Política

Momento de mudar
o horário eleitoral

MILTON SALDANHA - 14/06/2017

O chamado Horário Eleitoral Gratuito até no nome é uma mentira. As TVs e rádios são ressarcidos pelo Estado brasileiro pelo tempo de ocupação do espaço. Logo, nós pagamos.

Isso surgiu durante a ditadura, sob a Lei Falcão, que proibia o debate e a exposição de propostas: entravam apenas slides dos candidatos, com suas fotos e números. A palavra debate era vista como sinônimo de anarquia pelos generais de plantão no poder. A ditadura tinha seus dogmas fascistas que não podiam ser contrariados. Denúncias, então, nem pensar. 

Veio a redemocratização e o formato foi mantido. Com a diferença que podiam fazer edições.

Marketing político

Os partidos passaram a contratar marqueteiros profissionais e produtoras caríssimas para vender os candidatos como se fossem um produto comercial. Até os ângulos para as melhores tomadas dos seus rostos passaram a ser estudados. E no lugar das idéias entraram os efeitos especiais, para encantar as multidões, mas não para fazê-las pensar.

O pré-gravado e o uso do telepronter, o letreiro que corre e passa a impressão de que a pessoa está falando sem ler, passaram a ser os grandes aliados de todo tipo de toupeira aspirante a alguma função pública. Alguém escreve, e eles apresentam fazendo a encenação que antes foi ensaiada sob a supervisão de algum profissional do vídeo. Vários jornalistas de TV ficaram ricos com esse trabalho, mandando às favas princípios e dignidade. Eles operam para quem paga mais.

Mentir e falar bem 

O formato transformou a política num embuste ainda maior do que era no tempo em que tudo dependia dos grandes comícios de rua. Naqueles, o candidato não podia ler seu discurso, ainda que já tivesse longos trechos decorados. Muitas vezes eles tinham que improvisar, e por isso a oratória era um pré-requisito indispensável a qualquer postulante de cargo público. Pessoas com ótimas idéias, e honestas, não tinham grandes chances quando não dominavam os dons da palavra oral. Mas, de toda forma, ainda assim era melhor do que o uso que se passou a fazer da televisão, porque o candidato se apresentava ao vivo, de corpo inteiro, tendo que interagir com uma multidão repleta de carências e que dele esperava alguma proposta.

A tecnologia, com as grandes redes, sepultou o formato dos velhos comícios. Isso nada tem de ruim se for aplicado sem as mentiras e montagens fantasiosas atuais.

Tudo ao vivo

A solução é simples: proibir o gravado. Teria que ser tudo ao vivo, e sem telepronter. Obrigando cada candidato a se expor como ele realmente é. A fiscalização sob responsabilidade dos tribunais eleitorais.

Além do conteúdo espontâneo a que todos teriam direito, deveria existir um questionário obrigatório e padrão, abrangendo questões de economia e finanças, políticas tributária, salarial, previdenciária, planejamento e gestão, etc. Cada dia seria um tema, com muitas perguntas, e só divulgado uma, ou no máximo duas horas, antes do horário eleitoral, para impedir a decoreba. 

Com esse formato, sujeitos como Bolsonaro, por exemplo, incapazes de qualquer formulação séria e mais complexa, estariam ferrados. Eles ficariam nus e expostos ao crivo crítico dos eleitores, mesmo dos mais boçais, que acabariam percebendo a incompetência. 

Debates obrigatórios

Já os debates seriam em pool entre as redes de TV e com presença obrigatória de todos os candidatos a postos majoritários, exceto mediante apresentação de atestado confirmado por três médicos. Mesmo com as fraudes já previstas, isso mostraria que o candidato fugiu da discussão, por falta de conteúdo e medo de acusações.

Nada disso seria perfeito, mas com certeza representaria grande avanço quando comparado com o sistema atual, onde prevalecem a mentira e a mistificação. 

O eleitor vota mal porque é enganado. Vítima de estelionato. 

A única maneira de se combater isso é expondo ao máximo cada candidato. Por força de lei, e não da vontade deles.



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