No açougue de complicações em que se meteu com financiamento irregular da campanha que o levou à Prefeitura de Santo André, só existe uma saída viável para o médico Aidan Ravin tentar completar a gestão, mesmo que aos trancos e barrancos: submeter-se ao fatiamento do governo que, em princípio, pretendia gerir à moda Chaves.
Não falta quem pretenda fazer da administração Aidan Ravin uma grande churrascada fisiológica de centro-direita, com farta distribuição de benesses. É essa perspectiva, aliás, que torna os adversários políticos e partidários do petebista comedidos na repercussão dos fatos. Querem evitar que a festa seja de tal forma de arromba que nem um caminhão de Engov abrandaria a ressaca orçamentária.
Tanto o PT de Vanderlei Siraque quanto o DEM de Raimundo Salles não querem meter a mão nessa cumbuca entre outros motivos para que não se transfira a eles o peso de antipatia pública por eventual, embora improvável, guinada na situação, ou mesmo pela possível queda do prefeito. Siraque e Salles estão, ao contrário, ruminando o noticiário e esforçando-se para não se pronunciarem oficialmente. É uma disputa para ver quem mais resiste ao balde cheio de água colocado acima da cabeça de cada um deles e que pode molhá-los à Big Brother Brasil caso façam qualquer movimento em falso.
São ex-aliados traídos por Aidan Ravin que estão nas frondosas raízes, no sólido caule e na robustez da copa da maior crise institucional da administração pública do Grande ABC neste início de temporada.
Há quem pretenda transferir a conta do desgaste moral e ético de Aidan Ravin aos petistas e aos democratas, porque esperam reinar ao se locupletarem de uma multidivisão partidária, mas os leitores e eleitores mais atentos não podem cair nessa ladainha oportunista. Aidan Ravin está sendo chamuscado por gente que o ajudou a vencer e só não desabou de vez ainda porque o voyeurismo de PT e do DEM prevalece.
Para Aidan Ravin, não há castigo maior do que ter de compartilhar o poder, convenhamos, quando se pretendia exatamente o contrário, ou seja, fazer com que todos girem em torno do poderoso de plantão.
O risco do prefeito de Santo André é uma guinada salvacionista em direção à hecatombe administrativa, na forma de contemplar a todos aliados e ex-aliados, em posição radicalmente contrária a que tomou quando assumiu o cargo.
Há tanto despreparo e irregularidades na documentação da campanha eleitoral de Aidan Ravin que a conclusão óbvia é cortante: ele simplesmente duvidava da própria vitória. Aliás, quem acreditava?
O fatiamento do governo de Aidan Ravin já se vem insinuando nos bastidores, mas não ganha o ritmo esperado pelos ex-aliados que reúnem a nitroglicerina que o faria explodir.
A impressão que se passa é que Aidan Ravin teria certa dificuldade de entendimento do caos institucional que o cerca. A ficha de inquietação demoraria para ser processada. Mas neste último final de semana houve indicativos de que, finalmente, o prefeito se deu conta da situação. E que por isso mesmo tenderia a buscar aliados em vez de transformar companheiros de campanha em inimigos.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ