Política

Mais de um milhão de votos
ainda sem donos na Província

DANIEL LIMA - 05/10/2016

Há mais de um milhão de votos sem donos na Província do Grande ABC. Não ligo para isso a ponto de descartar uma decisão já tomada. Aposto nas vitórias de Paulinho Serra, Orlando Morando, Atila Jacomussi e Lauro Michels nos segundos turnos em Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema.

Dos quatro mais prováveis vencedores, conheço pessoalmente apenas dois. Dos possíveis perdedores, também conheço apenas dois. Quero dizer com isso que não há motivos pessoais, profissionais ou de qualquer outra origem para apontar os vencedores dos segundos turnos. Apenas senso crítico, que tem me custado muito caro, claro. 

Minhas apostas não têm necessariamente nada a ver com torcida organizada ou torcida disfarçada. São apenas transparência pública que muitos poderão chamar de corajosa, enquanto outros preferirão adjetivos menos nobres. Faz parte do jogo. Não concorro ao titulo de personalidade mais simpática do ano. Tampouco me preocupo com o oposto.

Dificilmente os resultados finais nos quatro segundos turnos das eleições municipais na Província do Grand ABC driblarão minhas apostas. Não desprezo os mais de um milhão de votos sem donos na região. Só não os considero suficientemente explosivos. Nem mesmo estão em combustão. 

Votos sucateados

São mais precisamente 1.088.297 eleitores que não votaram em nenhum dos oito finalistas, quer porque preferiram outros concorrentes, agora fora da disputa, ou então decidiram anular o voto, votaram em branco ou simplesmente não apareceram nas sessões eleitorais. Chamo esse estoque de votos sucateados. 

Não acho que essa montanha de votos vai dar novos rumos aos resultados do primeiro turno. Em condições normais de tempo e temperatura, tudo continuará como antes, ou seja, o segundo turno seria apenas homologatório do primeiro. Eventuais variáveis numéricas não sufocariam as premissas das urnas do primeiro turno. Quem dançou na primeira etapa dançará na segunda. 

Possivelmente os leitores ficaram surpresos com o mais de um milhão de votos sem donos nos quatro municípios. Também fiquei ao verificar mais de perto os resultados finais do primeiro turno em cada Município. 

Em Santo André está o maior buraco negro eleitoral. Nada menos que 67,14% dos eleitores habilitados não votaram nem em Paulinho Serra nem em Carlos Grana. Votos de verdade mesmo, com escolha de um dos candidatos que passaram para o segundo turno, foram apenas 187.168. Mais que o dobro disso -- 382.498 -- entendeu que a melhor resposta era uma das quatro alternativas já listadas – votos em branco, votos nulos, votos em outros candidatos ou simplesmente fugir das urnas. Ou seja: de cada 10 eleitores de Santo André que poderão ir às urnas no segundo turno, 6,7 não votaram nos dois finalistas.

Mais desperdícios 

Nos outros três municípios as proporções são relativamente inferiores, mas nem por isso desprezíveis. Muito pelo contrário. Em São Bernardo os dois finalistas não tiveram o suporte de 54,88% dos eleitores cadastrados. Orlando Morando e Alex Manente somaram 276.036 votos, contra 335.741 votos sucateados e passíveis de reciclagem. Em Mauá, Atila Jacomussi e Donisete Braga contabilizaram 127.573 votos válidos, contra 175.515 que se decidiram por uma das quatro opções elencadas. Ou seja: 57,91% dos votos disponíveis estão à espera de sensibilização. Um percentual semelhante ao de Diadema, onde 58,79% não votaram nos finalistas Lauro Michels e Vaguinho Feitosa. Eles somaram 136.368 votos, contra 194.543 que preferiram outros candidatos ou outras situações já expostas. 

40% de aproveitamento

O conjunto dos quatro municípios da região que vão ao segundo turno em 30 de outubro destinou apenas 727.145 votos aos finalistas. Isso significa 40,05% do eleitorado geral, que totaliza 1.815.442 pessoas. Praticamente 90% do total dos eleitores da Província do Grande ABC quando se contam os dados eleitorais dos municípios aos quais se reservou apenas o primeiro turno – São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. 

Como pode alguém fazer projeção de vencedores do segundo turno ante a possibilidade de parte relativamente pronunciada dos 59,95% eleitores que não optaram por nenhum dos oito finalistas decidir ir às urnas eletrônicas? Não seria muito arriscado dar tamanha oportunidade a transformações? Sucintamente vou tentar embasar minhas projeções neste momento eleitoral, com potencialidade de, diante de qualquer fato novo relevante, voltar à cena para correções de rota. 

PT escorraçado 

Basicamente o que move minhas convicções para prognosticar vitórias de Paulinho Serra, Orlando Morando, Atila Jacomussi e Lauro Michels é o estado quase vegetativo do eleitorado petista identificado de forma direta ou suplementar com os prováveis derrotados. O PT é uma cruz difícil de carregar, conforme provam os números nacionais. Nas regiões metropolitanas, então, é o mesmo que pedir para apanhar. Não há escapatória. Nem mesmo um bom prefeito como Fernando Haddad, que, entre outras iniciativas, teve a ousadia de mexer no vespeiro dos delinquentes do setor imobiliário, ficou imune à catástrofe. 

Donisete Braga e Carlos Grana, em Santo André, vão pagar o preço do desgaste petista tanto no campo da ética como, principalmente, no desmoronamento da economia do País. Alex Manente pagará o ônus de ganhar agora, oficialmente, o que já era mais que uma lógica: o apoio dos petistas comandados pelo prefeito Luiz Marinho. Como se já não bastasse ter chegado atrás de Morando no primeiro turno. E, em Diadema, Lauro Michels conta com a força da máquina pública de quem busca a reeleição, mesmo com elevada rejeição. 

O leitor mais impertinente (ou mais minucioso, ou mais detalhista, ou mais qualquer coisa) há de reiterar a viabilidade de mudanças no cenário político regional por causa dos votos supostamente sem donos. É verdade que existe alguma possibilidade de alteração de rota em relação às preferências expostas no primeiro turno, mas são precárias demais a ponto de promover grandes mexidas numéricas. 

Caçapa negada 

Gostaria de reservar mais espaço para comentar a oficialização do apoio do PT de São Bernardo a Alex Manente. A medida, anunciada hoje nos jornais de forma muito aquém do peso eleitoral que embute, só foi negada ao longo da temporada por quem acredita que é possível asfixiar evidências históricas. Ou por quem tem insensatez de elevar à condição de manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) uma bem articulada mas nem por isso factível manobra de um ex-prefeito, no caso William Dib, que, usando o poder de persuasão que o caracteriza, alçou Orlando Morando a mais que improvável aproximação com o petismo de Luiz Marinho. 

“Alex é PT” parece um mote destruidor da matemática simplória com que parece ter sido concebido o apoio dos petistas ao deputado federal. Esqueceram de combinar com os eleitores de centro e de centro-direita que, entre Alex e Orlando, preferiram o primeiro apenas como experimento para um segundo tempo passível de mudança de voto. Aliás, provavelmente o único caso de mudança de voto expressiva entre os finalistas da região.



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