Política

PT de Donisete Braga reage;
PT de Carlos Grana estrebucha

DANIEL LIMA - 07/10/2016

Há apenas duas cidadelas do Partido dos Trabalhadores ainda resistentes à hecatombe eleitoral de domingo passado na Província do Grande ABC. E são enormes as possibilidades de não sobrar uma viva alma nos paços municipais dos sete municípios com relações diretas com o PT. A estrela vermelha pode sumir das praças oficiais do território que a viu brilhar pela primeira vez em 1982, quando Gilson Menezes foi eleito prefeito em Diadema. 

Os segundos turnos previstos para Mauá e Santo André são batalhas complicadas de uma guerra eleitoral que o PT – independente desses resultados -- já perdeu na Província. 

O patrimônio eleitoral do PT foi dinamitado. Os efeitos da crise econômica, principalmente, e dos escândalos da Petrobras, entre outros, causaram destruição em massa do exército vermelho.

Entretanto, a situação já esteve pior para Donisete Braga. O petista concorre à reeleição em Mauá. Para Carlos Grana, em Santo André, o cenário só não é ruim porque é péssimo. O petista dificilmente deixará de apanhar feio do tucano Paulinho Serra. 

Fosse usar uma metáfora, diria que Paulinho Serra está no centro de um ringue de vale-tudo armado de foice e facão enquanto Grana, imobilizado, aguarda relutante o golpe final. E não falta quem na plateia sugira ao árbitro que Paulinho Serra receba uma arma de fogo para evitar qualquer surpresa de eventual golpe baixo. 

Atila menos favorito? 

Notaram os leitores que vamos continuar a inventariar as eleições na região nesta temporada até que o segundo turno se esgote em quatro dos sete municípios? Aliás, a quase totalidade de eleitores da região está concentrada em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá. São 1,8 milhão de votos disponíveis. Já escrevemos sobre isso. 

Hoje vamos nos dedicar a novos arranjos partidários com vistas às urnas em 30 de outubro. Escrevi 30 de outubro desta vez. Em edições anteriores não sei aonde estava com as digitais. Pensei 30 de outubro como data do segundo turno e digitei 30 de novembro. Talvez a idade explique muitas coisas quando o dedilhar já não expressa o pensar. Seria algum desvio cognitivo? Seria desvio motor?  

Continuo a considerar a vitória de Atila Jacomussi como certa no segundo turno em Mauá, mas, como não sou burro, tampouco teimoso, acho que há novo encaminhamento a ser atentamente observado. Terceiro colocado no primeiro turno, o tucano Clóvis Volpi aderiu à candidatura do petista Donisete Braga. Não é pouca coisa. Muito pelo contrário. Desde que o reforço combine direitinho com o eleitorado que o sufragou nas urnas. 

Clóvis Volpi, prefeito durante oito anos em Ribeirão Pires, registrou consideráveis 37.065 votos -- ou 20,13% dos chamados votos válidos em Mauá. As más línguas ou as mentes mais antenadas dizem que Volpi entrou na disputa para impedir que Atila Jacomussi eliminasse o segundo turno.  Clóvis Volpi somou um pouco menos de votos que Donisete Braga – foram 41.968 ou 22,90% dos votos válidos. A soma dos dois concorrentes quase alcança o número final do vencedor daquela etapa, Atila Jacomussi, com 85.615 votos, ou 46,73% dos votos válidos. 

O bicho vai pegar 

Quem conhece bem a história eleitoral de Mauá sabe que nem tudo que reluz é ouro. Quero dizer com isso que muito próximo de fechar a corrida no primeiro turno, Atila Jacomussi já deve ter começado a se inquietar com a dobradinha entre Donisete Braga e Clóvis Volpi, experientes políticos na arte de multiplicar votos. Mauá é um terreiro onde tudo aquilo que parece muito visível a quem acompanha a onda eleitoral pode virar pó. O bicho costuma pegar nas quebradas. 

Um eleitorado predominantemente popular estaria mais suscetível a temáticas municipais a ponto de sufocar a federalização do voto? É isso que está em jogo. Principalmente porque, diferentemente de uma Capital como São Paulo, o candidato favorito não tem perfil diferenciado da classe política tão duramente atingida pelos eleitores.

Uma dobradinha entre petista e tucano é tão exótica que não se sabe a razão (ou se sabe demais, porque de tão óbvia) para um jornal como o Diário do Grande ABC não dar o devido destaque. Preferiu-se discretíssima chamada de primeira página que, ao ser transposta em forma de matéria à página interna, perdeu a corrida de visibilidade editorial para o apoio do PDT a Atila Jacomussi. O PDT estava alinhado ao PT no turno inicial. A mudança de rota do PDT perde de goleada para a expressividade eleitoral de um Clóvis Volpi potencial repassador de um vigoroso carregamento de votos. 

É claro que o Diário do Grande ABC minimizou a notícia por conta de um estado mais que explosivo de relacionamento com o petista Donisete Braga, cujo pano de fundo oficial são os custos supostamente exagerados dos serviços de merenda. Há certas agressões jornalísticas na forma de desprezo à inteligência que podem atordoar leitores que raciocinam com objetividade sobre o factual, sem vieses de qualquer ordem. Ou seja: uma coisa é a disputa eleitoral, outra coisa é o paralelismo administrativo de supostas irregularidades.

Se os tucanos de Mauá seguirem a determinação de Clóvis Volpi, tudo indica que o jogo encaminhado a uma goleada favorável a Atila Jacomussi pode ganhar tons de dramaticidade. Sempre é bom lembrar que mais da metade dos eleitores inscritos em Mauá (precisamente 57,91%, ou 175.515) não optaram por nenhuma das duas alternativas finalistas.  

Foram votos em branco, votos nulos, votos a outros concorrentes e votos não consumados por ausência de eleitores. É gente demais passível de sedução em algum grau significativo a determinar novo quadro de correlação de forças políticas. Talvez no caso de Mauá o que teremos no segundo turno seja mesmo uma nova eleição.

Um trem descarrilado 

Já o PT de Santo André do prefeito Carlos Grana dá a ideia de que é um trem descarrilado depois de chegar aos pedaços em segundo lugar no primeiro turno. Votação pouco acima do ex-prefeito Aidan Ravin e relativamente distante do vencedor Paulinho Serra, tucano que já vestiu a camisa petista como secretário de mobilidade urbana – pasta que virou fetiche de gestores públicos inquietos com a qualidade de vida nas regiões metropolitanas. 

Quem tem convivido mais de perto com Carlos Grana desde que as urnas de domingo foram reveladas e, em consequência, abriram cratera de desconfiança sobre as possibilidades de renovação do mandato, acredita que pesquisas oficiosas posteriores o teriam colocado em posição ainda mais desencorajadora.

O enfático anúncio do ex-vereador Ailton Lima de que já está somando forças com o tucano Paulinho Serra tem significado emblemático do ambiente num Município muito mais de centro e de centro-direita do que Mauá. Ailton Lima fez uma campanha financeiramente pobre. Mesmo assim, com o prestígio do candidato a vice Gilberto Wachtler Primavera, chegou em terceiro lugar na classificação final com 49.959 votos (14,98% do eleitorado). Não é pouca coisa. É quase o triplo registrado por Raimundo Salles, que alcançou 17.676, ou 5,3% dos votos válidos. 

Pela primeira vez neste século a possibilidade de o PT ser fragorosamente derrotado em Santo André deixou de ser teoria. Enveredou no campo da potencialidade máxima. O prefeito Carlos Grana caiu na armadilha de juntar-se a representantes locais do conservadorismo mais retrógado. São espertalhões que fogem à primeira tempestade. Gente que mantém relações diretas ou indiretas de sanguessuguismo deliberado com o Poder Público. Gente que corre da raia quando sente que a biruta está virando. 

Grana talvez tenha aprendido a lição de que é muito mais valioso enfrentar os adversários declarados do que se entregar a amigos de ocasião. Mas isso não lhe dá o direito de confundir alhos com bugalhos, colocando todos no mesmo saco de descarte quando a vaca parece ir para o brejo.



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