O tamanho da herança de votos que Janaina Paschoal e Joice Hasselmann deixam principalmente para Carla Morando e Carolina Serra nas eleições deste ano à Assembleia Legislativa vai depender do que as duas mulheres do Grande ABC com mais potencial de votos locais vão fazer até dois de outubro próximo.
Há um latifúndio de milhares de votos de 2018 que não é somente de voto feminino a ser explorado, mas pode ser predominantemente.
O apelo ao voto feminino nestes tempos em que gênero e outros badulaques identitários ganham tração é um adicional à potencialidade eleitoral das duas candidatas, mulheres dos prefeitos de Santo André e São Bernardo.
Entretanto, como não há estudo algum a satisfazer a curiosidade do quanto de mulheres votam em mulheres, tanto Carla quanto Carolina não atuam diretamente nesse sentido. Nem precisa.
MENOS FEMINISMO
Nenhuma feminista adotaria esse traçado de marketing eleitoral. Feminismo só fica bem no campo comportamental desde que não sirva de pretexto à criminalização de inocentes.
Excluir ou discriminar homens das urnas não é algo matematicamente saudável para as mulheres.
A iniciativa, portanto, não teria nada a ver com qualquer pregação de gênero que leve à preferência de com quem se deita na cama ou da forma com que se dão relacionamentos diversos entre homens e mulheres.
MARIDOS DISTANTES
Carla Morando já é deputada estadual. Carolina Serra pretende ser. Elas só não estão eleitoralmente juntas nessa disputa, como deputada federal e como deputada estadual, porque os maridos há algum tempo trocaram a amizade pela distância.
Como em briga de marido e marido não se deve meter o garfo, fico no meu canto apenas lamentando a impossibilidade de uma dobradinha de mulheres que parecem poderosas e decididas a ter um horizonte que deixaria no passado a função de primeira-dama. A tradição de primeira dama que vira deputada e depois desaparece talvez não seja o roteiro traçado por Carla e Carolina.
Carolina e Carla, ou Carla e Carolina, formariam uma dupla interessante nos santinhos eleitorais desta temporada. Nas temporadas seguintes, de todo modo, a história poderá ser diferente.
MULHERES- MULHERES
As mulheres de hoje não são as mulheres de ontem, como se sabe. Todos as convocam a novas empreitadas eleitorais. Inclusive os homens que não são bobos nem nada.
Vou mais longe: fico imaginando o que poderiam fazer na Assembleia Legislativa. Seriam elas, quem sabe, catalizadoras de uma reaproximação dos maridos?
Em briga de marido e marido acho que nem as mulheres devem meter o garfo, mas não custa nada incentivar, não é mesmo? Quem sabe as coisas mudem e o Grande ABC ganhe com isso?
MAIS DEPENDêNCIA
Mas, mesmo que houvesse para essas eleições a possibilidade de as duas candidatas formarem uma chapa, como se os maridos fossem amigos desde sempre, a dobradinha também teria de passar por outros concertos políticos.
Especialmente em São Bernardo, onde o vice-prefeito Marcelo Lima concorre a uma vaga de deputado federal para embalar o sonho rumo ao Paço Municipal.
Em Santo André, sem um concorrente direto, saído do forno municipal, Paulinho Serra está com o deputado federal Alex Manente como principal parceiro de Carolina. Manente bateu asas de São Bernardo, onde o tráfego é mais pesado. Santo André é uma lavoura próspera. São Bernardo é uma plantação de pepinos e abacaxis.
FENôMENOS ELEITORAIS
Nas eleições de 2018, Janaina Paschoal e Joice Hasselmann foram fenômenos eleitorais no Estado de São Paulo.
Nos sete municípios do Grande ABC a musa do impeachment de Dilma Rousseff registrou 145.817 votos, de um total de 2.031.829 entre os paulistas.
Já Joice Hasselmann se tornou deputada federal no caudal do bolsonarismo, como espécie de também musa mais atrevida do candidato vencedor, com o total de 76.513 votos locais, entre os 1.064.047 milhão no Estado.
JORNADA LUCRATIVA
Diretamente, preto no branco, sem lero-lero, tanto Carolina Serra quanto Carla Morando saem com um baita lucro na disputa desta temporada. Ganham duplamente. Não há concorrentes estreladas e dominadoras de redes sociais.
Primeiro porque Janaina Paschoal não será concorrente. Disputará com enormes possibilidades de derrota a vaga paulista ao Senado Federal.
Segundo porque a herança de uma imagem até prova em contrário positiva de Janaina no eleitorado mais conservador é imensa. Quem ganha com isso é o voto feminino. Afinal, quando uma mulher satisfaz numa trincheira tão machista como a política, o legado é positivo.
ASSIM E ASSADO
E o contingente de votos destinados há quatro anos a Joice Hasselmann, de que forma vai interferir na votação de Carla Morando e Carolina Serra que disputarão outra raia eleitoral?
Joice é candidata a deputada federal, como o foi há quatro anos. Portanto, assim como não foi concorrente de Carla Morando naquela disputa (Carolina Serra parte para a disputa pela primeira vez) Joice não cheiraria nem nada neste ano.
Não é bem assim, embora também não se possa descartar que seja assim mesmo.
A possibilidade de que o desgaste de Joice Hasselmann junto ao eleitorado mais conservador (após romper com Jair Bolsonaro) move as águas em direção a mulheres mais comedidas, por assim dizer, contemplaria as duas concorrentes mais fortes da região.
Joice é espetaculosa, estridente, controversa. Carolina e Carla não têm jeito para celebridades.
VOTOS CRUZADOS
Parece difícil e problemático cruzar os votos que Joice Hasselmann perderá nestas eleições a deputada federal em relação ao que obteve há quatro anos e a possibilidade de que isso quebre de vez a dobradinha compulsória que fez com Janaina Paschoal.
Traduzindo: o que tem a ver os votos de Joice Hasselmann há quatro anos com os votos que terá agora se não disputará o que não disputou em 2018, ou seja, a mesma competição de Carla Morando (e agora também de Carolina Serra)? Principalmente porque não há na região uma candidata à Câmara Federal a concorrer na mesma linha ofensiva do vácuo numérico que será deixado por Joice Hasselmann.
Sei que o enunciado é complexo, mas é assim mesmo que devagar chegaremos ao que pretendo para embolar o meio de campo interpretativo.
AUTOCONTRADITÓRIO
Mesmo se admitindo que os votos federais de Joice Hasselman não têm ligação direta com os votos estaduais de Carla Morando e Carolina Serra, insisto numa possibilidade de autocontradição.
Quantos votos Carla Morando perdeu na região e especialmente em São Bernardo em 2018 por conta da dobradinha Janaina-Joice, numa avalanche que tomou conta das redes sociais utilizando a mesma linguagem política que as aproximaram do eleitorado conservador?
Dissociar os votos de Janaina Paschoal de Joice Hasselmann em 2018 me parece um exagero. Associá-los seria mais justo.
DOBRADINHA DE VOTOS
A dobradinha informal deu grandes frutos. Como mostraram as urnas. A reciproca é verdadeira agora: Joice Hasselmann correrá solteira, por assim dizer. Mais que solteira: não lhe faltam detratores que a embeveceram no passado. Debate-se com insistência a possibilidade de naufrágio da candidatura.
Foi tão forte a parceria entre Janaina e Joice em 2018 que, apenas como exemplo, Carla Morando sofreu um bocado na disputa na própria casa, jogando com o apoio do prefeito Orlando Morando e naturalmente com a máquina.
Foram 46.908 votos dos eleitores de São Bernardo para Carla Morando enquanto Janaina Paschoal chegou a 44.102. Em termos de votos válidos, 11,89% a 11.18%. Que mulher estaria na próxima esquina eleitoral a forçar Carla Morando a medir os passos em forma de sinal amarelo? Praticamente nenhuma.
Qual foi a votação de Joice Hasselmann em São Bernardo em 2018? Mais da metade do que foi registrado nas urnas eletrônicas a favor de Janaina Paschoal: exatamente 24.417.
Tivemos, portanto, um paradoxo: ao mesmo tempo em que os eleitores prestigiaram como nunca mulheres nas urnas eletrônicas, algo que não se via desde sempre na disputa pela Assembleia Legislativa ou Câmara Federal, as candidaturas locais sofreram um bombardeio de forasteiras que chegaram na velocidade da tecnologia de bolso. O WhatsApp nunca foi tão influente.
Quanto ao território livre de Santo André neste ano, convém lembrar que Carolina Serra terá um vácuo produtivo de 26.162 votos contabilizados por Joice Hasselmann e 51.455 de Janaina Paschoal.
Acho que estou longe de esgotar o assunto. Em briga de maridos e mulheres que têm o Grande ABC como interesse, meto a colher e o garfo e preparo um menu especial.
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01/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (20)