Política

Ailton Lima assombra futuro
de Paulinho Serra? Veremos

DANIEL LIMA - 21/11/2019

O sonho do prefeito Paulinho Serra é ver o empresário do ramo gráfico fora da disputa pela Prefeitura de Santo André no ano que vem. Ailton Lima é o nome e o sobrenome dos pesadelos do tucano. Ex-vereador e ex-secretário municipal, Ailton Lima conhece a máquina pública como Paulinho Serra. Só não a comanda. Mas pretende comandá-la de modo a promover mais um capítulo do que seria a maldição da reeleição em Santo André.

Trata-se do fato de que ninguém se reelege desde Celso Daniel. Prefeitos de um mandato apenas foram sequenciais. Paulinho Serra temeria esse destino. E Ailton Lima é observado atentamente como o cavaleiro do apocalipse tucano.

Depois do pesadelo do lançamento da candidatura de Bruno Daniel, Paulinho Serra sabe que o segundo turno com viabilidade maior de sucesso estaria condicionado a contar com o apoio de Ailton Lima. Como Ailton Lima garante que será candidato, eles podem se enfrentar no turno final em outubro do ano que vem. Seria o pior cenário a Paulinho Serra.

Ailton Lima parecia dar razões às informações que se disseminaram e que se tratariam de desistência da disputa. Melhor dizendo: que, pressionado por forças ocultas, mas não tão ocultas assim, Ailton Lima teria repensado a candidatura e teria se aproximado de Paulinho Serra em nome de um acordo que traçaria o futuro político a partir da suposta reeleição do tucano. Até mesmo a vaga de vice-prefeito em outubro do ano que vem teria sido oferecida. Ou solicitada.

Resposta às especulações

Deu-se como verdadeiramente intocável a alternativa que pacificaria a direita e o centro do espectro eleitoral em Santo André. Se havia mesmo algum ensaio nesse sentido, porque em política tudo é possível, inclusive o desgaste de adversários com pressupostos em desacordo com o movimento das pedras, eis que Ailton Lima surge numa entrevista ao Canal RN, de Marcelo Uvinha, um repórter infatigável nas redes sociais.

E as declarações do entrevistado não foram nada animadoras a Paulinho Serra. Ailton Lima seria candidatíssimo. E, ao que parece, vem com a cartucheira de críticas carregadíssima, além de financiadores que teriam observado o quadro municipal e concluíram que não podem centralizar apoio ao prefeito de plantão, porque o prefeito de plantão elevou demais a temperatura de animosidades.

Devo preparar nos próximos dias uma bateria de questões para Ailton Lima responder. Seria uma Entrevista Especial. Semelhantemente à que produzi com Bruno Daniel ainda recentemente. Vou consultar sua assessoria nesse sentido. Como o fiz diretamente com Paulinho Serra.

Ailton Lima tem todo o direito de dizer que não pretende ser entrevistado por um jornalista que não lhe dará folga nos questionamentos. Só espero que não repita Paulinho Serra, que se prontificou a responder e o resultado está estampado todos os dias na primeira página desta revista digital, em forma de contagem progressiva de fuga da raia.

Tempos diferentes

O jogo eleitoral a ser jogado em Santo André já foi muito mais promissor a Paulinho Serra. Quem ousar dizer que o tucano não estará no segundo turno comete erro crasso. Quem tem a máquina pública à disposição e morre no primeiro turno não merece ser chamado de político.

Paulinho Serra fora do segundo turno seria uma aberração semelhante a quem ousar afirmar que o segundo turno será o que poderia ser rotulado de mamão com açúcar, como o foi em outubro de 2016. Mamão com açúcar significa uma grande moleza. Em 2016, Paulinho Serra aglutinou praticamente todas as forças contra o petista Carlos Grana, inclusive Ailton Lima. Vivia-se o epicentro dos escândalos do Petrolão, que atingia ainda principalmente os petistas. Qualquer um ganharia a disputa contra o PT. No Estado de São Paulo, foi uma lavada. O PT praticamente desapareceu do mapa.

A perspectiva para o ano que vem não é bem assim. Se é verdade que o PT com LulaLivre é um convite a novos desbastamentos de votos, depois de se ensaiar recuperação mais que pronunciada na disputa presidencial do ano passado, a candidatura que pode mesmo ferir os interesses de Paulinho Serra seria de Ailton Lima. Ele teria maiores possibilidade de concorrer na classe média e média baixa com Paulinho Serra e teria a aderência forte da periferia mais popular.

Os partidos de esquerda, que sonham em chegar ao segundo turno, não fariam movimento diferente, diante de eventual insucesso, em apoio a Ailton Lima. Filiado ao PSB de Márcio França, candidato derrotado ao governo de São Paulo por margem mínima de votos, Ailton Lima seria mais digerível pela esquerda.

Deixo claro que não estou expressando juízo de valor ético, administrativo e político de Ailton Lima. O parentesco por conta do sobrenome é consistente tanto quanto o de qualquer cidadão brasileiro que tem essa ramificação nominativa mais que popular.

O que quero dizer mesmo é que há nos redutos de Paulinho Serra um temor de disputar o segundo turno com Ailton Lima. Mais do que com Bruno Daniel.

Segundo turno

O confronto de finalista com Bruno Daniel evocaria o lustro do irmão famoso, cuja morte ganhou dimensões internacionais. Mas o raciocínio eleitoral dos tucanos é que haveria dificuldades menos pronunciadas de sensibilizar o eleitorado.

Bastaria relacionar Bruno Daniel a uma espécie de frente de esquerda. O candidato do PSOL se juntaria ao PT e a outras agremiações que delineariam um combate ideológico de direita versus esquerda menos problemático do que contra Ailton Lima, com maior abrangência de potencial eleitoral.

Ou seja: Paulinho Serra seria um Bolsonaro contra um Bruno Daniel que lembraria Fernando Haddad. A alternativa Ailton Lima seria um confronto entre o mesmo Bolsonaro e algo bem mais flexível que um Ciro Gomes. O exemplo é apenas ilustrativo no sentido de posicionamento das peças no tabuleiro de xadrez do eleitorado nacional. 

Endividamento comprometedor

Na entrevista a Marcelo Uvinha, Ailton Lima ensaiou um dos pontos cardeais da artilharia que empalideceria a candidatura de Paulinho Serra. Ailton Lima deixou evidenciada preocupação de ordem fiscal: o prefeito estaria comprometendo o futuro de Santo André na medida em que, por falta de recursos orçamentários, aumenta o calibre de empréstimos que vão estourar no colo das próximas gestões.

Da mesma forma que as estripulias no Semasa redundaram na venda da autarquia nas áreas de água e esgoto, os financiamentos drenariam recursos municipais a investimentos simplesmente porque ninguém empresta dinheiro de graça. Aliás, se fosse de graça não seria financiamento, seria doação.

No fundo, o que existe a permear o presente e o futuro da Administração de Santo André é a incapacidade de geração de recursos próprios sem esfolar ainda mais a sociedade, como se pretendeu com o aumento cavalar do IPTU. O esvaziamento econômico vem do passado, mas Paulinho Serra nada fez para sinalizar mudanças. Exceto um marketing requenguela.

Nos tempos de pujança econômica, nos anos 1970, do orçamento de Santo André cerca de 60% eram direcionados a investimentos públicos em obras, equipamentos e tudo o mais. Aliás, quem lembrou esse ponto ainda outro dia foi Ademir Medici, na coluna Memória do Diário do Grande ABC, ao reportar a morte de Francisco Cocci, meticuloso secretário de Finanças naquele período.

Era uma Santo André de Newton Brandão e Antônio Pezzolo, principalmente, a nadar de braçadas antes do dilúvio da desindustrialização, contra a qual seus sucessores nada fizeram. Exceto Celso Daniel.

Todos contra Paulinho?

Ainda vou escrever muito sobre as eleições municipais do ano que vem no Grande ABC. Há vários ângulos a observar. Certo mesmo, nesta altura do campeonato é que Paulinho Serra vai ter de lidar com uma situação totalmente diversa da que o destino lavajatense lhe ofereceu de graça naquela temporada em que correu para a galera e ganhou a disputa. Agora há adversários mais robustos.

Mais que isso: há uma multiplicação deles, à direita, ao centro e à esquerda, num formato de potencialidades que pode ser traduzido como complicador excepcional.

O que o prefeito de Santo André mais teme é que um mote avassalador venha a ser disseminado nas redes sociais em outubro do ano que vem, sobretudo no possível segundo turno. Nada pior para o candidato à reeleição que algo como “Todos contra Paulinho Serra”.  No caso, “todos” seriam os concorrentes de maior visibilidade, independentemente de quem esteja na condição de antagonista principal do tucano.



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