Santo André, São Caetano e São Bernardo disputam decepcionante Série A do Campeonato Paulista. Pela primeira vez na história do futebol regional conseguimos emplacar três equipes no principal campeonato estadual do País. As expectativas positivas foram duramente golpeadas. O São Caetano precisa de um milagre para disputar as quartas-de-final, o São Bernardo de um quase milagre para não ser rebaixado e o Santo André reza faz tempo para escapar da degola. Com tudo isso, formar uma Seleção do Grande ABC não é tarefa fácil. O São Caetano tem a maioria dos selecionados, mais por méritos individuais que coletivos.
Antes de tratar disso, volto à competição propriamente dita. Dispenso os números individuais e coletivos dos jogos do trio regional. Basta dizer que ganhamos apenas 50 pontos em 141 disputados. Média de 35,46% de aproveitamento. No limite do rebaixamento.
Se tivesse de dar notas individuais às equipes da região não passaria de cinco e meio para o São Caetano, quatro para o São Bernardo e três para o Santo André. A escala é de um a 10.
Ao São Caetano sobram bons jogadores, mas faltam aquele estado de espírito dos vencedores e, principalmente, arrumação tática que reproduza as qualidades dos jogadores. O São Caetano é um dos poucos times do campeonato que consegue ser menor do que a soma dos valores que vestem sua camisa.
Ao Santo André sobram jogadores limitados, abundam exageros na ideia fixa de que o título de vice-campeão em 2010 teria alguma influência nesta temporada e escasseiam ajustes táticos que o tornem algo menos penoso que um conglomerado defensivo disposto a tudo para levar a bola para longe e um sistema ofensivo que não sabe o caminho do gol, nem quando marca gol, como foi o caso do clássico contra o São Caetano. É um time do tamanho exato de suas individualidades e, inversamente, na proporção de egocentrismo da presidência embevecida com o passado recente meramente lotérico.
Ao São Bernardo sobrou pretensão de vôos memoráveis, enquanto faltou experiência para saber que a Série A é tão curta quanto competitiva e não admite que debutante despreze os riscos na formação de um elenco quando se trabalha com margens de erros elevadas, caso das equipes de menor porte. É um time menor do que sonhavam os dirigentes e muito aquém da assiduidade de um público que ainda não pode ser chamado de torcida, mas que se dedica com fidelidade às cores locais.
Agora, de volta à Seleção do Grande ABC com base nos jogadores que vi em ação na Série A do Paulista, tenho muitas dificuldades à escalação, porque é compulsório que onde falta pão de bons resultados todo mundo tem razão de chorar. Parto para a definição da Seleção sem carregar qualquer peso de achismo. Acompanhei praticamente todos os jogos das três equipes. É para isso que existe tecnologia embutida nos aparelhos de televisão.
E não me venham com essa história de que jogo na TV é uma coisa e no estádio é outra porque o que temos é uma faca de dois gumes. Há situações em que a TV dá show de bola em forma de didatismo. Em outras, a visão mais ampla dos estádios faz falta. Mas aí entra a boa malandragem de não ficar apenas em cima da bola que aparece na tela da TV. Meus olhos procuram muito além disso. Mesmo com algumas transmissões mambembes.
Com algum esforço, vou procurar resolver a questão, na tentativa de montar um time para representar o Grande ABC com orgulho superior ao que temos quando dividimos, como estamos dividindo, nossa expectativa em três equipes.
Escalo Luiz no gol, Jean, Anderson e Anderson Marques na defesa; Arthur, Augusto Recife, William Favone, Souza e Bruno Recife na composição do meio de campo; Ailton e Rychely no ataque.
Notaram que escalei a Seleção do Grande ABC com base no sistema 3-5-2 adotado pelas três equipes?
Dos 11 titulares, tive dificuldades de encontrar um terceiro zagueiro e um centroavante. Se Thiago Martinelli tivesse entrado antes no São Caetano, seria titular absoluto. Quem sabe até o final do campeonato ganhe essa condição.
Optei por Anderson, do Santo André, também por exclusão e pela experiência.
Deixei de lado o centroavante convencional e escalei dois segundos-atacantes, Ailton e Rychely, porque nenhum treinador tem obrigação de escalar um nove desbravador de espaços quando conta com melhores opções. Flamengo, Barcelona e tantos outros times abrem mão do nove tradicional. É melhor não ter centroavante algum do que ter centroavante perna de pau.
Se Vandinho não tivesse deixado o São Caetano, o escalaria no lugar de Rychely. Vandinho é centroavante de fato, com a vantagem de saber responder às demandas da bola sem maltratá-la. Bombinha, do São Bernardo, ainda parece fora de forma, sem explosão, com dificuldades para encaixar o espaço de finalização. Além disso, tem técnica pouco refinada.
Célio Codó, do Santo André, melhorou bastante nos últimos jogos, mas insiste em atuar fora da área, como segundo atacante, onde a concorrência é bem maior e não tem os apetrechos para destacar-se.
Eduardo, substituto de Vandinho no São Caetano, é especialista em complicar o que é simples. Reúne todas as deficiências de Bombinha e nenhuma das virtudes de Bombinha.
O predomínio numérico de jogadores do São Caetano na Seleção do Grande ABC comprova dois núcleos de raciocínio elementar: o Azulão tem largamente o melhor elenco da região e também de forma avantajada o mais grave débito de qualidade coletiva. Nem Toninho Cecílio, que dirigiu a equipe durante mais de uma dezena e meia de jogos (dois dos quais na Série B paulista, quando foi demitido) nem Ademir Fonseca conseguiram fazer o time jogar.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André