Política

Paulinho, Orlando, Atila e
Lauro vão ganhar facilmente?

DANIEL LIMA - 27/10/2016

A única dúvida que tenho sobre as disputas de segundo turno neste domingo na Província do Grande ABC se refere à diferença de votos válidos que vai separar vencedores de perdedores. Quando digo “vencedores” quero dizer Paulinho Serra, Orlando Morando, Atila Jacomussi e Lauro Michels. Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema vão sacramentar nas urnas uma hecatombe histórica do PT no berço do sindicalismo que o fez emergir: desde que foi criado, o partido que Lula da Silva levou ao governo federal não fará nenhum titular de Executivo e, mais que isso, não terá participação cooperada igualmente em qualquer uma das prefeituras, depois de perder feio em São Bernardo, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra no primeiro turno. 

Há quem tenha me recriminado porque teria avançado o sinal da cautela ao afirmar que o tucano Paulinho Serra já é prefeito de Santo André. A esses respondo com uma provocação que no fundo é obrigação funcional: também os demais concorrentes já mencionados só estão à espera da formalidade da posse em primeiro de janeiro para pegarem conjuntamente o maior abacaxi das últimas décadas e, individualmente, algo ainda pior. 

Destrinchando os problemas

Vou traduzir em linguagem simples o que é uma coisa e o que é outra coisa, ou seja, o que é o maior abacaxi coletivo e o que é algo ainda muito pior individualmente. 

Para não me alongar diria curto e grosso que a regionalidade da Província do Grande ABC, assunto do coletivo de titulares dos respectivos paços municipais, vai viver novos quatro anos de ostracismo e enganação a bordo do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico. Haverá fingimento repulsivo de que se trabalha para o conjunto do bicho de sete cabeças. 

E o pepino individual de dirigir cada uma das prefeituras locais não será diferente, embora uma ou outra realização aqui e acolá provavelmente dará tempero de efetividade que não alterará os rumos dos acontecimentos. E os rumos dos acontecimentos são tremendamente sofríveis. 

O Estado brasileiro (em todas as dimensões) está quebradíssimo. Quando as caixas-pretas dos atuais prefeitos forem abertas pelos sucessores, o tamanho da encrenca será estonteante. E ninguém fez aos atuais prefeitos uma pergunta elementar nesse sentido: quanto vão deixar de buraco aos sucessores? 

O que todos os concorrentes andaram prometendo em larga escala, nas entrevistas e nos debates que acompanhei na medida do possível, será fragorosamente repassado aos mandatários seguintes, ou eventualmente para um segundo mandato. 

Tratamentos diferentes

Antes de dar fundamentação sucinta à previsão dos resultados finais das eleições na região em segundo turno (já em cinco de outubro escrevi quem seriam os vencedores) acho importante ressaltar um aspecto: na política, principalmente em disputas eleitorais, a flexibilidade de interpretação é mais elástica. A subjetividade, fruto de série de avaliações, carrega vulnerabilidades. Antecipar vencedores é sempre um risco, por mais escancarada que esteja a meta dos concorrentes. 

Por isso, não confundam esse trabalho jornalístico com o que normalmente produzo em outras áreas. Quando escrevo sobre o caso Celso Daniel, por exemplo, ou sobre as múltiplas faces da economia da região, além de tantos outros temários, o faço com cuidados extremos. Descarto grandes doses de subjetividades. Sou escravo dos fatos, dos documentos e dos dados estatísticos. 

De maneira geral, também na prospecção do terreno eleitoral, tomo todos esses cuidados, mas admito que o terreno é muito mais movediço a interpretações contundentes. Se o faço nesse momento é porque ando mesmo decidido a mostrar que não se deve ficar em cima do muro quando tudo está claramente diagnosticado no sentido de que não há muro. 

Há gente demais que constrói muros imaginários quando a política entra em campo. Há gente também que ergue muros ante qualquer desafio, seja qual for o campo de batalha. Aliás, a grande maioria integra esse grupo. Não é por outra razão que somos uma Província. Aqui, até a evidência mais desavergonhada é tratada como algo a ser cuidadosamente avaliada. 

Com brevidade, vamos aos cinco pontos nucleares que me levaram a afirmar que a região já tem vencedores dos segundos turnos: 

 Demonização do PT 

 Demonização do PT 

 Demonização do PT 

 Demonização do PT 

 Demonização do PT

Espero que os leitores tenham prestado o máximo de atenção aos indicadores que me levaram a estruturar linha de avaliação das eleições na Província do Grande ABC. Não, não existe erro de digitação, de edição ou algo equivalente. As disputas eleitorais na região (e no Brasil como um todo, com nuances especificas conforme a realidade socioeconômica histórica) foram e continuam pautadas pelos estragos na imagem do PT. Quem soube se apropriar do melhor discurso antipetista, quem caiu nas graças dos eleitores ressabiados, passou a ter o controle da maioria do eleitorado.

Manente esperneia 

Vejam o caso de Alex Manente, em São Bernardo. Ele tentou tudo o que era possível para se desvencilhar do peso petista. Não encontrou antídoto. Caiu na boca do povo que o PT de Luiz Marinho, dos sindicalistas, de Luiz Fernando Teixeira, o PT mais que conhecido em São Bernardo, lhe dá retaguarda. Algumas declarações de lideranças petistas locais dinamitaram de vez a tentativa de Manente afastar-se do fantasma vermelho. 

Morando puxou para si, como reforço ao antipetismo, o “trabalhador” João Doria, importando inclusive o bordão eleitoral. Sobre “trabalhador” entre aspas, sugiro que não se faça qualquer ilação pecaminosa. Essa foi uma jogada de mestre do novo prefeito de São Paulo. Ele retirou a apropriação indébita do Partido dos Trabalhadores. Apropriação indébita porque o PT jamais honrou o sentido mais complexo e íntegro do verbete, que vai muito além do corporativismo seletivo patrocinado pelo braço sindical do partido, a CUT (Central Única dos Trabalhadores). 

Em Santo André e em Mauá, onde Carlos Grana e Donisete Braga disputam o segundo turno, pouco adianta argumentar que obtiveram alguns êxitos administrativos, principalmente Donisete Braga ao equacionar a histórica e incômoda, quando não então impagável dívida com o governo federal. A cada nova rodada da Operação Lava Jato eles sentem os esforços naufragarem.  

Em Diadema, Vaguinho Feitosa do Conselho, do PRB, poderia reagir em algum grau. Entretanto, tudo indica que ao ganhar o suposto reforço do triprefeito José de Filippi, denunciado como participante de irregularidades na Lava Jato, o efeito será o oposto ao desejado. 

Relativizando os resultados 

É claro que os vitoriosos do primeiro e do segundo turno das eleições na Província do Grande ABC não poderão ser chamados de gigolôs da Lava Jato, porque têm qualidades individuais e partidárias que passaram pelo escrutínio dos eleitores. 

Entretanto, só não podem imaginar ou mesmo propagar aos quatro cantos que, ao assumirem os paços municipais em janeiro do ano que vem, o farão com méritos integralmente deles, por conta do passado de realizações ou pelo futuro de projeções que tenham sido catalisadas pelos eleitores.

Sem a Lava Jato (que ainda não chegou para valer à região, mas chegará com certo atraso porque há prioridades nacionais que emergiram e continuarão a emergir com força demolidora) as disputas na região onde o PT conta com maiores representações seriam muito mais equilibradas. Santo André, Mauá, Diadema e São Bernardo de segundos turnos estariam fervendo. 

Do jeito que o ambiente está, observa-se uma busca desesperada de os finalistas petistas excomungarem o próprio partido (Grana disse numa entrevista que deve ser visto como prefeito, não como membro partidário), enquanto aqueles que contam com o suporte envergonhado do partido (Alex Manente e Vaguinho Feitosa do Conselho) se sentem incomodados, mas obrigados a aceitar porque a emenda da rejeição seria pior que o soneto da submissão. 

Quinze pontos percentuais 

Por fim, arriscaria dizer que os quatro vencedores deste domingo em Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema não vão superar seus adversários com menos de 10 pontos percentuais. No fundo, no fundo, acho que a distância será maior que isso. Possivelmente uma média de 15 pontos percentuais quando se somarem todos os votos dos vencedores em contraposição aos dos derrotados, petistas da gema ou petistas adotados. A individualização das diferenças é mais arriscada. Acho até que os resultados serão semelhantes. 

Teremos, como registrei em cinco de outubro, mais de um milhão de votos (exatamente 1.088.297) à disposição dos oito prefeituráveis que vão às urnas neste domingo. São os votos sucateados no primeiro turno, montanha formada por eleitores de votaram em outros candidatos, que votaram em branco, que anularam o voto ou que não compareceram às urnas. Acho que a maior parte desse contingente vai votar. E que a maioria dos novos votos válidos será destinada aos concorrentes que representam o antipetismo. Daí o resultado final -- nominal e quantitativo -- que apontei. 



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