Política

Marinho sai do armário direto
para os braços de Alex Manente

DANIEL LIMA - 11/10/2016

O petista Luiz Marinho, um dos mais medíocres prefeitos que São Bernardo já teve (a contextualização político-econômico-partidária sustenta essa afirmativa) acabou de assinar um atestado de provável óbito eleitoral do candidato Alex Manente, adversário do tucano Orlando Morando no segundo turno programado para o dia 30. Luiz Marinho saiu do armário da dissimulação e caiu pateticamente nos braços de Alex Manente. Uma queda que só surpreende quem não enxerga um palmo à frente do nariz político-eleitoral.  

Luiz Marinho é daqueles políticos a quem se reserva um compartimento que especifica a baixa qualidade à arte da representação e do convencimento. Quando fala a verdade repassa a desconfiança de que está a engabelar. Quando está a manipular os fatos sugere que está a flertar com a verdade. Marinho troca os fatos pelas versões e as versões pelos fatos como quem troca de camisa. Um político com essas digitais comportamentais não é digno de confiança dos contribuintes também cidadãos também chefes de família e também eleitores. E mais que isso: merece todos os cuidados possíveis e o ceticismo empedernido da Imprensa.

Vou traduzir os conceitos expressos sobre Luiz Marinho de maneira didática, sem dar um nó na cabeça do leitor: Luiz Marinho é de uma obviedade alarmante nas decisões, embora faça todo o esforço do mundo para tentar fazer-se crer que ainda não chegou ao ponto culminante. É um aprendiz mal-ajambrado no uso de subjetividades próprias da política. Ou seja: é um político contaminado pelo vírus do imperialismo sindical. Esqueceu-se apenas que o campo aberto de uma eleição, por exemplo, não é uma sala fechada com executivos de montadoras pressionados a ceder ou então a sofrerem consequências de uma greve e outros mecanismos pouco ortodoxos de sedução. 

Salvação da lavoura 

O prefeito de São Bernardo, o PT e os sindicalistas da CUT da região adotaram a candidatura de Alex Manente como salvação da lavoura de um massacre eleitoral mais que previsível e sacramentado ao final do primeiro turno. Marinho, os petistas e os cutistas já estão espalhados pelas ruas e praças de São Bernardo. Desfilam ações pretensamente devastadoras contra a candidatura de Orlando Morando. O pau já está quebrando nos escaninhos da periferia, onde o casamento de Marinho e Manente pretende buscar o equilíbrio de uma batalha eleitoral já perdida no centro expandido e bem mais informado. 

Por isso, não se deve acreditar um tiquinho no que disse Luiz Marinho aos jornais que circularam hoje na região. Marinho ainda não se diz eleitor de Alex Manente. Talvez sinalize ao aliado que algumas arestas da composição ainda não foram devidamente acertadas. Talvez acredite piamente que a sociedade consumidora de informações é um bando de analfabetos políticos incapaz de decifrar suas pretensas elucubrações geniais.  

O PT e o Sindicato dos Metalúrgicos aderiram em peso à candidatura de Manente. O PT sabe que não lhe resta saída para respirar nos próximos quatro anos na região senão pegar carona na candidatura de Manente. Aliás, mais que pegar carona, atuar como copiloto. Como leva tempo para compreender o jogo político-eleitoral, porque subestima o adversário, talvez o PT demore para entender que o peso da debandada vai colher de frente o aliado. 

Mandato dividido 

Muitos dos votos que Manente receberá de petistas de áreas mais periféricas do Município serão neutralizados por eleitores do centro expandido e também dessas mesmas bordas geográficas. São eleitores do primeiro turno que por alguma razão nada radical preferiram Alex Manente a Orlando Morando --- mas que agora optarão pelo tucano. 

Não custa lembrar, também, que Orlando Morando ganhou em todas as geografias eleitorais de São Bernardo no primeiro turno e que, mesmo superado nessas áreas pela soma dos petistas e dos manentistas recalcitrantes ao tucanato é possível que os danos sejam muito menores do que o afastamento da classe média de Alex Manente. 

Luiz Marinho deixou o armário eleitoral e caiu nos braços de Alex Manente. Entretanto, quer fazer crer que ainda tem certos pudores. Tanto que não quer deixar à mostra a anágua do reconhecimento do fracasso do PT na região. Nem pensar na meia-calça do aniquilamento do discurso classista que separa a sociedade de forma odiosa entre classe média tradicional e proletariado. E muito menos em exibir a calcinha de rendas de interesses recônditos de uma associação de projetos que culminaria com a continuidade de controle do principal Município da região. 

Entretanto, como Luiz Marinho não tem talento verbal e estratégico para sugerir que não existe armário algum, e muito menos os apetrechos de sedução, a emenda soa pior do que o soneto. O que temos é um quarto de motel de beira de estrada pretensamente transformado em quarto de núpcias de cinco estrelas. Só poderia resultar em espetáculo ordinário quando se leva em conta a inteligência de consumidores de informações.  

Aos fatos, portanto

Para não dizerem que estou a manipular os fatos e a criar metáforas descabidas, vamos aos fatos, então. No Diário do Grande ABC de hoje (o jornal ainda outro dia caiu no conto da carochinha do sempre esperto ex-prefeito William Dib, que sugeriu ser Morando sublegenda do PT) o título da página interna (“Marinho ataca Morando e sinaliza apoio a Alex”), minimiza os estragos eleitorais que atingirão o deputado federal. Algo como “Marinho ataca Morando e declara apoio a Alex” seria mais condizente com os fatos -- mesmo que os fatos sejam manipulados pela verborragia caricatural do prefeito petista. Vamos a alguns trechos da matéria publicada na versão impressa: 

 Oito dias depois da derrota em primeiro turno de seu pupilo político (...), Luiz Marinho (PT) sinalizou ontem por apoio ao candidato do PPS, o deputado federal Alex Manente, no embate contra o prefeiturável Orlando Morando (PSDB), na votação do dia 30. Na semana passada o diretório municipal do PT anunciou postura de neutralidade no segundo turno, liberando seus filiados para a escolha do voto. No discurso para militantes, comissionados, vereadores e deputados do PT, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no Centro de São Bernardo, Marinho defendeu campanha na cidade contra Morando, citando que “jamais votou no 45”, número do PSDB, detalhando ainda que não vê benefícios na eleição pela escolha do voto nulo. (...) “Não é que estamos pedindo votos ao Alex, apenas queremos mostrar o que é o PSDB. Essa mão nunca digitou 45 (na urna eletrônica) e jamais digitará”, avisou Marinho. O prefeito petista afirmou que na semana que vem irá comandar nova reunião e que deverá se posicionar sobre sua escolha. “Vou construir meu voto. Estou pensativo. Vamos fazer novo encontro, avaliar o governo e avançar”, disse o jornal. 

Mensagem decifrada 

Acredito que os leitores entenderam o que pretendi dizer mais acima ao afirmar que Luiz Marinho é incorrigível como algoz de si mesmo. Ele não se dá conta de que é tão óbvio nas consequências de suas declarações que o simples enunciar de que ainda vai se decidir sobre quem apoiar em São Bernardo é a confissão do quanto despreza a inteligência alheia. E é assim que age normalmente. Parece dominado pela síndrome do absolutismo e que, portanto, teria poderes de, quando bem entender, levar a terceiros o que está na maquinaria barulhenta de seu cérebro. 

Quem acha que as declarações de Luiz Marinho na edição de hoje do Diário do Grande ABC se encerraram não sabe o que vem em seguida. Prestem atenção e reflitam sobre o quanto o prefeito de São Bernardo se tornou obstáculo ao candidato que decidiu apoiar: 

 Ainda no discurso, Marinho afagou Tarcísio (Secoli, candidato do PT derrotado no primeiro turno), evitando citar erros durante a campanha derrotada. Garantiu que o revés se deve mais a atributos do cenário nacional. “O PT foi alvo da mídia, do Poder Judiciário”. Ele aviou que está à disposição do partido para liderar candidatura ao governo do Estado em 2018 e até mesmo à Prefeitura de São Bernardo em 2020. “Se o PT assim entender, estarei pronto (para projetos políticos). Há também algumas pessoas dentro da legenda pedindo para que ocupe papel na direção do diretório nacional”, acrescentou Marinho. 

Notaram os eleitores que Luiz Marinho se disse vítima do próprio PT, porque teria pagado o preço dos escândalos fabricados, segundo o que dá a entender, pela mídia e pelo Judiciário? Luiz Marinho não se deu conta de que só está gozando de tranquilidade que a quase totalidade da cúpula nacional do PT há muito viu desaparecer porque ocupa papel secundário na política nacional e, portanto, está a salvo, pelo menos por enquanto, da força tarefa da Operação Lava Jato. 

Peixe nacional pequeno 

Marinho sabe que foi eleito e reeleito também com dinheiro sujo da Petrobras. Basta averiguar com alguma curiosidade a origem dos recursos financeiros mais substantivos que irrigaram os votos em São Bernardo nas duas eleições em que se sagrou vencedor. 



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