Política

Morando não tem tantos votos
como a pesquisa poderia sugerir

DANIEL LIMA - 05/05/2017

Deu no Diário do Grande ABC de hoje (procurei dados em outras publicações da região e não encontrei nada) uma espécie de prévia recheada de ejaculação eleitoral precoce ao governo do Estado de São Paulo no ano que vem. Não há na reportagem do jornal um placar geral regional (foram ouvidos eleitores em cinco dos sete municípios locais). O critério prejudica qualquer avaliação mais segura, mas não impede análises que possam despertar algum interesse. 

Limitou-se o jornal a oferecer números municipais, portanto. Destacou-se uma obviedade alarmante em São Bernardo: Orlando Morando teria mais viabilidade eleitoral que o vice-governador do Estado, Márcio França, egresso da Baixada Santista. Fosse a pesquisa realizada no Litoral, o resultado seria mais profundamente redundante em favor de França, claro.

Notícia de primeira página, de manchetíssima digna de manchetíssima (manchete das manchetes) seria algo como um vice-governador obscuro na região contar com intenção de votos superior a do prefeito de São Bernardo listado preliminarmente como possível concorrente a governar o Estado mais rico do País. 

Mas a leitura da pesquisa do Instituto Paraná não se esgota na obviedade de uma preliminar eleitoral. Sempre ressalvando que não disponho de informações mais detalhadas, os números de Orlando Morando na pesquisa estimulada indicam que ele teria a preferência de 36% do eleitorado de São Bernardo, enquanto Fernando Haddad (PT) teria 15,3%, Paulo Skaf (presidente da Fiesp), não mais que 12,8% como representante do PMDB, o vice-governador Márcio França (PSB), apenas 2,4% e o deputado estadual Carlos Giannazi (Psol) outros 2%.  

Dois terços contra? 

Como a soma dos votos válidos não chega a 100% (dá exatamente 68,5%) a conclusão é que 31,5% do eleitorado de São Bernardo, mesmo quando apresentados a uma cartela com os nomes selecionados, preferiram não apontar nenhum dos concorrentes. Quando se soma esse universo de supostos refratários aos votos dos adversários nominais de Orlando Morando (32,5%), chega-se a 64% de eleitores supostamente insensíveis a um representante do Município no pleito estadual. Ou seja: dois terços do eleitorado de São Bernardo ainda não estão convencidos de que Orlando Morando seria candidato municipal apropriado ao governo do Estado. 

Se este jornalista não é um imbecil juramentado, o que temos para especular (no bom sentido politico do termo) é que o prefeito Orlando Morando teria reduzido em quatro meses a carga de confiança dos eleitores locais, que o colocaram no Paço Municipal. Ao derrotar Alex Manente no segundo turno de outubro último, Orlando Morando obteve muito mais votos válidos. Basta uma conta simples para contabilizar o tamanho do prejuízo.

Confiabilidade sob-risco 

Como estou especulando, admito humildemente também que o enunciado exposto apresente fraturas expostas de confiabilidade interpretativa. Não nego que há diferenças profundas entre uma disputa de segundo turno municipal e uma investigação eleitoral ao que parece preparada como correia de transmissão de um marketing que pretende criar um ambiente pró-tucanos em 2018. Um marketing inteligente, deve-se reconhecer. Sobretudo quando a Imprensa, de maneira geral, aceita tudo como prato-feito.

Entretanto, mesmo admitindo possível inconsistência de cruzar esses caminhos, ou seja, da disputa municipal e da disputa estadual se entrelaçarem, não me sai da cabeça que o prefeito Orlando Morando talvez se tenha metido em enrascada. 

Melhor do que parece

A pesquisa realizada na Província do Grande ABC também deixou evidenciado que a pretendida candidatura de Orlando Morando ao governo do Estado sofre de inconsistência regional. O municipalismo político, econômico e social prevalece também no campo eleitoral, exceto com figuras estelares do PT no período de vacas gordas. 

Segundo os resultados, Morando teria números frágeis nos demais municípios locais. Em Santo André do aliado Paulinho Serra, Morando teria 9,3% dos votos, atrás de Fernando Haddad e Paulo Skaf. Em São Caetano e em Diadema não passaria de 7,36% -- também atrás do presidente da Fiesp e do ex-prefeito de São Paulo. Em Mauá, segundo o Diário do Grande ABC, Orlando Morando fica na última colocação, inclusive atrás de Giannazi, com 3,2% de intenções de votos. 

Tenho comigo a sensação de que, apesar do esforço do Diário do Grande ABC em tornar positiva a sondagem para o prefeito de São Bernardo, o resultado está aquém do esperado para embalar eventual candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. Márcio França, vice-governador desconhecido por estas bandas, teria números gerais muito mais expressivos na Baixada Santista. 

E se aparecesse Marinho?

Vou mais longe, retomando a territorialidade da Província: com todos os defeitos e problemas, uma sondagem que incluísse Luiz Marinho provocaria estrago estrondoso. O petista possivelmente alcançaria números mais robustos que o tucano de São Bernardo. 

Faltou ao Instituto Paraná sensibilidade para regionalizar a candidatura de adversários de Orlando Morando levando-se em conta especificidades territoriais. Com Luiz Marinho na lista de candidatos, haveria remelexo nos números gerais da região. Principalmente em São Bernardo. O risco que um marketing atrelado a pesquisas eleitorais produz é acreditar que a banda vai tocar conforme o ritmo pretendido nos bastidores. A pesquisa em questão desandou em desafinação. Orlando Morando parece melhor como prefeito que investe numa agenda populista do que mostra o Instituto Paraná. 



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