Não é que já tem gente achando, por conta da anunciada Entrevista Especial com Paulinho Serra, que estou a insinuar, quando não a afirmar, que o prefeito de Santo André cumprirá apenas um mandato? Sim, apenas quatro anos, juntando-se ao petebista Aidan Ravin e ao petista Carlos Grana como exemplares de fracasso nas tentativas de reeleição. Não é nada disso, embora possa ser tudo isso.
Vejam o que escrevi ontem e verifiquem quanto os leitores que me acusam de traçar o destino de derrota para Paulinho Serra nas eleições de 2020 gostam de subjetividades:
Para um Município que perdeu 5,8 de 10 trabalhadores industriais desde 1986, e se consolidou como a maior vítima nacional de desindustrialização, qualquer autoridade pública obrigatoriamente deve ser questionada sobre os planos para o futuro. Mesmo que o futuro seja um mandato apenas, de quatro anos – escrevi ontem.
Pois é: quando se pretende distorcer um texto, basta dar interpretação seletiva ao enunciado. Mas nesse caso, sou obrigado a reconhecer que há mesmo dubiedade a alimentar quem consome as letras frias do trecho pinçado. A intenção de quem escreveu pode ser mesmo redirecionada a ponto de virar uma sentença de derrota, especulativamente claro, de Paulinho Serra.
Cedo para tudo
Somente um maluco de pedra afirmaria que Paulinho Serra será prefeito de apenas um mandato. É muito cedo tanto para essa afirmativa como para outra, em contrário, de que garantirá reeleição. Mas – e aí entra em campo a legitimidade do pensamento deste jornalista no trecho realçado logo acima – o compromisso de buscar saídas com medidas na área de Desenvolvimento Econômico é mesmo intrínseca a quem dirija Santo André mesmo que durante apenas um mandato.
Dadas as condicionalidades da política, não ousaria sequer sugerir que os dois prefeitos que antecederam Paulinho Serra e foram mal das pernas estão condenados a jamais voltarem ao Paço Municipal. Aidan Ravin e Carlos Grana não são cartas fora do baralho como não o foi Celso Daniel que, após um primeiro mandato de série de erros, quando se deixou levar por idiossincrasias e radicalismos ideológicos de um petismo apegadíssimo demais ao esquerdismo mais relutante, voltou em 1997 com manancial extraordinário de políticas públicas.
Sei que vão me dizer que há uma diferença abissal entre Celso Daniel e os dois prefeitos que antecederam a Paulinho Serra. É verdade. Mas convém lembrar que essa distância só foi possível ser construída, constatada, consagrada e sacramentada porque houve um segundo e também um terceiro (não completo) mandatos.
Tudo pode acontecer
Não estou a dizer que Aidan Ravin e Carlos Grana surpreenderiam em eventuais retornos ao Paço Municipal. Nada disso. Mas também disseram lá atrás que Celso Daniel não teria mais futuro. Em politica tudo é possível. Inclusive a reprodução de fracassos de primeiro mandato. Basta observar a lista de prefeitos que se elegeram mais de uma vez na região e praticamente se repetiram em equívocos.
Quem sair por aí com a pregação precoce de que qualquer um dos atuais prefeitos da região vai reeleger-se ou estaria condenado à derrota precisa de reparos na maquinaria intelectual. Já se foi o tempo em que fatores exclusivamente locais, reuniam peso expressivamente determinante nos resultados.
As eleições de outubro passado foram atípicas com a satanização do PT e o pragmatismo dos eleitores em favor de candidatos alinhados à centro-direita. Será que daqui a três anos e meio teríamos a repetição desse cenário ou fatos novos determinarão novas abordagens?
É por essas e outras que não estou aqui para cometer loucuras. Quem se alimenta de cliques de audiência a qualquer custo, inclusive da credibilidade que ainda resta, é useiro e vezeiro em espalhafatos, sem medir as consequências. Se todos os jornalistas tivessem a preocupação de dar uma olhada de vez em quando nas matérias que produziu no passado recente ou no passado remoto certamente o nível de racionalidade da informação não faria concorrência com a estupidez.
Quantos mandatos?
Desta forma, longe de mim afirmar que Paulinho Serra é prefeito de apenas um mandato, ou prefeito de dois mandatos seguidos, quem sabe de um terceiro no decorrer da carreira, como Celso Daniel no passado, José Auricchio Júnior no presente, entre tantos.
O alinhamento tanto de Paulinho Serra quanto de Orlando Morando, em São Bernardo, a João Doria, prefeito paulistano, é um fator de fortalecimento das bases eleitorais que, circunstâncias novas nesse mundo maluco da política, poderá, como bumerangue, voltar-se contra suas eventuais candidaturas à reeleição.
O eleitorado já não está – pelo menos nessa quadra de vida nacional -- mais sob o controle do timão municipalista, embora o timão municipalista deva seguir sempre como ingrediente possivelmente prevalecente na definição dos votos.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)