Esportes

O que será do Ramalhão após
fracassos técnico e empresarial?

DANIEL LIMA - 06/04/2011

O rebaixamento do Santo André à Série B do Campeonato Paulista, depois da queda à Série C do Campeonato Brasileiro, é a pá de cal nas pretensões da agremiação virar clube-empresa, após quatro anos de destruidora experiência de clube terceirizado. Qualquer cenário divergente é burrice.


O que fazer com o Ramalhão fora da grade da TV, principal sustentáculo ao fortalecimento das equipes de médio porte e a salvação da lavoura das equipes populares, como prova o Clube da Globo, que substitui o Clube dos 13?


O que será do Ramalhão fora do calendário gregoriano de dois semestres inteiros de competições importantes, limitando-se a desativar a equipe que disputa o Campeonato Paulista e a apostar na loteria da Série C do Campeonato Brasileiro jogada às baratas da visibilidade midiática?


A possibilidade de um grupo empresarial adquirir as cotas do Saged e obter prerrogativa jurídica formal para representar o futebol da cidade sem maiores dificuldades burocráticas e com amplas garantias negociais possivelmente foi para a cucuia. Exceto em condições muito especiais há investimentos em ponto de venda que mantém as portas cerradas durante oito meses a cada ano, como é o caso dos clubes que estão fora da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro.


Jogador de futebol virou espécie de commodity de luxo que tem na tela de televisor e cada vez mais na tela de computadores bolsa de valores vigiadíssima por agentes de negócios. Clube que sai da programação televisiva ou dos sites de maior audiência esportiva da rede mundial de computadores perde mercado. Ou melhor, vai para a informalidade.


Goste-se ou não, a televisão, principalmente a televisão, tem capacidade de agregar valoração de profissionais dos mais distintos ramos. No futebol, esse conceito ganha tonelada de força adicional porque há ingredientes culturais a alavancar a subjetividade natural do esporte porque mexe com o irracional, com a emoção, com o inconsciente. Uma jogada em jogo de relativa importância flagrada por câmaras de TV ajuda a fortalecer as qualidades de uma nova revelação dos campos que, em situação diferente, de anonimato midiático, passaria despercebida. Algo como um frágil piscar de olhos.


Num mundo em que as plataformas de comunicação transcendem a imaginação de futuristas do passado vistos como lunáticos, quem não se comunica, mais que se trumbica, se esborracha.


Além disso tudo, quem vai botar dinheiro bom numa equipe com histórico recente de tantos maus resultados e, pior ainda, com a contabilidade em pandarecos? Investidores do futebol ou de qualquer outra modalidade de ativos não são candidatos a Madre Tereza. Rentabilidade não é pecado. Pecado é desperdício.


É lamentável que o Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva) tenha sido estrondoso fracasso na administração técnica e financeira do Ramalhão. Jamais uma empresa terceirizada, como é o caso do Saged que controla o Ramalhão desde 2007, encontrou tantas facilidades, para não dizer omissão, para revolucionar o futebol.


O Saged simplesmente não deu a menor bola para multiplicar esforços de acionistas e colaboradores que se pretendiam voluntários por uma boa causa e também porque estavam de olho nos rendimentos do projeto. Deixou-se encantar pelo vice-campeonato paulista da temporada passada e pelo ingresso na Série A do Campeonato Brasileiro do ano anterior. Imaginou a direção do Saged que descobrira a fórmula secreta do sucesso permanente. Mal sabe que futebol é sim uma caixinha de surpresas fora de campo quando se negligenciam ciladas próprias da atividade.


Um time com Bruno César, Carlinhos, Branquinho, Cicinho, Rodriguinho, Alê e vários outros que chegaram à decisão com o Santos é obra do acaso quando não se tem estrutura organizacional e financeira à sustentabilidade de um projeto. Tomar a exceção pela regra é roleta-russa.


Por força de duplo comando, jamais o Ramalhão contou com tantas condições objetivas para fazer sucesso. Que duplo comando? De Ronan Maria Pinto na direção do Saged e do Diário do Grande ABC. Em nenhum outro momento da história do Ramalhão o jornal se colocou tão fortemente favorável (e também acrítico) à equipe de futebol. Chegou-se ao ponto de, eventual leitor mal-informado ou ao desembarcar de viagem de algumas semanas, imaginar que o Ramalhão estava entre os primeiros da Série A do Paulista deste ano, tal o entusiasmo com que o dia a dia era retratado nas páginas da publicação. Transformou-se o Santo André num negócio paralelo ao jornalismo do Diário do Grande ABC. Menos quando convinha puxar publicamente a orelha de alguém. O que tornava a operação provinciana.


Quem defende a tese do ufanismo a qualquer custo como engrenagem à obtenção de resultados consagradores é um tremendo idiota, porque nada é mais resolutivo ao enquadramento rumo ao sucesso do que o senso crítico ativamente desperto.


O Ramalhão desta temporada foi confundido com o Ramalhão da temporada passada, um time extraordinário do goleiro ao último atacante. Uma equipe que mais que justificava a euforia crítica, entre outras razões porque a supressão daquelas virtudes seria estultice semelhante à manipulação das deficiências atuais.


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