Depois da desastrosa rodada do meio de semana para o futebol do Grande ABC na Série A do Campeonato Paulista (menos para o São Caetano, que ganhou passaporte de primeira classe com direito a chegar ao G8, grupo dos classificados à fase de mata-matas) não é idiotice nem loucura afirmar que o torcedor regional vive algo como a Escolha de Sofia. Terá de optar entre a queda do São Bernardo ou do Santo André. Uma das duas equipes se juntaria a Grêmio Prudente, Linense e Noroeste como potenciais rebaixados à Série B.
O campo de concentração de forças semelhantes entre pequenos e médios do Campeonato Paulista é implacável com quem se descuida e imagina que tradição, feitos recentes e qualquer outro quesito sejam suficientemente fortes para sustentar algo como direito adquirido de permanecer na Série A. Caso do Santo André, vice-campeão da temporada passada, do centenário Noroeste de Bauru, do empresarial Grêmio Prudente ou do festejado Linense.
Qualquer situação diferente dessa nas próximas quatro últimas rodadas, deverá ser catalogada como surpresa. Não é a toa que a direção do Tigre, como é conhecido o São Bernardo, abandonou de vez a ideia de saltar para a primeira classe e vê esborrachar-se o projeto de disputar a Série D do Campeonato Brasileiro. Sem calendário no segundo semestre, o São Bernardo dissolverá o grupo atual. Repararam como calendário é a base de tudo? Todo um projeto de mobilização da torcida é interrompido, ou duramente reduzido, por conta disso.
Antes de discorrer sobre as possibilidades das equipes que formam a turma de segunda classe classificatória do Campeonato Paulista, exponho o ranking de possibilidades de queda:
1. Grêmio Prudente, 80%.
2. Santo André, 80%.
3. Linense, 80%.
4. Noroeste, 70%.
5. São Bernardo, 60%.
6. Ituano, 20%.
7. Americana, 10%.
Embora tenha conseguido bom resultado no Canindé contra a Portuguesa, a sorte do Santo André não está para brincadeiras. Afinal, o Ituano surpreendeu a Ponte Preta em Campinas e o Botafogo derrotou o São Bernardo no Primeiro de Maio.
Menos mal — e por isso mesmo, paradoxal — para o Santo André que o São Bernardo também entrou no redemoinho rebaixatório, mas no fundo seria melhor se a situação fosse mais favorável ao rival, porque o jogo marcado para a penúltima rodada no Primeiro de Maio promete revestir-se de dramaticidade muito além do que a própria condição de clássico sugere. A sobrevivência na competição estará em jogo.
Para que as duas equipes da região escapem do rebaixamento é indispensável que o Ituano não consiga repetir novas vitórias como a de ontem à noite em Campinas. Mas a ordem dos jogos que vai vir e os riscos são favoráveis ao time de Itu, que vinha jogando fora de casa desde a abertura do campeonato, mas que, já contra o Santos, terá o apoio direto da torcida com a reabertura do Estádio Novelli Júnior.
Já o São Bernardo reingressou na luta contra o rebaixamento porque fez do jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto uma extensão das comemorações pós-vitória contra o Linense no Interior. Um time sem vibração, sem pegada, sem eletricidade. A ausência de Danielzinho, mesmo com limitações típicas de jovem inexperiente, acabou abalando o grupo. É Danielzinho quem bota fogo na canjica da mobilidade da equipe, movimentando-se entre as extremas, recuando, penetrando.
Nem o técnico Estevam Soares escapou da péssima apresentação do São Bernardo, porque não conseguiu organizar um meio de campo que se desintegrou após Júnior Xuxa, no segundo tempo, desaparecer da articulação, e de William Favone ficar na dúvida entre defender e atacar, justamente ele que mais vezes acertou o gol adversário.
Não foi porque jogou com três zagueiros, modelo preferencial de Estevam Soares, que o São Bernardo foi mal no ataque. Em outros jogos, com esse mesmo esquema, o time teve dinamicidade. O problema do São Bernardo está nas limitações individuais e na falta de ritmo dos reforços que chegaram, poucos por sinal. Quando o São Bernardo abaixa o tom de aplicação individual, aquele algo mais dos times guerreiros, acaba se dando mal.
Vejam os quatro jogos que restam para cada uma das equipes sujeitas ao rebaixamento:
1. Linense (12 pontos ganhos e três vitórias) tem 80% de possibilidades de cair para a Série B. Vai enfrentar, pela ordem cronológica, Botafogo em Ribeirão Preto, Americana em casa, Bragantino em casa e São Caetano fora. Soma 22 pontos de risco, resultado do grau de dificuldades de cada compromisso, que é o seguinte para todas as equipes: dois em casa e cinco fora contra os pequenos, cinco em casa e sete fora contra os médios e 10 em casa e fora contra os grandes.
2. Grêmio Prudente (10 pontos ganhos e duas vitórias) tem 80% de possibilidades de queda. Vai enfrentar Mirassol em casa, Santo André fora, Palmeiras fora e Americana em casa. Soma 22 pontos de risco.
3. Santo André (12 pontos ganhos e apenas uma vitória) soma 80% de possibilidades de cair para a Série B. Vai enfrentar São Caetano em casa, Grêmio Prudente em casa, São Bernardo fora e Corinthians em casa. Soma 35 pontos de grau de risco. A tabela lhe é favorável, mas a pontuação e também o número de vitórias (apenas uma), primeiro critério de desempate, são implacáveis.
4. Noroeste (14 pontos ganhos e duas vitórias) soma 70% de possibilidades de queda. Vai enfrentar Oeste fora de casa, Portuguesa fora de casa, São Paulo em casa e Ituano fora de casa. Soma 27 pontos de risco.
5. São Bernardo (15 pontos ganhos e quatro vitórias) tem 60% de possibilidades de queda. Vai enfrentar Americana fora, São Caetano fora, Santo André em casa e Portuguesa fora.
6. Ituano (15 pontos ganhos e quatro vitórias) tem 20% de possibilidades de queda. Vai enfrentar Santos em casa, Oeste em casa, Mirassol fora e Noroeste em casa. Soma 19 pontos de risco.
7. Americana (16 pontos ganhos e cinco vitórias) tem 10% de possibilidades de queda. Vai enfrentar São Bernardo em casa, Linense fora, Santos em casa e Grêmio Prudente fora de casa. Soma 27 pontos de risco.
A rodada deste final de semana será um divisor de águas. Uma combinação de resultados e suas consequências:
a) Vitória do São Caetano e do São Bernardo: Santo André mergulha de vez no rebaixamento, São Caetano salta rumo ao G8 e o São Bernardo respira aliviadíssimo, independentemente do resultado do Ituano.
b) Vitória do Santo André e derrota do São Bernardo: as duas equipes passam a disputar pau a pau quem vai escapar do rebaixamento e o São Caetano vê escapar quase de forma definitiva a luta pela classificação aos mata-matas.
c) Empate no clássico e em Americana: o São Caetano continuará respirando possibilidades, o Santo André acentua vocação ao trirrebaixamento e o São Bernardo reduz o grau de risco de queda.
d) Vitória do Santo André e do São Bernardo: o Tigre praticamente escapa da queda e o Santo André tem de rezar para que o Ituano perca.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André