Política

Sem Globo, eleições de 2020
podem mudar rumo da região

DANIEL LIMA - 28/09/2018

Este é um texto especulativo no sentido mais construtivo possível da expressão. Sinalizar que o texto é construtivo vale muito à compreensão do que vem a seguir. Especulação e esculhambação têm sincronia cultural mais que justificada nesse país tropical. Então, o título quer dizer o que? -- perguntaria o leitor incapaz de compreender o que pretendo. Usei a principal emissora da televisão brasileira como chamariz. E para que os leitores não percam o interesse, vou tratar das redes sociais que estão bagunçando o coreto nestas eleições para a presidência da República. Até que ponto o fenômeno chegará às eleições municipais em 2020?

Da mesma forma que tenho me manifestado cético, ou muito mais que isso, sobre os efeitos das plataformas de comunicação digitais ao traçar os caminhos da regionalidade quase inexistente, não tenho dúvida de que o fortalecimento do municipalismo potencializado pelas redes sociais poderá nos levar a novas configurações e fronteiras político-eleitorais, com repercussões sociológicas jamais vividas numa área suburbana da maior cidade do País. Daí advém nosso Complexo de Gata Borralheira. 

Desastre de Paulinho Serra

Vivemos neste ano uma experiência preliminar, mas emblemática a sugerir que há massa crítica a ser explorada pela inteligência humana e a tecnologia digital. Escrevi muito sobre o despautério do prefeito Paulinho Serra, de Santo André, ao tentar impor aos contribuintes aumentos escandalosos do IPTU. Uma olhadinha no site desta publicação revela o tamanho daquela encrenca: as matérias mais lidas nesta temporada concentram-se naquela aventura abortada, finalmente, pelo bom senso. Ou pela preservação da governabilidade.  

Jamais tivemos algo como o Jornal Nacional e outros programas do noticiário da TV Globo para doutrinar ou pretender doutrinar o eleitorado regional. Sem mídia de massa, a região dos tempos de fartura sempre ficou dependente das fontes publicitárias que tornaram o Diário do Grande ABC espécie de TV Globo da região. Guardadas as devidas proporções. Isso faz parte do passado. 

A importância relativa do jornal criado há 60 anos se esvaiu sob os efeitos da sincronização de dois fenômenos, um econômico e outro tecnológico: o empobrecimento da região, cada vez mais escassa em recursos publicitários para sustentar jornalismo de qualidade, e o avanço das redes sociais. 

Creio que em 2020 chegaremos ao primeiro estágio de uma revolução que tornará o jornal (e os demais veículos impressos e digitais, que proliferam na região) proporcionalmente ainda bem menos importante diante do espalhamento democrático, e também muitas vezes nocivo, dos usuários de aparelhos que cabem no bolso e nas bolsas. 

Números indecifráveis 

Na campanha desta temporada à Assembleia Legislativa e ao Legislativo Federal já temos movimentos de utilização de redes sociais na região. O impeditivo à massificação de interesses da sociedade regional é a centralidade na disputa presidencial. Aliás, centraliza tanto que não ousaria fazer qualquer diagnóstico sobre os níveis de participação do eleitorado regional no balanço geral das votações que virão. Não tenho a menor ideia de quantos votos serão nulos e brancos; ou quantos eleitores deixarão de comparecer às urnas. 

O que virá em forma de mudança estrutural de campanhas eleitorais às prefeituras em 2020 já deveria ocupar a atenção dos estrategistas. Os veículos de comunicação produzidos por profissionais de jornalismo, mesmo com as interferências nem sempre republicanas dos mandachuvas e mandachuvinhas nos interiores e nos entornos das publicações, continuarão a ser importantes. Mas como somados jamais foram ou serão o Jornal Nacional, sofrerão mais duramente o que o noticiário da principal rede de televisão do País já acusa. 

Impacto reduzido 

Para entender o que significa de fato a perda de audiência e principalmente de consolidação da linha editorial do Jornal Nacional na opinião pública basta imaginar uma coisa: como seria o quadro eleitoral atual para a presidência da República se as redes sociais em plataformas múltiplas não amenizassem versões daquele noticiário (e de tantos outros), quando não as confrontassem, para não dizer o quanto as desqualificam? 

A importância do Jornal Nacional e do noticiário geral da TV Globo segue relevante, mas a musculatura que assegurava inviolabilidade interpretativa já não é mais a mesma. Jair Bolsonaro é a prova viva disso. 

Sonho com a possibilidade de a região já registrar nas próximas eleições uma situação diferente na disputa pela cadeira principal dos respectivos paços municipais. E nesse ponto as alternativas que a tecnologia de comunicação já deixaram evidenciadas como viáveis contariam muitos. 

Candidaturas que se anteporiam a determinados desígnios de empresas de comunicação sequestradas por grupos de interesse, num jogo de perde-perde que se mantêm ao longo de décadas, seriam muito bem-vindas. 

A condicionalidade de novos nomes em contraposição às forças estabelecidas há muito tempo nos municípios da região determinaria novos valores a impactar a sociedade como um todo. É preciso destruir o ramerame de conveniências que conduziu a região ao estágio de esvaziamento econômico e vadiagem institucional. 

Prova provada 

O efeito-Bolsonaro, com a imensidão de usuários de ferramentas da Internet, causa rebuliço na política nacional e coloca a nocaute teorias de especialistas que duvidavam até outro dia dos impactos. Agora eles já se rendem às evidências. Pesquisas eleitorais, muitas das quais marotas e pretensamente encabrestadoras do eleitorado menos convicto, já não alcançam os efeitos programados. O eleitor bovino começa a ganhar vida própria. Não interessa, nesse ponto, qualquer juízo de valor sobre o perfil do voto, mas a liberdade de decidir. 

Cada dia que passa nesse mundo tecnologicamente maluco sugere que a democratização da Internet em níveis assustadores para os bandidos sociais poderá causar muito mais complicações a quem até outro dia acreditava ser senhor da guerra de votos. 

Não estou a dizer que políticos tradicionais vão deixar a ribalta, até porque reformismo só existe se quem o representa tomar a decisão de ir a campo em busca de votos com programas de governo que espanquem a mediocridade regional de décadas, desde precisamente o assassinato de Celso Daniel. 

A tarefa de alterar o rumo permanentemente declinante da região na economia e no social, e muito mais que isso na esfera institucional, será árdua, mas está sinalizada pelo poder transformador das mídias sociais. Sabendo usar, democracia de verdade não vai faltar.  



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