Esportes

Tigre e Ramalhão podem afundar
abraçados no clássico de sábado

DANIEL LIMA - 04/04/2011

Não é só porque estão no paredão ao final da antepenúltima rodada da Série A do Campeonato Paulista que Santo André e São Bernardo são favoritíssimos ao rebaixamento. Depois da vexatória goleada diante do São Caetano por 6 a 1 no sábado e da derrota em casa para o lanterninha Grêmio Prudente por 3 a 1, as duas equipes entram sábado no Estádio Primeiro de Maio para um clássico do desespero. Um empate praticamente rebaixaria as duas equipes. Uma vitória será fatal ao perdedor. E mesmo um vencedor vai ter de esperar a última rodada para tentar escapar, o que é pouco provável.


Trocando em miúdos: é mais provável que o Grande ABC será representado no ano que vem no principal campeonato estadual do País apenas pelo São Caetano que, após a sacolada ainda respira classificação à etapa decisiva. Trataremos disso num outro artigo esta semana.


De fato, para valer mesmo, até que a penúltima rodada possa apresentar alguma alteração significativa, apenas seis equipes jogam para não ser rebaixadas. Veja a situação de cada uma e o nível de probabilidade de queda:


1. Grêmio Prudente com 14 pontos ganhos e três vitórias. Joga fora de casa com o Palmeiras e fecha a competição em casa diante do Americana. Não tem saída senão vencer os dois jogos para chegar a 20 pontos e ainda rezar. Soma 15 pontos de grau de risco, correspondentes a 10 diante de um grande, o Palmeiras, e cinco diante de um médio, em casa. Tem 70% de possibilidades de rebaixamento.


2. Santo André com 15 pontos ganhos e apenas duas vitórias. Joga fora de casa um clássico com o São Bernardo e fecha a competição contra o Corinthians provavelmente no Bruno Daniel. Precisa de duas vitórias. Soma 20 pontos de grau de risco, 10 do clássico regional e 10 contra o Corinthians. Tem 75% de possibilidades de rebaixamento.


3. São Bernardo com 15 pontos ganhos e quatro vitórias. Joga em casa com o Santo André e no Canindé com a Portuguesa. Tem de vencer os dois jogos. Soma 17 pontos de grau de risco, 10 do clássico e sete contra a média Portuguesa fora de casa. Tem 72% de possibilidades de rebaixamento.


4. Linense com 15 pontos ganhos e quatro vitórias. Joga em casa com o Bragantino e fora com o São Caetano. Precisa de duas vitórias mas até pode escapar com 19 pontos e cinco vitórias. Soma 12 pontos de grau de risco. Tem 69% de possibilidades de rebaixamento.


5. Ituano com 15 pontos e quatro vitórias. Joga fora de casa com o Mirassol e dentro com o Noroeste. Precisa de duas vitórias e, como o Linense, pode escapar com 19 pontos e cinco vitórias. Soma sete pontos de risco. Tem 68% de possibilidades de queda.


6. Noroeste tem 17 pontos ganhos e três vitórias. Joga em casa com o São Paulo e fora com o Ituano. Precisa de uma vitória, mas não está fora de possibilidade que dois empates sirvam. Soma 12 pontos de grau de risco. Tem 42% de possibilidades de queda.


7. Botafogo de Ribeirão Preto tem 18 pontos e quatro vitórias. Joga em Mogi Mirim e encerra contra o Mirassol em casa. Talvez com apenas um empate fuja da queda. Mas o ideal é vencer um dos jogos. Tem sete pontos de grau de risco. Tem 3% de possibilidades de queda.


8. Bragantino tem 18 pontos e cinco vitórias. Joga fora com o Linense e em casa com o Mogi Mirim. Possivelmente um simples empate seja suficiente. Tem sete pontos de grau de risco. Tem 1% de possibilidade de queda.


Resumo da rodada regional


A goleada do São Caetano diante do São Bernardo e a derrota em casa do Santo André ante o Grêmio Prudente são praticamente um ensaio bem acabado do desenlace que espera tanto o Ramalhão quanto o Tigre.


O Santo André não tem estrutura de time que possa dar um mínimo de esperança à torcida. E o São Bernardo caiu no desespero de se enfurnar na zona de rebaixamento, situação que levou o técnico Estevam Soares a pretender-se estrela máxima da companhia.


Não bastasse o excelente futebol do Azulão no sábado, Estevam Soares colaborou com um sistema tático suicida, experimentado exatamente quando deveria seguir a cartilha da cautela.


Ao fechar os treinamentos do São Bernardo para o clássico, o mínimo que se poderia esperar era um time cuidadoso, dada a evidente superioridade do adversário.


Talvez Estevam Soares tenha se fiado demais na apática apresentação do Azulão diante do Santo André. Ao abrir mão de três zagueiros, tática que introduziu na equipe tão logo chegou, Estevem Soares abriu uma avenida a um adversário inspirado. Dirceu e William Favoni mal davam conta da marcação num meio de campo em que Romarinho e Moreno pouco se movimentam.


O São Caetano deu ritmo ao jogo, inclusive no segundo tempo ofereceu espaço para o São Bernardo controlar a bola. Com 5 a 0 ao final do primeiro tempo (4 a 0 em 30 minutos) e com um jogo com o Corinthians pela frente, quando decidirá ingresso no G8, o São Caetano só poderia mesmo gastar o tempo. Estevam consertou o buraco com mudanças táticas e Guto deu mais aguerrimento e talento ao meio de campo. Muito pouco, exceto provar que o treinador desmanchou o time para depois arrumá-lo.


O experimento de Estevam Soares custou caro. Acreditar que o rótulo de clássico daria ao São Bernardo condição de enfrentar o São Caetano sem cuidados foi uma bobagem. Deixar Júnior Xuxa no banco de reservas, mesmo se reconhecendo que o armador que brilhou no Icasa cai demais de rendimento no segundo tempo, foi um exagero. Até porque, não tem substituto à altura.


O São Caetano jogou principalmente no primeiro tempo como nos sonhos de quem tem o melhor elenco entre os times médios do Campeonato Paulista. Por mais que uma goleada sempre seja exceção, mesmo com todos os saravás do mundo o Azulão venceria facilmente o jogo porque o São Bernardo acreditou que em clássico é possível negligenciar a superioridade do adversário. Clássico entre times tradicionais é uma coisa. Clássico disputado pela primeira vez é outra, completamente diferente.


A burrice da mídia e de quem vive da bola de empacotar tudo num mesmo rótulo induz grandiloquências como a de Estevam Soares. O São Caetano tem cultura de Primeira Divisão que faz a diferença contra um adversário que só agora começa a frequentar o ambiente dos principais clubes do Estado. Com amplas possibilidades de temporada única de verão.


Já a derrota do Santo André no Estádio Bruno Daniel dispensa maiores observações. O time de Ronan Maria Pinto é um dos piores da história do clube, assim como o do ano passado, vice-campeão paulista, foi um dos melhores. Esse é o extrato ciclotímico de quem passa também pela história do clube, independentemente de novo rebaixamento, como o pior presidente.


O Santo André de Sandro Gaúcho joga sempre no erro do adversário. Teve alguma dose de sorte nos jogos em que escapou da derrota, mas é esperar demais que todos os santos o auxiliem. A bagunça tática é marca registrada da equipe, o que sacrifica qualquer análise individual, embora não reste dúvida de que também nesse ponto está muito abaixo das necessidades. O Grêmio Prudente poderia ter vencido mais facilmente ainda.


Pobre Santo André, cujo futuro na Série B do Campeonato Paulista e na Série C do Brasileiro não é mais uma incógnita. É provável que a agremiação terceirizada na administração do futebol pelo Saged, de Ronan Maria Pinto, amargue longo inverno de ostracismo e penitência. Nada que surpreenda.


Em qualquer outra situação, de acúmulo de irregularidades contratuais na condução do Ramalhão, Ronan Maria Pinto já teria sido deposto. Como é poderoso, a maioria dos conselheiros do Saged e do Esporte Clube Santo André se acovarda. Teme represálias, para ser claro. Agora que a vaca foi mais uma vez para o brejo, saindo de vez da órbita de receitas extraordinárias com TV, o Saged não poderá devolver um time praticamente trirrebaixado à administração de origem, sob pena de estelionato.


O melhor do futebol é que, por mais que tenha tortuosidades, a meritocracia acaba por prevalecer. E é nesse ponto que as máscaras caem. Diferentemente do jornalismo, portanto, onde meritocracia é ajoelhar-se aos pés de donos de jornal.


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