Política

Morando ou Manente vai piorar
ideia de Marinho sobre museu?

DANIEL LIMA - 10/10/2016

Os finalistas eleitorais em São Bernardo deveriam repensar o que disseram recentemente sobre o que pretendem fazer com a ainda e inacabada massa de concreto armado nas proximidades do Paço Municipal que o PT anunciou há mais de quatro anos como Museu do Trabalho e do Trabalhador. A Administração Luiz Marinho, para variar, errou no conceito e na nomenclatura que sintetizam mais que um destino daquele projeto, mas a própria ideologização da qual o PT invariavelmente não escapa. 

Mas nem é por isso que, seja Orlando Morando seja Alex Manente, aquele espaço deva deixar de remeter e de aprofundar a vocação capitalista de São Bernardo. Basta uma correção de rota simples e está tudo arrumado – ou tudo bem encaminhado para algo muito maior do que se projetou com viés essencialmente trabalhista. 

Museu do Capital e do Trabalho, que já sugeri em outra ocasião, é a melhor pedida. Teria o condão de unir as duas pontas de desenvolvimento econômico e os desdobramentos sociais. Que não se deva esperar flexibilidade dos petistas. Mas dos conservadores representados pelos dois finalistas, seria demais a adoção de um cavalo de pau conceitual, como anunciaram recentemente. Cavalo de pau conceitual seria a desativação integral da proposta. Um erro ideológico não justifica um erro pragmático. 

Contestação antiga

Estou muito à vontade para sugerir que o bom senso prevaleça à nova finalidade daquela obra e, dessa forma, tanto bombardeie o coroamento de bobagem de um ex-sindicalista como dinamite o oportunismo ou mesmo eventual imaturidade de dois jovens que disputam o mesmo espaço de poder -- o Paço Municipal -- no segundo turno previsto para o próximo dia 30. 

Afirmo que estou muito à vontade porque fui o primeiro cidadão, ocupando a função de jornalista, contrário à finalidade exposta na denominação fracionadora do petismo que fincou raízes na documentação-base ao enquadramento do dinheiro segundo exigências do Ministério da Cultura. 

Num texto publicado nesta revista digital em 19 de junho de 2012 (portanto há mais de quatro anos) fiz restrições aos propósitos sindicalistas que vicejam no prefeito Luiz Marinho -- e já sugeria a inclusão do capital em junção com o trabalho. Outros artigos vieram numa sequência cronologicamente errática mas sempre com o mesmo direcionamento crítico. Não falta quem deteste quem tenha coerência crítica. 

Não faltam artigos 

Sugerir a inclusão do capital na marca do museu não ultrapassou o limite do óbvio. De tão óbvio que me sinto constrangido em ter de lembrar que puxei oficialmente uma fila publicamente bastante discreta de quem também é contrário àquela estupidez denominativa. Afinal, trabalho não existe sem capital. Os trouxas que aplaudiram ou se calaram à deliberação da turma de Luiz Marinho assinaram o enviesamento de que capitalismo é obra do demônio. Como entender, então, que os sindicalistas gostem tanto de derivações capitalistas? 

Ao todo, me referi nesta revista digital em 30 artigos sobre o Museu do Trabalho e do Trabalhador, e sempre de forma crítica. Minha intervenção, agora, portanto, passa a léguas de distância do ambiente político-eleitoral, embora deva ser contextualizada também por vinculação com as urnas. Esse é um bom momento para arrancar dos dois candidatos finalistas reposicionamento que deixe de ferir de morte matada uma grande possibilidade de São Bernardo ganhar para valer espaço que poderá reduzir a carga de preconceito que os sindicalistas destilaram contra o capital, com repercussões nocivas aos investimentos. 

Recuperação da imagem 

São Bernardo é um território tangido pelo sindicalismo mais aguerrido e mais revolucionário dos primeiros tempos de Lula da Silva. Pena que se tornou peso sobressalente aos custos ambientais e econômicos da região, entre outros motivos porque não se reciclou. Pior que isso: derivou ao extremismo ideológico que dividiu a região, já fragmentada, em sete partes, em moradores de chão de fábrica e moradores engravatados. O Museu do Trabalho e do Trabalhador explicitaria estupidamente esse passivo no mundo dos negócios. 

Traduzindo em miúdos: São Bernardo tem grande oportunidade de fazer do limão do chamado Museu do Lula limonada do capital e do trabalho. Basta que Orlando Morando ou Alex Manente não exacerbe as divisões políticas no Município. Não pode faltar ao vencedor do dia 30 o espírito de aproximação entre capital e trabalho que o petismo tanto solapou. 

Recentemente a Folha de S. Paulo publicou com certo destaque uma reportagem dando conta do posicionamento de Orlando Morando e de Alex Manente sobre o Museu do Trabalho e do Trabalhador idealizado pelos petistas. O tucano promete instalar no local uma fábrica de cultura. Já Alex Manente quer dedicar um andar da obra para sediar uma pinacoteca e, no outro, fazer um restaurante Bom Prato, que serve refeições por R$ 1. 

Se tivesse de escolher a pior das alternativas propostas sem dúvida a mistura de populismo de Bom Prato como elitismo de pinacoteca é mesmo de lascar. Não tenho a menor ideia de que fornalha de barbeiragem conceitual Alex Manente sacou essa ideia que não pode ser considerada de jerico em respeito aos animais. Já a fábrica de cultura de Orlando Morando é uma sugestão interessante --- desde que implantada em outro lugar. Substituir simplesmente o Museu do Capital e do Trabalho seria cobrir um santo para desnudar outro.

Assassinato e turismo

Até a população de Dallas, no Texas, entre tantos exemplares internacionais, fez da tragédia do assassinato de um presidente da República, John Kennedy, motivação ao conhecimento. Tanto que congelou no tempo em forma de circuito de turismo a microárea em que o titular do cargo mais importante do planeta foi baleado. Por que São Bernardo deveria perder a oportunidade de transportar décadas e décadas de história de manufatura industrial, contando com a maior concentração de produção automobilística, em espaço que sintetizasse todo um passado de transformações?

Há empresas especializadas que poderiam ser contratadas para executar essa tarefa. Está tão facilmente à disposição a matéria prima para agregar num mesmo local a história da produção industrial de São Bernardo que custa acreditar que tanto o PT tenha jogado no lixo essa possibilidade ao descartar o capitalismo, como os dois finalistas eleitorais a sugerir vocações distintas da essencialidade municipal.  

Já perdemos uma oportunidade de ouro para inserir a região, especificamente Santo André, no roteiro de atratividade deixado nos rastros de Pelé que, em 1956, marcou o primeiro gol de uma carreira inigualável ao balançar as redes do Estádio do Corinthinha.

O Estádio Américo Guazzelli, que poderia virar uma relíquia a estimular a inventividade de marqueteiros na tradução de simbologias em dinheiro e em prestígio, cedeu espaço a um conjunto de piscinas. O que poderia ter sido mantido como solo sagrado do futebol mundial, ponto de partida da carreira mais vitoriosa de um atleta profissional, foi irresponsavelmente destruído na calada da noite.

Reviravolta necessária 

Os políticos de São Bernardo jamais serão perdoados se cometerem a barbaridade que Luiz Marinho ensaiou e parece ainda insistir. O substituto do petista no Paço Municipal a partir de janeiro do ano que vem não pode apagar todos os vestígios do trabalhismo local, porque vinculado ao ex-presidente Lula da Silva, a ponto de desprezar a solução mais redentora possível. 

São Bernardo precisa mostrar ao mundo dos negócios – e estamos falando de capitalismo sério, não de capitalismo de compadrios e tampouco de sindicalismo partidário – que está se oferecendo a um novo processo de desenvolvimento, em bases mais sólidas e menos viciadas. O Museu do Trabalho e do Trabalho seria um dos elos de uma corrente de mudanças no ambiente local e, portanto, regional.

Ou seja: o Museu do Capital e do Trabalho não se esgotaria na premissa de reunir num mesmo endereço o passado de um Município que saltou para os primeiros lugares do ranking de desenvolvimento econômico em pouco mais de uma década. A obra trataria de traçar o futuro de que São Bernardo tanto carece. E que não está contemplado no Museu do Trabalho e do Trabalhador, na Indústria de Cultura ou na combinação esdrúxula de Bom Prato e Pinacoteca.



Leia mais matérias desta seção: Política

Total de 863 matérias | Página 1

17/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (9)
16/09/2024 Três versões de um debate esclarecedor
14/09/2024 GILVAN SOFRE COM DUREZA DO DEBATE
13/09/2024 Voto Vulnerável é maior risco de Gilvan Júnior
12/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (8)
10/09/2024 Gênios da Lamparina querem subprefeituras
10/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (7)
06/09/2024 Largada eleitoral para valer vai começar agora
06/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (6)
04/09/2024 É a Economia, Marcelo, Luiz Fernando e Alex!
04/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (5)
02/09/2024 QUAL É O PREÇO DE FORA BOLSONARO?
02/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (4)
30/08/2024 Marcelo Lima responde ao UOL como prefeito
30/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (3)
28/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (2)
27/08/2024 Luiz preocupado com Luiz indicado por Luiz
26/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (1)
20/08/2024 Seis armas de Zacarias que tiram sono do Paço