O PT (Partido dos Trabalhadores) definitivamente não é mais o mesmo. A legenda nascida do combativo movimento sindical e que hoje ocupa a Presidência da República acaba de estabelecer as bases para um plano nacional que pretende adensar o quadro associativo com — acreditem! — empresários. A classe vista como encarnação do mal nos primórdios do partido, quase 25 anos atrás, virou nicho prioritário de prospecção política.
Um dos primeiros comitês municipais de empresários militantes e simpatizantes foi lançado em Diadema, a primeira cidade brasileira administrada pelo partido, em 1982, e onde o envolvimento incomum entre poder público e empresários mereceu até reportagem de capa de LivreMercado, em março de 2002. Com uma dezena de empreendedores, o grupo é a semente de um projeto ambicioso projetado para todo o País.
“Pretendemos envolver 20 mil empresários dos 27 Estados” — vislumbra o coordenador José Carlos de Almeida, que participou da fundação no Ciesp de Diadema ao lado de militantes como o vice-prefeito Joel Fonseca e de empreendedores como Carlos Marques, diretor de empresa especializada em pigmentos para o setor plástico que assumiu a coordenação do núcleo.
Dirigentes do PT afirmam que a iniciativa vai estabelecer canal direto de comunicação entre empresários de todo País e o governo Lula, e também com outras instâncias municipais e estaduais. Por isso, o fato de a estratégia tomar forma pouco antes das eleições municipais seria mera coincidência embora o projeto contemple apoio político e material ao partido. “Em que pese o momento eleitoral, o comitê de empresários vem para ficar porque significa a inserção definitiva do partido em um segmento muito importante da sociedade” — considera Joel.
Outros tempos
José Carlos de Almeida fez breve incursão histórica para reforçar a necessidade de arregimentar representantes do capital. Disse que no passado poucos empresários se atreviam a apoiar o PT publicamente — sem citar que esse distanciamento se devia ao caráter discriminatório do próprio partido —, mas que nos últimos anos a situação mudou com a convergência de interesses entre os petistas e o universo empresarial. “Resolvemos institucionalizar a participação” — sintetiza.
O empresário Lawrence Pih foi pioneiro no apoio explícito ao PT nos tempos em que o partido ainda despertava temores como o simbolizado no polêmico alerta de Mário Amato, então presidente da Fiesp, de que milhares de industriais bateriam em retirada do País se o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva vencesse a eleição de 1989. “Se não nos organizarmos para interagir em bloco com o governo, a culpa é toda nossa” — conclamou, depois de defender a política econômica do governo Lula. “Com uma dívida interna de R$ 1 trilhão, equivalente a quase 60% do PIB, não é possível reduzir o juro drasticamente nem aliviar o superávit primário (recurso economizado pelo erário para pagar dívidas) porque é preciso manter a confiança dos investidores dos quais o governo depende para se financiar” — sintetizou Pih, que também atacou o modelo de privatização adotado pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso. “Quem disse que a energia elétrica deveria ser corrigida pelo dólar, se a água e a mão-de-obra não são dolarizados?” — questionou o empresário, para quem o engano é resultado da privatização feita às pressas.
Pih também apontou as vulnerabilidades que drenam a competitividade do País. Disse que reforços adicionais na carga tributária que já atinge 40% do PIB vão varrer do mapa empresas de médio porte. “Sobreviverão de um lado as grandes monopolistas que podem repassar impostos e, de outro, as pequenas que driblam a tributação” — sentenciou. É para compartilhar responsabilidades sobre questões como essas que o PT está se aproximando da classe que Karl Marx — o lendário autor da Bíblia comunista O Capital — enxergava como alvo do que chamou de revolução do proletariado. Os comitês de empresários já foram lançados em nove cidades, incluindo Diadema.
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