Esportes

São Caetano e Santo André
correm para melhorar posições

DANIEL LIMA - 23/02/2018

Ao restarem quatro rodadas para o final da fase de classificação da Série A do Campeonato Paulista, seis equipes estão mais ameaçadas de rebaixamento. Santo André e São Caetano, representantes da região, estão na lista da degola, juntamente com Mirassol, Linense, Ferroviária e Bragantino. Entretanto, para o site Chance de gol, correm mais riscos Linense (70,2%), São Caetano (58,0%) e Mirassol (42,4%). Bragantino (4,8%), Santo André (14,9%) e Ferroviária (6,2%) completam o ranking do site especializado. As duas últimas colocadas cairão. 

É muito difícil entender os números do Chance de Gol. Peguemos como exemplo São Caetano e Ferroviária. Na classificação geral a Ferroviária tem nove pontos ganhos e o São Caetano sete. Na rodada deste final de semana o São Caetano joga em casa com o São Bento de Sorocaba e a Ferroviária enfrenta o São Paulo no Morumbi. Na rodada seguinte, o São Caetano enfrenta o Palmeiras na Capital e a Ferroviária recebe o Mirassol, que luta para não ser rebaixado. Na penúltima rodada o São Caetano volta a jogar em casa, agora com o Botafogo, enquanto a Ferroviária volta a jogar em casa, com o Bragantino, que também procura uma vaga no mata-mata. Na última rodada o São Caetano joga em Bragança Paulista e a Ferroviária enfrenta Ponte Preta em Campinas. 

Diferença demais? 

A pergunta que salta à vista é como pode ser tão pronunciada a diferença entre São Caetano e Ferroviária na luta para fugir do rebaixamento. São 58,0% de risco para o São Caetano e apenas 6,2% para a Ferroviária. No ano passado, quando pela primeira vez se disputou a Série A com 16 equipes e duplo rebaixamento, o São Bernardo somava nove pontos ao restarem quatro rodadas e estava relativamente livre da zona de rebaixamento, ocupada por Ferroviária (cinco pontos) e Santo André (sete pontos). Audax, também então com sete pontos, e São Bernardo acabaram rebaixados ao se completarem 12 rodadas. 

Há outros casos que colocariam em xeque os estudos do Chance de Gol. Com os mesmos sete pontos do São Caetano, mas abaixo na classificação nos critérios de desempate, o Mirassol conta com 42,2% de risco de rebaixamento. Menos que os 58,0% do São Caetano. A sequência de jogos do Mirassol: em casa contra a Ponte Preta, fora contra a Ferroviária, fora contra o Corinthians e em casa contra o Linense. 

A situação do Santo André no campeonato parece amenizada. A equipe tem um ponto a mais que o São Caetano, mas apenas 14,9% de risco de queda. A sequência de jogos será contra o Santos na Vila Belmiro, Botafogo no Estádio Bruno Daniel, Linense no Interior e Grêmio Novorizontino no Bruno Daniel. 

Pontuação segura

Têm-se como certo que serão necessários 13 pontos em 36 disputados para fugir do rebaixamento à Série B. No ano passado o Audax foi o lanterninha com nove pontos e o São Bernardo o segundo mais mal posicionado com 10 pontos. Ferroviária, Red Bull e São Bento, com 13, escaparam. Mas o Santo André, mesmo com 14 pontos, só respirou aliviado na rodada final, quando venceu o Audax em Osasco. Uma combinação de resultados poderia ter custado a queda da equipe. O aproveitamento de 25,0% acumulado pelo Audax e de 27,8% pelo São Bernardo, equipes rebaixadas, pode sugerir o horizonte desta temporada. A linha de corte depende do conjunto de resultados. Dificilmente a margem de segurança será superior a 33%. 

O ranking do Chance de Gol é bastante permeável aos resultados de cada rodada. Há muitas oscilações numéricas. Ao final da rodada de domingo o São Caetano chegara a 80,5% de possibilidades de rebaixamento, mesmo após vencer o RB Brasil no Estádio Anacleto Campanella. A vitória de três a dois do Novorizontino contra o Linense, em Lins, e a vitória do Ituano contra o São Paulo por dois a um, no complemento da rodada, reduziram o drama do São Caetano a 50%. Uma vitória contra o São Bento e a combinação de outros resultados poderiam alterar completamente o ranking. 

Diferença exagerada

Fosse-me dada a prerrogativa de estabelecer um ranking paralelo (afinal, não custa nada especular), faria incisivas mudanças nos números do Chance de Gol. Não aplicaria tanta desigualdade entre os seis últimos colocados do campeonato. Distribuiria de modo menos desigual os 200% referentes às duas cotas de rebaixamento.  São Caetano, Mirassol e Linense carregam 170,6% do total. Ou seja: 85,3% de viabilidade de queda.  Às demais três equipes restariam menos de 15%. Parece pouco demais. Não há grandes diferenças entre o futebol praticado pelas equipes médias da competição. Essa avaliação tornaria menos oscilante os números definidores de situações provisórias das equipes. O São Caetano, por exemplo, não teria caído mais de 30 pontos percentuais em uma semana. E o Linense não teria subido tanto no mesmo período, de 10,3% para 70, 2%.

Curiosidade intensa 

Sou avesso à jogatina, mas quando se trata de futebol há sempre veredas insondáveis a percorrer. O site Chance de Gol é destacado nesta revista digital em períodos de jogos do Campeonato Paulista. Há exatamente três anos, em março de 2015, escrevi um artigo em que procurei desvendar a essência daquele site. Sob o título “Até que ponto matemática garante probabilidade de subir ou descer?” revelei inquietude com o que se passa além das quatro linhas no futebol. Reproduzo os principais trechos: 

 Há até um site especializado em medir o tamanho das possibilidades das equipes numa competição, tanto na luta pelos primeiros lugares como na fuga do rebaixamento. O Chance de Gol é o mais conhecido. Tem prestígio, mas nem por isso é infalível. Como sê-lo se o futebol pode não ser uma caixinha de surpresa ao longo de uma competição, mas é uma caixinha de surpresa pontualmente? Explico: se o futebol não fosse relativamente lógico, considerando-se lógico o entrelaçamento de uma variedade de fatores, o Linense poderia ser apontado como favorito ao título da Série A do Campeonato Paulista desta temporada. Ou qualquer outra equipe considerada pequena. Se nem na matemática o Linense conseguiu essa perspectiva, o que dirá então no gramado? 

Erros são raros 

 O Chance de gol mede o tamanho das possibilidades com base no que ocorreu nos gramados nas rodadas anteriores, numa combinação de dados que refletem o desempenho de cada equipe em casa e fora de casa, tudo contraposto ao que se apresenta do lado adversário. O Chance de Gol não costuma errar. Os acertos são em muito maior número. Mas erros, ou imprecisões, ocorrem. 

Mas acontecem  

 Um exemplo mais recente tem o Penapolense como protagonista. A equipe do Interior foi rebaixada à Série B do Campeonato Paulista na última rodada, quando perdeu em casa para o São Bento de Sorocaba, enquanto o Linense ganhou surpreendentemente em Campinas do já classificado às quartas de final Red Bull e a Portuguesa sucumbiu diante do São Paulo no Morumbi. O São Bernardo também ajudou a afundar o Penapolense, porque ganhou em casa do então já rebaixado Marília. Um resultado mais que esperado. 

Surpreendendo a todos 

 A queda do Penápolis surpreendeu a todos porque o Chance de Gol lhe atribuía não mais que 1,6% de probabilidade de rebaixamento na última rodada. Os favoritos a juntarem-se ao Marília e ao Bragantino eram a Portuguesa, com 90,9% de possibilidades, e o Linense, com 83%. O São Bernardo não contabilizava mais que 0,2%. O Capivariano, que venceu a Ponte Preta, disputou a última rodada com mais risco de queda do que o Penapolense: o Chance de Gol lhe atribuiu 24,4% de probabilidades. 

Como se explica?  

 Como se explica o rebaixamento do Penapolense se nas últimas rodadas o histórico de risco era quase tão baixo quanto o que antecedeu a última rodada? Ao final da 10ª rodada de 15 da fase de classificação o Penapolense registrava 41,7% de risco de queda. Na rodada seguinte caiu para 20,5%. Na 12ª rodada baixou ainda mais, para 1,4%. Na 13ª rodada, manteve o 1,4%. Na última rodada subiu levemente para 1,6%. Ou seja: quando o time do Interior entrou em campo para enfrentar o São Bento, na rodada final, era residual a possibilidade de disputar a Série B  do ano que vem. O regulamento do campeonato é tão exótico que o Penapolense poderia, com uma vitória, ter-se classificado às quartas de final da Série A. Tudo porque a classificação aos mata-matas obedece à ordem de pontos dos respectivos grupos, enquanto o rebaixamento é ditado pela classificação geral. 

Esporte é mesmo assim  

 Surpresas dificilmente deixarão de existir num esporte em que, apesar de todo o arcabouço técnico, tático e emocional que lhe confere previsibilidade até onde é possível, também carrega uma porção de imponderável que costuma fazer estragos. Quando vistas individualmente, nem sempre as equipes que mais bem jogam saem vencedoras. Numa perspectiva de conjunto da obra, a realidade costuma ser diferente. Por isso que o núcleo de estudos do site Chance de Gol é respeitável, fundamentado no que poderia ser chamado de desempenho continuado de cada agremiação numa competição. 

Encrencas aos analistas  

 Uma leitura bruta dos números classificatórios costuma criar encrencas aos analistas. Numa competição relativamente longa, mesmo que não passe de 19 rodadas, como é o caso da Série B do Campeonato Paulista, nem tudo que parece na tábua de classificação é de fato na prática do momento. Quem pegar a classificação do Paulista de Jundiaí, com apenas 23 pontos acumulados em 16 rodadas, provavelmente será traído porque nas últimas nove rodadas foi uma das equipes que mais pontos somaram na competição. Uma reação fantástica para quem ocupava a zona de rebaixamento. O peso desse Paulista num pacote de valores agregados que determinam risco ao adversário é muito maior, portanto, do que parece. 

São Caetano caindo  

 Já o São Caetano vive situação oposta: depois de sete rodadas deslumbrantes, quando ocupava a liderança com 82% de aproveitamento dos pontos disputados, sofreu forte declínio e colecionou nas mesmas nove rodadas do Paulista pontos que, eliminados os anteriores, o colocariam entre os candidatos ao rebaixamento, ou muito próximo disso. 

Estado de competitividade  

 São, portanto, essas nuances temporais que determinam a medição do tamanho de possibilidades de vitória, empate ou derrota de cada equipe na próxima rodada e -- numa perspectiva mais alongada, de definição de posicionamento -- estabelecem pesos que procuram diagnosticar o estado de competitividade individual. Parece simples. 

Acreditou demais  

 O Penapolense acreditou que a previsibilidade do Chance de Gol era o antídoto a qualquer situação desagradável. Seus jogadores e dirigentes se esqueceram de que os resultados dos jogos são tudo o que se imagina como efeitos diretos e indiretos dentro de campo, inclusive as circunstâncias. E olhem que não me refiro à chamada mala branca, que consiste em oferecer dinheiro para uma equipe empatar ou derrotar um adversário incômodo na classificação, cuja utilização geralmente está por trás de situações de dramaticidade nas últimas rodadas. Na Série B, por exemplo, a mala branca já entrou em campo há várias rodadas, alimentada por um dos times que faz tudo para chegar ao G-4.



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