano corre na mesma raia do emagrecimento do potencial de crescimento na reta final da Fábio Palacio e, tangencialmente, dos demais candidatos de blocos menos cotados. Há limites eleitorais aparentemente insuperáveis tanto para o ex-prefeito José Auricchio como ao atual, Paulo Pinheiro. O peemedebista eleito há quase quatro anos precisa do reforço de Fábio Palacio para sustentar probabilidade de vitória. Pesquisas dariam suporte à tendência de que Fábio Palacio retiraria mais votos de Auricchio do que de Pinheiro. Tradução: Fábio Palacio não ganha, mas pode manter Paulo Pinheiro no poder. Estaria, assim, consumado um projeto paralelo que teria nascido na própria cúpula do atual prefeito. Palacio seria uma versão de esperteza de sublegenda peemedebista. Os votos que amealhar não serão somados aos do atual prefeito, porque a legislação não permite, mas seriam extraídos do principal opositor, José Auricchio. Uma jogada de mestre como a que elegeu Paulo Pinheiro há quatro anos com dinheiro do PT como pano de fundo.

Dois modelos de rejeição

A propalada montanha de rejeição que estaria a demarcar a gestão de Lauro Michels em Diadema rivaliza-se com a penúria petista de Manoel Maninho. Talvez por conta disso a corrida eleitoral seja levada ao segundo turno, desde que os candidatos menos visíveis penetrem no vácuo dos dois mais fortes concorrentes. Há tantas informações conflitivas sobre o ambiente eleitoral em Diadema, com prós e contras entre os dois principais candidatos, que o melhor mesmo é aguardar a abertura das urnas. Parece pouco provável que, admitindo-se o desencanto de grande parte do eleitorado com a Administração Lauro Michels, os números não lhe sejam menos indigestos do que os passivos petistas. Mas há um contraponto que precisa ser levado em consideração: a cultura esquerdista de Diadema que, desde 1982, só foi derrotada uma única vez nas eleições municipais, justamente por Lauro Michels, é um patrimônio que até mesmo uma Lava Jato não destruiria a ponto de inviabilizar o retorno de um representante do espectro ao Paço Municipal.

Um jogo de passivos

O prefeito petista de Mauá, Donisete Braga, esforça-se para levar a disputa ao segundo turno contra um Atila Jacomussi, deputado estadual, que está longe de ser uma novidade na política local. Muitos oposicionistas lamentam ausência de concorrente que tivesse paralelismo com João Dória em São Paulo. Fosse esse o enredo, o desgaste do PT faria de Donisete Braga algo semelhante ao resultado do atrito dos pneus de um carro possante numa estrada de terra batida. Haveria indicativos de que Atila Jacomussi, apesar dos pesares, teria menos rejeição do que Donisete Braga, mas nada tão significativo a ponto de cravar vitória no primeiro ou no segundo turno. A batalha em Mauá parece menos aflitiva ao petista Donisete Braga do que a Carlos Grana em Santo André.

Tudo pode acontecer

Em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra tudo pode acontecer – ou nada pode acontecer. Faltam dados básicos que possam ser observados com alguma atenção.



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