Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (31)

DANIEL LIMA - 08/11/2024

Está imperdível esta nova edição da série que resgata o que aconteceu na Redação do Diário do Grande ABC há exatamente duas décadas. Se você tem curiosidade, ao menos curiosidade, de saber o que é o centro de uma produção jornalística, não perca essa oportunidade. Nesta nova edição que recupera a história abortada de reconstrução do jornalismo diário no Grande ABC, bato insistentemente na tecla do banco de horas. A edição do Capital Digital Online que se segue,  foi bastante extensa. A leitura é convidativa na medida em que é segmentada por notas individuais intercomplementares ou não, como decidimos desde a primeira edição. 

 EDIÇÃO NÚMERO SETE

Grande ABC, terça-feira, 23 de agosto de 2004. Estamos na fita com mais uma edição desta newsletter que tem a propriedade de estabelecer uma rede de informações da área de insumos editoriais do Grupo Diário. Lamentavelmente, iniciamos a semana com a dor da perda de uma companheira de trabalho. Ana Lucia foi-se embora e deixa muita saudade na Redação. Conheci-a apenas de passagem. Não tivemos oportunidade de trocar sequer um diálogo. Tenho certeza de que ela estará sempre presente, como nos últimos quatro anos.

 BANCO DE HORAS (I)

Ao praticamente completar os primeiros 30 dias de atividades, conseguimos com suporte dos editores e dos demais companheiros de Redação reduzir drasticamente o acumulado permanente do banco de horas que inconsequentes resolveram implementar. No período que vai de 21 de julho a 18 de agosto, segundo relatório passado pela Amanda Loureiro, registramos 134 dias de banco de horas. Deduzidos os 98 dias de descanso, o saldo de 36 dias é infinitamente mais baixo que o de meses anteriores. Isso não significa que estamos satisfeitos, mas é um bom começo. Particularmente, os editores e os profissionais da Secretaria precisam manter severa vigilância para, nos próximos 30 dias, os resultados serem ainda melhores. Quem sabe com eliminação de uma parte do acumulado em períodos anteriores.

 BANCO DE HORAS (II)

Só para terem ideia do que representam os 36 novos dias acumulados entre 21 de julho e 18 de agosto, no período anterior, de 21 de junho a 20 de julho, o banco de horas acumulou 327 dias adicionais, porque tivemos um total de 379 dias acrescentados e 47 dias reduzidos com descanso. O saldo de 327 dias agravou, como se sabe, uma situação terrível.

 BANCO DE HORAS (III)

Tão terrível que no período anterior, de 21 de maio a 20 de junho, o nefasto banco de horas registrou 278 dias de débito para a empresa, fruto de 337 novos dias de trabalho adicional e apenas 59 de descontos.

 BANCO DE HORAS (IV)

Para completar, no período mais anterior ainda, de 21 de abril a 20 de maio, foram gerados 398 dias contra apenas 19 dias descontados por força de descanso, o que desaguou em crédito de 379 dias para os colaboradores.

 BANCO DE HORAS (V)

Entre o período de 21 de abril a 20 de julho — portanto, antes que este profissional chegasse à empresa –, o banco de horas se transformou numa montanha de 984 dias de crédito para os colaboradores — média de 10 dias de crédito por dia. Isso mesmo: média de 10 dias de acúmulo de crédito por dia. Conseguimos, em 30 dias, transformar o que era acúmulo de três dias em acúmulo mensal. E não queremos, de forma alguma, que a contabilidade do próximo período seja diferente.

 BANCO DE HORAS (VI)

Não é difícil aparecer o espertalhão que inventou o banco de horas e, com base nos novos números que apresentamos, dizer que a ideia era correta mas a aplicação se transformou em caos. Nada disso: essencialmente, o banco de horas é uma bobagem porque formalizou a industrialização do descanso em substituição a eventual mandonismo escravagista. Uma redação integralmente unida e reflexiva sobre a importância do produto não precisará de banco de horas para disciplinar-se quanto à jornada de trabalho, estabelecendo mecanismos de compensação que não criem esse monstro que ora enfrentamos.

 BANCO DE HORAS (VII)

Banco de horas sob outro conceito é algo que deve ser gerido diretamente por quem entende de jornalismo, não por quem acha que entende de jornalismo. Fica, portanto, estabelecido que vamos caprichar ainda mais nesse assunto e provar que é possível fazer um produto melhor sem alimentar esse monstro. Sem o banco de horas de fato ou de direito, será mais fácil entender todos os mecanismos de redação e, com isso, ter uma dimensão mais apropriada do quadro de colaboradores. Daí, sem dúvida, o diagnóstico será mais consistente para a arremetida rumo a novos saltos de qualidade informativa.

 TRANSPORTE

Estamos solicitando números semelhantes do custo de transporte da redação. As dificuldades são imensas, por falta de sistematização. Aliás, há de fato pouca qualidade na formulação de respostas dessa área, porque há vícios informativos que, infelizmente, precisam ser corrigidos. Nosso desafio não é apenas reduzir o número de horas consumidas por dia com o setor de transporte. Queremos muito mais que isso. Queremos, com base em dados históricos, reduzir drasticamente a ociosidade de horas/veículos. Quem acha que isso é difícil não consegue ter ideia do quanto as estatísticas dão conta de respostas. Há informações de que a ociosidade média do setor de transporte atinge 40%. Isso significa 40% de custos adicionais no setor. Podemos trabalhar com margem de ociosidade muito menor. Basta sincronizar demanda e oferta.

 QUEM É QUEM (I)

Colocamos toda a equipe operacional da Editora Livre Mercado para reforçar a organização da festa do Quem é Quem nesta quinta-feira. Aliás, toda a equipe da Editora Livre Mercado que há 11 anos cuida do Prêmio Desempenho está à frente das questões operacionais do evento.

 QUEM É QUEM (II)

Pela primeira vez na história do Quem é Quem o editor do anuário falará aos convidados. Helder Lima foi escalado para falar durante 10 minutos, mostrando os principais pontos da publicação que será entregue ao final do evento. Nada mais justo que o profissional que atuou diretamente com o insumo editorial seja levado ao palco. Precisamos mostrar nossas caras aos empreendedores da região.

 QUEM É QUEM (III)

Pretendia não fazer discurso aos convidados do Quem é Quem, mas o majoritário da companhia exige que eu me apresente ao público. Então o farei.

 QUEM É QUEM (IV)

A atuação de Kátia Passadore, gerente operacional da Editora Livre Mercado, é destacadíssima nas ações preparatórias do Quem é Quem.

 QUEM É QUEM  (V)

Vamos ter uma cobertura especial do Quem é Quem na edição de sexta-feira do Diário e também uma reportagem especial para a edição de domingo. Teremos para isso uma reunião com a editoria de Economia. Também participarão todos os representantes da Secretaria.

 QUEM É QUEM (VI)

Também teremos nesta semana uma reunião com todos os profissionais envolvidos na área operacional do Quem é Quem. Como fazemos com o Prêmio Desempenho, teremos uma hora para espécie de treinamento do que acontecerá no dia da festa. Essa simulação é fundamental para o sucesso. Não podemos nos descuidar.

 QUEM É QUEM (VII)

A ilustração de capa do anuário que será lançado quinta-feira poderia ter sido tratada com mais cuidado. Quando se deixa para a última etapa a definição da capa, tudo pode acontecer. Felizmente, conseguimos chegar a uma ilustração satisfatória, praticamente na marca de pênalti.

 COZINHA IMPORTANTE

Com a chegada de Marcelo Moreira, com o retorno do Milani, com o suporte do Sasaki, com Eduardo Reina e com Paulo Carneiro estamos contando com uma Secretaria de Redação capaz de dar o equilíbrio necessário ao produto, atuando diretamente com este profissional e também com os editores e repórteres. Precisaríamos de pelo menos mais um profissional no setor, mas isso é algo que resolveremos com vagar. Uma Secretaria interativa com todas as editorias é condição indispensável para que o jornal tenha personalidade forte, coesa, sequencial, e, portanto, capaz de tornar-se irresistível aos leitores.

 ESTABILIDADE

O nível de oscilação da qualidade do jornal sofreu nesta última semana menos trepidação do que na anterior. Isso é perfeitamente natural porque aos poucos estamos conseguindo arrumar a casa no essencial, embora falte muito ainda para o ideal. Temos tido edições mais consistentes e menos vacilantes. Os leitores captam essas transformações porque são induzidos a navegar nas ondas das melhorias. A maioria deles, leitores, não sabe por que o jornal melhora, mas é atraída por essa melhora. Lembramos, apenas, que temos um caminho longo pela frente.

 QUEIMANDO AS MÃOS

Querem uma prova de que ainda precisamos melhorar muito? Há pautas que queimam as mãos de editores e repórteres. Há precipitações em publicar determinadas matérias nem sempre bem apuradas, ou se edita uma matéria bem apurada mas sem o menor cuidado gráfico. Tudo isso faz parte de aprendizado. Só estaremos suficientemente maduros no dia em que o banco de matérias (isso mesmo, banco de matérias) será manipulado (no bom sentido) sem afobação. Hoje, como se sabe, mal conseguimos dar conta das matérias do dia, quanto mais pensar em banco de matérias.

 ANCORAGEM

Aos poucos nossa equipe começa a entender a diferença entre repassar informações e ancorar informações. Repassar informações significa a comodidade de levar para o papel todas as bobagens que os entrevistados afirmam, dando-lhes, portanto, chancela de verdade. Ancorar informações significa opor-se de forma sutil e consistente a todas as bobagens que as fontes de informações procuram repassar aos leitores. Não podemos deixar que os interesseiros de sempre na malversação de informações usem o jornal para vender mentiras, ilusões e truques. Damos-lhes voz, mas lhe opomos a consciência profissional. Compete principalmente aos editores destilarem esse tipo de conceito. Acabou-se o tempo de amedrontamento nesta redação. A sociedade espera que desempenhemos nossas funções sem titubeios.

 PARA JUVENTUDE

Vamos definir nesta segunda-feira, em reunião com a Secretaria, o conteúdo do suplemento especial que prepararemos sobre os pontos mais badalados e requisitados da vida noturna no Grande ABC. O suplemento será jornalisticamente forte e atingirá principalmente um público especial do qual o jornal tem sentido muita falta — os jovens.

 INFORMEDIÁRIO ALTERADO

Mudamos o visual e o conceito do Informediário. Basta uma lida com cuidado para ver que se ampliou o raio de cobertura. E de forma sistemática. O novo visual ficou ótimo. A Carla Fornazieri, da Editora Livre Mercado, reforçou a equipe.

 PRIMEIRO PLANO

Também está de cara nova o Primeiro Plano. Sob os cuidados da Editora Livre Mercado, regionalizamos um espaço que havia perdido essência informativa. Acrescentamos foto do destaque do dia.

 PRÊMIO DESEMPENHO

A partir de outubro — talvez até antes — passaremos a publicar no Diário os cases que concorrerão ao Prêmio Desempenho do ano que vem. Dessa forma, reforçaremos uma tradição da revista LivreMercado. Jornalistas da Editora Livre Mercado também produzirão cases para o jornal. Sempre dentro do horário de trabalho. Nunca implantamos banco de horas na Editora Livre Mercado. E sempre funcionamos muito bem, sem escravizar ninguém. Muito pelo contrário, porque lá não se trabalha de sábado e domingo e os feriados prolongados são uma festa. Precisamos transplantar para o jornal todo o know-how de cases da Editora Livre Mercado. Acreditem: produzir cases empresariais, governamentais e sociais é uma cultura específica.

 SUPLEMENTO ESPECIAL

Exceto pela ilustração da capa, o suplemento de aniversário de São Bernardo me agradou. A abordagem sobre qualidade de vida, sugerida pela Rita Camacho, foi bem encaminhada. O que precisamos é tratar melhor esses suplementos. Mas já melhoramos em relação ao passado recente, porque deixou de ser um veículo quase oficial do administrador de plantão. Precisamos definir alguns conceitos que vão fazer a diferença na hora da produção. É impossível fazer produto adequado sem planejamento.

 REGIONALIDADE

Estamos levando a fundo o critério de regionalidade. Nossas manchetes de primeira página estão seguidamente voltadas para sustentar essa filosofia. E tem de ser isso mesmo, porque só assim conseguiremos a atenção dos leitores. Nosso jornal perdeu a arrogância de querer competir com veículos da Capital naquilo em que eles são invencíveis — o melhor tratamento do noticiário nacional — mas, em contrapartida, dá-lhes uma sova sobre os acontecimentos em nosso território.

 CULTURA PORRETA

Cultura & Lazer está ficando porreta com pautas questionadoras sobre a situação da área no Grande ABC. Só haverá avanços na área cultural na medida em que o jornal souber se posicionar sobre questões que estão imersas em dúvidas ou são absolutamente desconhecidas. Nosso Complexo de Gata Borralheira só será exorcizado com a valorização de nossos talentos. Jamais deveremos pecar por fazer jornalismo de bom-mocismo. A sociedade só reconhecerá os jornalistas empedernidamente decididos a provocar mudanças.

 BRANDÃO RAIVOSO

A entrevista da edição de hoje com o candidato Newton Brandão é antecedida de um lide que procura explicar o ambiente em que o tucano transformou o que deveria ser uma conversa amistosa e esclarecedora. Escrevo amanhã a coluna Contexto sobre o assunto. Nossos homens públicos só compreenderão a dimensão das mudanças neste jornal quando se derem conta de que não nos acovardaremos jamais. Não podemos esquecer que vivemos em autêntico caldeirão de interesses e que, portanto, devemos ter maturidade para afastar tentativas de controle de nossa pauta. A pauta é nossa.

 PESQUISA BRASMARKET

O diretor-presidente do Instituto Brasmarket, Ronald Kuntz, mandou emeio para a diretoria em agradecimento à cobertura que o jornal deu à mais recente rodada de pesquisa eleitoral e de desvendamento dos administradores públicos da região. O fato é que o jornal transformou os insumos da Brasmarket em noticiário importante. Trata-se de parceiro que merece todo nosso empenho. 

 GREGO OPORTUNO

Recomendei ao jornalista que personaliza o grego das Olimpíadas que seu talento para esse tipo de matéria deveria ser mais explorado. Trata-se de nosso José Simão. Temos leitores ávidos por novidades e creio que o Anastassius Christopoulos chegou em boa hora. Sugeri a ele que mantenha coluna diária no Cultura & Lazer. Bastam 30 linhas apimentadíssimas para os leitores não desgrudarem os olhos. Precisamos dessa espécie de licença poética num jornal reconhecidamente sisudo. Fazer jornal diário é algo como frequentar um supermercado: há espaço para tudo, desde que se venda esse tudo. Os encalhes devem ser desprezados. Por isso há toda uma tecnologia de informação que mede em tempo real a “audiência” de cada produto. Como os programas de TV. A página de pescaria, por exemplo, está na alça de mira. Vamos reduzi-la, por enquanto. Desconheço jornal razoavelmente respeitado que se dê ao luxo de tanto espaço para algo tão específico. Pescaria é assunto para loja especializada.



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