Agora que a máscara da dissimulação caiu, até porque não haveria como não cair, agora que o PT derrotado nas urnas em São Bernardo decidiu aliar-se de forma ainda envergonhada a Alex Manente para tentar impedir que o tucano Orlando Morando vire prefeito, faço a seguinte pergunta: como ficam as projeções do resultado da disputa eleitoral na terra do ex-presidente Lula da Silva?
A contabilidade simplória de juntar aos votos do primeiro turno de Alex Manente os votos de Tarcísio Secoli, equação que significaria vantagem de 77.816 eleitores ante Orlando Morando, não passa pelo crivo do esmiuçamento teórico com elevada probabilidade de demolição prática.
Nem tudo que pareça soma inercial no mundo eleitoral se confirma compulsoriamente nas urnas. Há situações em que a soma das partes numa primeira escala se torna proporcionalmente menor que a soma das partes numa etapa posterior. Seria o caso desse ajuntamento entre as turmas de Manente e de Marinho?
Soma das partes?
Faço a seguinte pergunta: os votos somados no segundo turno de Manente e PT seriam inferiores aos votos somados por Manente e Tarcísio Secoli no primeiro turno quando confrontados com os votos de Orlando Morando?
Para entender um pouco a transformação de algo pressupostamente tão positivo para a candidatura de Alex Manente em algo redentor a Orlando Morando, contrariando portanto a anexação de eleitorados pretensamente semelhantes como o pulo do gato na disputa em São Bernardo, é indispensável juntar quatro peças do tabuleiro de explicações:
Os votos de Alex Manente.
Os votos de Tarcísio Secoli.
Os votos de Orlando Morando.
Os votos sem dono.
A aproximação entre as cúpulas de Alex Manente e dos petistas comandados por Luiz Marinho transformou o que supostamente seriam votos consolidados dos dois concorrentes no primeiro turno em votos voláteis no turno extra. Os votos endereçados a Orlando Morando seguem cristalizados, com alto grau de fidelidade.
Os votos que não foram direcionados a nenhum dos três candidatos no primeiro turno podem, em alguma escala significativa, brotarem proporcionalmente como reforços a Orlando Morando.
Configurações ideológicas
Parte da votação de Alex Manente em primeiro turno corre o risco de, ante a massificação informativa da má-companhia petista, virar pó ou, pior que isso, migrar para o tucano Orlando Morando.
Manente não é um concorrente com sólida configuração ideológica segundo o entendimento médio dos eleitores. Para a maioria, aliás, ocupa espaço semelhante ao de Orlando Morando.
Mapas eleitorais poderiam transmitir a certeza dessa informação. Entretanto, quem vive em São Bernardo não precisa ser sociológico, pesquisador, antropólogo ou alquimista para dizer sem correr risco de passar por vexame que Alex Manente é um político de centro-direita, de centro-centro e também com um pé na centro-esquerda mais à direita. Ou seja: o arco de representação social de Manente não está nas extremidades.
Orlando Morando não é quase nada diferente de Alex Manente no enquadramento socioeleitoral. Está um pouco mais à direita da centro-direita e um pouco mais à direita da centro-esquerda de Alex Manente. Quase nada de centro-esquerda. O que Orlando Morando ganha de eleitores à direita da centro-direita e do centro-centro Alex compensa com um pé mais próximo à direita da centro-esquerda. Se não entenderam bulhufas, não posso fazer nada, exceto simplificar: eles jogam o jogo eleitoral com flutuações sobrepostas em largas escalas. Diferenciam-se ao ocuparem tangências à direita e à esquerda.
Mais para Dória e Marta
Orlando Morando estaria mais para João Doria enquanto Alex Manente seria espécie de Marta Suplicy reconfigurada. Orlando Morando só não seria João Doria porque optou muito cedo pela política partidária. Alex Manente jamais teve coragem ou burrice de bandear-se para a esquerda da centro-esquerda. Sempre flertou com o PT, mas jamais foi petista. Diferentemente de Marta Suplicy, sempre petista e agora ex-petista convicta.
Ora, com essas nuances todas, parece evidente que o PT deverá contaminar fortemente o eleitorado mais à direita de Alex Manente. Se essa premissa for verdadeira, e parece não haver dúvida quanto a isso, não faltarão desertores eleitorais de Manente no segundo turno. Ou seja: eleitores menos convictos de Manente correriam em direção à salvaguarda de Orlando Morando.
Isso quer dizer que os ganhos com os votos petistas do primeiro turno que se acrescentariam aos votos endereçados a Manente no segundo turno seriam de alguma forma devorados pelos eleitores centro-direitistas de Manente, os quais passariam a enxergar Orlando Morando como legítimo estuário antipetista. Como João Doria em São Paulo.
Somente ampla pesquisa de campo poderia dar sustentação empírica a essas observações de forma a colocar essas possibilidades o mais distante possível do terreno da especulação com fundamentação distinta do recomendável. Talvez a medida já tenha sido tomada ou está sendo devidamente agendada. Não acredito que os comitês centrais das duas campanhas finalistas descuidem-se de definição tão importante.
Subjetividades sólidas?
O grande desafio no segundo turno eleitoral em São Bernardo é saber até que ponto a candidatura de Alex Manente ganha e perde com o compartilhamento da missão de correr atrás da vitória com o Partido dos Trabalhadores a tiracolo. Sem resposta sólida sob o ponto de vista do sentimento do eleitorado, o que restará como forma de sensibilizar os eleitores terá forte condimento de subjetividades. Como estou a desfilar neste texto.
É muito provável que, feitos os estudos, as duas campanhas cheguem à conclusão a que cheguei sem maiores esforços. Duvido, aliás, que o resultado final não seja exatamente o traçado acima. Mas, de qualquer forma, a pesquisa poderia dar margem maior de eficiência ao detectar variados graus de comportamento do eleitorado com base em cenários distintos a partir da aproximação entre a turma de Luiz Marinho e o grupo de Alex Manente.
As semanas que se seguirão até o domingo 30 de outubro vão ser decisivas à candidatura de Alex Manente, que, ao contrário do que proclamam os simplórios, não conta com a vantagem de, apuradas as urnas do primeiro turno, beneficiar-se de suposta volta ao marco inicial na retomada do segundo turno.
Vantagem do primeiro turno
Orlando Morando sai a campo com vantagem material, estratégica e psicossocial considerável de mais de 15 pontos percentuais registrados no primeiro turno. Os votos petistas que supostamente seriam agregados de imediato à candidatura de Alex Manente, como já disse, sofrem duplo contraponto. Primeiro, dos eleitores insatisfeitos com a aproximação do deputado federal com os petistas. Segundo, da imensa leva de eleitores que não compareceram às urnas, votaram em branco, anularam o voto ou votaram em outros candidatos. Uma turma da pesada que seria majoritariamente antipetista.
Eventuais novas explosões da Operação Lava Jato atingiriam, salvo surpresas, mais diretamente os entornos do Partido dos Trabalhadores. E certamente causariam danos colaterais a todos que estiverem no mesmo barco de interesses eleitorais. Alex Manente poderia, portanto, sofrer estilhaços dos quais estava a salvo até outro dia, oficialmente longe do PT e mais próximo do eleitorado assemelhado de Orlando Morando.
Ainda há um fator de desequilíbrio que não pode ser descartado. Assim como Lula da Silva foi decisivo à vitória de Luiz Marinho nas duas campanhas em São Bernardo, porque o PT vivia o auge do poder, Orlando Morando poderia contar com um reforço e tanto nas próximas semanas: o festejado João Doria demarcaria para valer a posição das duas candidaturas, se ainda houver dúvida quanto a isso.
O governador Geraldo Alckmin, que ontem esteve em São Bernardo, não é tão explícito na preferência por Orlando Morando, porque está de olhos e ouvidos voltados à candidatura presidencial em 2018. Mas mesmo assim gravou mensagem de apoio a Orlando Morando.
Muitos eleitores refratários no primeiro turno vão sair de casa dia 30 de outubro para uma missão dupla e indigesta a Alex Manente – primeiro, derrotar mais uma vez o PT em São Bernardo; segundo dar uma nova vitória aos conceitos de João Doria, agora numa região que, contrassenso dos contrassensos, foi esculpida, forjada e consagrada pelo capitalismo privado até ser amordaçada pelo pior tipo de sindicalismo de que se tem notícia -- o sindicalismo cutista e petista pateticamente estatista.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)