Política

Arrasado no segundo turno,
PT perde tudo na Província

DANIEL LIMA - 31/10/2016

Não custa nada fazer autopropaganda, necessária em se tratando de revista digital que consolida credibilidade num meio em que não faltam aventureiros e também bandidos sociais de aluguel: escrevi na edição de 15 de junho último o que o Estadão e o Diário do Grande ABC publicaram sem muita convicção nas edições de domingo, entre outros veículos retardatários. O título daquela análise diz tudo: “PT corre o risco de não contar com um prefeito sequer em 2017”. Dito e feito. 

Os resultados de ontem na Província do Grande ABC foram arrasadores para a agremiação que, desde 1982, com Gilson Menezes em Diadema, construiu uma nova história política na região e particularmente no País. Até se esborrachar todo, como se sabe. 

Antes de discorrer sobre as disputas de ontem, e para fortalecer a mensagem de que os leitores não devem ler CapitalSocial como se fosse um produto jornalístico qualquer, impresso ou digital, reproduzo em seguida alguns dos trechos daquela matéria de junho:  

 A batalha está praticamente perdida em São Bernardo. Em Diadema, mais perdida do que ganha. Em São Caetano, nem mais com Paulo Pinheiro como cavalo de Troia. Em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, praticamente sem possibilidades. Sobram Santo André e Mauá, principalmente porque a oposição não é lá essas coisas – embora também não seja coisa nenhuma. Esse é um retrato apressado, confesso, das perspectivas do PT nas eleições de outubro próximo. 

Cuidado com os números

Volto às disputas de ontem para, em seguida, reproduzir mais alguns trechos da análise de junho último. Os resultados de ontem confirmaram a expectativa aqui enunciada de que Paulinho Serra (Santo André), Orlando Morando (São Bernardo), Lauro Michels (Diadema) e Atila Jacomussi (Mauá) ganhariam as eleições. 

Os resultados mais folgados no número de votos válidos se devem sobretudo às deficiências e estigmas dos candidatos petistas de Santo André e de Mauá. É indispensável relativizar as qualidades e o preparo dos vencedores. Quem concorresse com o PT teria possibilidades de massacre. Paulinho Serra e Atila Jacomussi são agudos pontos de interrogação. Principalmente o primeiro, sobre o qual as demandas serão mais intensas. Santo André é mais importante que Mauá.

As vitórias mais suadas, de Orlando Morando e de Lauro Michels, se deram contra adversários que contaram com o suporte petista, mas não eram petistas. Fossem também, Morando e Lauro os goleariam. Ou alguém duvida que o PT esteve nas eleições da Província assim como o Jabaquara convidado a eventual torneio reunindo equipes da Série A do Campeonato Brasileiro? 

Demandas maiores 

A expectativa que se abre com vistas ao futuro imediato, dos próximos quatro anos da Província do Grande ABC, é que os vencedores do segundo turno somados aos vencedores do primeiro turno não caiam no conto de que terão vidas fáceis. O bicho de sete cabeças da Província do Grande ABC é uma parada duríssima às soluções básicas que a sociedade tanto clama em silêncio desorganizado. A saída do PT de cena (inclusive sem participar mesmo que como aliado dos novos administradores) aumenta o grau de responsabilidade dos novos mandatários. A expectativa da sociedade será proporcional à avalanche de repulsa. A biruta comportamental do eleitorado não costuma falhar. 

O estado calamitoso deixado de herança na defesa da regionalidade que exangue na Província se rivaliza com a penúria municipalista. Estamos vivendo, seguramente, a pior conjuntura econômica, social e politica de décadas, entre outros motivos porque as perspectivas orçamentárias são de lascar e afetam diretamente a estrutura resolutiva. O País está quebrado. Quando as caixas-pretas das prefeituras forem abertas, só Deus sabe o que pode acontecer.

Antes de seguir com mais parágrafos sobre os resultados de ontem na Província do Grande ABC, volto ao texto de junho último. Mais alguns parágrafos: 

 Não venham me dizer que não há cabimento técnico-sociológico e o escambau ao comparar os votos petistas para as prefeituras da região em 2012 e os votos petistas para Dilma Rousseff dois anos depois. É muito estreita a margem de erro de juntar as duas partes. O PT conta com eleitorado ideológico, engajado, uniforme, aqui nesta Província, muito mais que no restante do Brasil. A história regional de disputas sindicais, de trabalhadores versus patrões, destilada pelos petistas, dá lastro à assertiva. Pronto, não existe disparate analítico nessa avaliação. 

Mais votos sucateados 

De novo voltando aos resultados de ontem, convém registrar que a massa de votos sucateados (votos em branco, votos nulos e abstenções) superou levemente os números do primeiro turno nos quatro municípios. Foram 40,29% desta feita, contra 39,08% no dia três de outubro. Também houve muita semelhança entre o número de eleitores que sufragaram os dois candidatos finalistas no primeiro e no segundo turno. Ontem, foram 1.084.034 milhão de votos válidos, contra 1.087.238 no turno inicial. Uma diferença, com se nota, mínima. Havia em disputa geral nos quatro municípios o total de 1.815.438 votos. 

O que mudou do primeiro para o segundo turno foi a distribuição dos votos válidos. No primeiro turno os dois finalistas de cada Município registraram 727.145 votos. No segundo turno houve uma distribuição geral praticamente igual entre os dois finalistas na contagem geral. 

Os votos válidos que somaram 1.084.027, foram repassados na base de 66,10% para os quatro vencedores (716.609) e de 33,90% para os perdedores (33,90%). No primeiro turno o placar de votos válidos na soma dos votos nos quatro municípios foi de 64,39% a 35,61%. O que mudou foi o repasse individual.  Paulinho Serra e Atila Jacomussi avançaram mais celeremente na corrente de aniquilamento do PT. Orlando Morando e Lauro Michels sofreram mais, mas mesmo assim ganharam com vantagem confortável. Mais Orlando que Michels, claro.  

Mais alguns trechos da matéria de junho último, quando previ a pulverização do PT nestas eleições: 

 É claro que há petismo e antipetismo mais arraigado e menos arraigado nos sete territórios que formam a Província do Grande ABC – o que torna parte dos votos mais maleável, mas não suficientemente aniquilador do conceito exposto. A morfologia socioeconômica de cada Município determina essa variável. Quanto maior a participação relativa de classes médias num determinado Município, mais o sentimento antipetista se manifesta. 

Parcerias excessivas 

De novo voltando às eleições de ontem, agora com enfoque no resultado de Santo André. O tucano Paulinho Serra fechou série de acordos na reta de chegada que lhe podem custar caro porque abriu as porteiras para gente que até outro dia estava espalhada por outras agremiações. Talvez tenha exagerado. Não precisaria de tanta gulodice para superar um PT de Carlos Grana que só foi para o segundo turno como provação à humilhação encomendada pelas urnas.  O resultado final de 78,21% a 21,79% dos votos válidos é o mais extravagante da história de Santo André desde a redemocratização. 

Dos 569.662 votos disponíveis em Santo André, Paulinho Serra obteve 276.575 (48,55%), enquanto Carlos Grana ficou com 77.069 (13,53%). Entre votos nulos, votos em branco e abstenções, foram nada menos que 216.010, ou 37,92% do total. Quase três vezes a votação registrada pelo petista. 

De novo retomamos alguns trechos da análise de junho passado: 

 (...) É a esse ponto – no encaixe do voto popular favorável ao petismo – que pretendia chegar. As pesquisas preliminares de vários candidatos da região apontam que o exército de eleitores das áreas mais pobres da região já não tem o PT como preferência extraordinariamente majoritária. E a classe média baixa, beneficiada com as políticas econômicas de Lula da Silva, execra os tempos de Dilma Rousseff. O engajamento eleitoral de conveniência favorável ao PT está fragilizado. Desemprego, inflação, escândalos e tudo o mais formam uma composição explosiva ao petismo. Se depender do comportamento do eleitorado nas eleições presidenciais de 2014 o prefeito de Santo André, Carlos Grana, estará perdido. Historicamente o PT sempre contou com número elevado de votos, mas naquela disputa com Aécio Neves a derrota foi fragorosa: 63,34% a 36,66% nos votos válidos. Considerando-se que depois daquele outubro vieram meses tenebrosos para o PT, com o escândalo do Petrolão, a situação do petismo em Santo André é de fim de feira. Carlos Grana vai precisar utilizar muito o poder de persuasão, de carisma, para reverter o quadro. 

Manente pagou caro

Agora, retomando os resultados de ontem, em São Bernardo o tucano Orlando Morando passou com certa facilidade pelo deputado federal Alex Manente. O resultado de 59,94% a 40,06% dos votos válidos desnuda o incômodo desastre que o PT provocou a Alex Manente, apoiando-o não oficialmente no segundo turno. Dos 611.777 eleitores cadastrados, 356.478 foram às urnas. 

Comparando a votação dos dois finalistas com o número de eleitores, Orlando Morando obteve 34,92% dos votos disponíveis contra 23,34% de Manente. Os votos sucateados (nulos, brancos e abstenção) chegaram a 255.294, acima da votação do vencedor tucano. Foram nada menos que 41,73% do eleitorado inscrito. O maior índice na região. 

Completando o artigo de junho passado: 

 Dos sete municípios da região apenas Diadema sinalizou, em outubro de 2014, que poderia dar um impulso maior ao candidato petista nas disputas desta temporada. Dilma Rousseff ficou com 53,85% dos votos válidos. Também em Rio Grande da Serra a candidata petista bateu o tucano Aécio Neves por diferença mínima: 50, 61% a 49,38%. Em Mauá, onde Donisete Braga tenta a reeleição, o resultado de 2014 também foi bastante preocupante: 56,22% a 43,78% para Aécio Neves. Um resultado semelhante ao de São Bernardo, onde Aécio venceu Lula por 55,90% a 44,11%.

Reeleição apertada 

Retomando mais uma vez as disputas de ontem, em Diadema o candidato do PRB Vaguinho Feitosa do Conselho apertou o cerco contra o prefeito Lauro Michels, do PV. A reeleição de Michels se deu com o placar mais apertado na região: 57,67% a 42,33%. Nada surpreendente, porque Vaguinho conta com forte apoio dos evangélicos e nos últimos dias obteve a adesão do que seria possível do PT do ex-prefeito José de Filippi. 

Dos 330.911 votos disponíveis, Lauro Michels obteve 113.585, enquanto Vaguinho alcançou 85.362. Os votos sucateados (brancos, nulos e abstenções) somaram 131.964. Portanto, como no caso de São Bernardo, um volume superior ao registrado pelo vencedor da disputa. Nada menos que 39,88% dos eleitores inscritos não optaram por nenhum dos dois finalistas.

Completando os resultados de ontem na Província do Grande ABC, Atila Jacomussi derrotou o prefeito Donisete Braga em Mauá também por larga diferença, como Paulinho Serra em Santo André: foram 64,47% dos votos válidos (112.788) contra 35,53% (62.169). Dos 303.088 votos disponíveis, houve sucateamento (brancos, nulos e abstenções) de 42,28%, num total de 128.131 – nesse caso também superior ao vencedor da disputa.

Trataremos do Cinturão Vermelho e do novo Cinturão Azul em outro texto. O governador Geraldo Alckmin é o grande vencedor paulista, mas convém não exagerarem na dose porque a Região Metropolitana de São Paulo tanto pode ser a base eleitoral rumo a Brasília como o cadafalso a hemorragias incontroláveis. O PT está aí como prova quase viva. 



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