Política

Erros petistas servem de lições
aos conservadores da Província

DANIEL LIMA - 04/10/2016

Antes que qualquer maluco da Imprensa regional se lançasse à fogueira dos diabos especulativos (na realidade, não temos malucos na Imprensa regional, só gente muito comportadinha, mas muito comportadinha mesmo) escrevi em 15 de junho deste ano sobre as possibilidades do PT nas eleições municipais.  O título daquela avaliação antecipou tudo que vinha na sequência em forma de texto: “PT corre o risco de não contar com um prefeito sequer em 2017”. Quem acha que foi cartomancia ou algo assemelhado deveria ler os primeiros parágrafos daquele artigo. Vou reproduzi-los. Leiam: 

  A batalha está praticamente perdida em São Bernardo. Em Diadema, mais perdida do que ganha. Em São Caetano, nem mais com Paulo Pinheiro como cavalo de Troia. Em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, praticamente sem possibilidades. Sobram Santo André e Mauá, principalmente porque a oposição não é lá essas coisas – embora também não seja coisa nenhuma. Esse é o retrato apressado, confesso, das perspectivas do PT nas eleições de outubro próximo.

Como podem constatar os leitores, é preciso mesmo ser muito louco (ou bem informado, ou com alguma capacidade de percepção social, ou totalmente independente, ou qualquer outra coisa, ou mesmo todas essas alternativas, menos ser burro) para, quatro meses antes, cantar a caçapa do cenário eleitoral.

Agora, se acham que estou dando uma de bambambã só porque acertei na mosca, estão muito enganados. Parem de me puxarem o saco, se querem saber.

Estava tão na cara, mas tão na cara que o PT iria se trumbicar na Província do Grande ABC que somente o amordaçamento crítico da mídia, por alguma razão, impediria manifestação sobre o que o futuro estava a reservar. 

Vitórias obrigatórias

Transformando tudo isso em miúdos: não cumpri mais que a obrigação de informar aos leitores sobre o andar da carruagem das eleições na Província do Grande ABC ao sugerir os resultados que se confirmaram. Estou tão solitário na praça jornalística a escrever o que penso sem medir consequências (no sentido analítico da expressão, não abusivo como alguns poderiam deturpar o enunciado) que às vezes preciso de automotivação para não cair no marasmo da quase totalidade dos jornalistas locais. Um dia conto como se dá o processo de automotivação jornalística numa região tão estéril de liberdade de expressão.

Agora temos apenas dois segundos turnos programados com  candidaturas petistas -- na Santo André de Carlos Grana e na Mauá de Donisete Braga. São os prefeitos que restam ao. E pelo visto não restarão quando as urnas de 30 de outubro forem abertas.

É preciso que Atila Jacomussi e Paulinho Serra sejam muito incompetentes na configuração de ações para deixarem escapar a oportunidade de vitórias.

Tudo está a indicar que, se a situação já está para lá de Bagdá para os petistas de maneira geral, se tornará ainda mais periclitante. O cronograma de novas revelações da Operação Laja Jato será ainda mais danoso ao partido que ampliou a coalizão partidária a partir do escândalo do Mensalão com fórmula de sobrevivência. 

Ecumenismo com viés

O ecumenismo de corrupção do governo federal, com rescaldos regionais que a Lava Jato não tem pressa a esclarecer por questão de prioridade, penalizou mais duramente o PT. Goste-se ou não, o PT atuava como cabeça de ponte das operações. Mesmo quando não dava a impressão de que estava de fato.

Nesse caso, o comando era meio fantasma, porque compulsório. Ou melhor: tudo corria leve e solto no piloto automático. Havia sinais exteriores de maracutaias mas a Imprensa, de maneira geral, até então se colocava como espectadora privilegiada, sem fome questionadora ou mesmo investigativa. Até porque denúncias podem significar mais dores de cabeça aos jornalistas do que aos delinquentes. Sou prova provada disso.

Donisete Braga fez uma administração em Mauá que se situa em termos administrativos acima da média dos antecessores, excluindo-se, é claro, o metralhamento por supostas irregularidades sobre as quais, por não ter informações mais completas e por desconfiar de alguns vieses, prefiro não emitir juízo de valor.

Só pelo arredondamento da até então impagável e inegociável dívida com o governo federal, com a sagração de um acerto geral que deu fôlego a investimentos do Município, já teria valido a pena o mandato de quatro anos do petista.

Já Carlos Grana, em Santo André, seguiu trilha conhecida de guerra: sobraram projeções (Grana é o campeão disparado do ranking de Promessas e Lorotas desta revista digital) e escassearam soluções. A atenuar o desastre administrativo do petista, que segue rota do passado em que Santo André  desidratou-se como viveiro industrial, está o encalacramento econômico. O Município que um dia foi Capital Econômica do que era chamado por merecimento de Grande ABC perdeu o prumo e o rumo há muito tempo.

Mais fogo na canjica

Tenho cá comigo que, se fizerem o que têm de fazer -- e também porque a Lava Jato vai botar mais fogo na canjica de aniquilação do PT, tanto Paulinho Serra como Atila Jacomussi chegarão confortavelmente à vitória no final deste mês. Com isso, pela primeira vez desde a redemocratização, o PT passara em branco durante quatro anos como administrador de ao menos um dos municípios da região.

Trata-se de castigo mais que merecido porque em 13 anos de poder federal, cometeu série de barbaridades institucionais na região. Principalmente ao se fechar em copas e descartar a sociedade do processo  mal-ajambrado de reestruturação institucional e econômica regional.

O PT abusou nas tentativas de ludibriar o distinto público com série de enunciados que jamais se confirmaram. A acintosa atuação da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC), completamente descolada da realidade da Província, é um dos passivos mais escandalosos a assombrar a atuação do PT na região -- com responsabilidade compartilhada dos omissos, quando não bajulativos opositores, entre os quais, para variar, a própria mídia regional. 

Virada da biruta

Muito ainda vou escrever sobre os 13 anos de poder federal do Partido dos Trabalhadores e os reflexos regionais. O que posso antecipar é que a projetada supressão da agremiação de qualquer um dos paços municipais da região não pode ser vista como algo a ser festejado intensamente pelos vencedores, principalmente os tucanos, como fim de uma longa batalha.

Muito pelo contrário. Há uma montanha de complicações regionais a remover com vagar e sistematicamente. Como a biruta virou completamente e as perspectivas direcionam à leitura de que agora será a centro-direita a ditar as regras do desenvolvimento econômico do País, após os desastres da centro-esquerda estatizante e desmoralizante, os radares avaliativos precisam continuar ligados.

Tudo indica que, mesmo sem contar com um presidente com origem social e politica na região, como o PT de Lula da Silva, a Província do Grande ABC terá ramais sensibilizadores no governo do Estado e no governo federal. Resultado disso é que as demandas e exigências locais deverão ser intensas.

Os sete prefeitos da ala conservadora da Província do Grande ABC que deverão assinar termos de posse em primeiro de janeiro próximo não têm o direito  de sugerir que venceram uma grande etapa ao sufocarem o PT em seu principal e mais emblemático reduto.

A julgar que serão representantes de coalizão antipetista, o melhor a fazer, e de forma planejada, é entenderem que a Província do Grande ABC deve estar acima das combinações políticas e partidárias. Ou seja: precisam aprender com os erros dos outros.

Principalmente porque os outros são os petistas tão bons de combate quando opositores mas ruins de realizações quando no comando.



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