Esportes

São Bernardo erra,
mas queda seria exagero. São Caetano merece o G8

DANIEL LIMA - 15/04/2011

Tenho mensagem de otimismo para o futebol do Grande ABC na última rodada da Série A do Campeonato Paulista, neste domingo: o São Caetano vai classificar-se ao G8, ou seja, à turma de primeira classe do futebol do Estado, e o São Bernardo vai escapar do rebaixamento à Série B de ostracismo, à Série B de prejuízos incalculáveis. A Série B à qual o Santo André fez jus porque dormiu no berço esplêndido da exceção à regra da campanha extraordinária do ano passado, quando decidiu o título com o Santos de Paulo Henrique Ganso, Neymar e Robinho.


A diferença entre o São Bernardo que merece escapar do rebaixamento e o Santo André que caiu sem apelação é que o Tigre está expiando humildemente os erros de montagem de uma equipe com falhas no grupo de titulares e com poucas opções em condições físicas e técnicas no banco de reservas.


Já o Santo André se meteu a besta de achar que havia descoberto a fórmula secreta do sucesso no futebol, apesar de rebaixado um pouco antes, à Série C do Campeonato Brasileiro.


Ao São Bernardo sobrou inexperiência na escolha do elenco, enquanto ao Santo André a arrogância subiu às alturas. O técnico Estevam Soares foi contratado em boa hora, fez o time dar a impressão de que decolaria mas em seguida começou a patinar. Como explicar? Teria o Tigre jogado mais que podia sob a influência motivadora do novo treinador, que introduziu mexidas táticas, ou houve alguns excessos internos que comprometeram o ambiente?


De qualquer forma, o São Bernardo comportou-se de forma muito mais profissional que o Santo André. Os pecados foram digeridos internamente. O Santo André caiu na besteira de levar a campo as incompetências gerenciais do Saged, empresa presidida pelo empresário Ronan Maria Pinto.


Quanto ao São Caetano que merece chegar ao G8, o que tivemos ao longo do campeonato foi uma série de medidas para correção do rumo, a começar pela demissão do técnico Toninho Cecílio depois de duas derrotas consecutivas e, mais que isso, de incompatibilidade de gênios com alguns jogadores importantíssimos do elenco.


São Caetano entre os oito melhores da fase classificatória é a regra de um time que conta com o melhor elenco das agremiações de porte médio do Estado, juntamente com a Portuguesa. O que estaria fora da lógica de que a bola não entra por acaso seria o São Caetano descer na classificação nesta última rodada. Mesmo se perder a vaga para a própria Portuguesa, porque Mirassol e Oeste de Itápolis são penetras da festa dos potencialmente maiores clubes do Estado.


Tenho cá comigo que o resultado do São Caetano ante o Linense salvará a pele do São Bernardo na Primeira Divisão. Quanto antes o São Caetano definir o resultado no Estádio Anacleto Campanella diante de um Linense que promete retranca feroz, menos complicações o São Bernardo terá no Canindé.


Tudo porque o nível de competitividade vai depender do contexto de cada minuto nos estádios que protagonizarem os jogos decisivos. Se não obtiver ao menos um ponto diante da Portuguesa, o São Bernardo correrá sérios riscos de rebaixamento, porque qualquer resultado em Itu (menos o empate, que rebaixaria as duas equipes) e também em São Caetano não o salvaria.


Confesso que não acredito na hipótese de empate autofágico em Itu, porque seria o cúmulo da improdutividade. Meu palpite é que Noroeste e Linense cairão para a Série B. O São Bernardo vai escapar na contagem de pontos. Dificilmente se salvará no saldo de gols, porque empata com o Ituano. Passaria à desvantagem ao final da rodada se perder para a Portuguesa e o Ituano vencer o Botafogo. Não resta saída à equipe da região senão empatar com a Portuguesa e o São Caetano vencer o Linense. Aí, o jogo entre Ituano e Noroeste não lhe interessaria. Acho que é o que vai acabar acontecendo.


A expectativa de que o São Bernardo já viveu os piores momentos no campeonato, de fragilização emocional, de debilidade individual e de comprometimento coletivo, me move a acreditar no sucesso diante da Portuguesa.


Basta que o time de Estevam Soares reviva os jogos que disputou contra o Santos na Vila Belmiro e o Palmeiras no Canindé, com confiança, ousadia, velocidade e personalidade, para deixar o gramado finalmente aliviado do fantasma do descenso.


Vale nestas alturas do campeonato mais o equilíbrio emocional que qualquer outra coisa. Só não pode se exceder em cuidados defensivos, como no clássico ante o Santo André, porque aí tudo ficará na dependência de sortilégios que nem sempre se manifestam.


Já o São Caetano não pode deixar-se abalar pela ausência do centroavante Eduardo, único do elenco com características de definidor de jogadas depois que Vandinho foi exportado. Eduardo está encantado nos últimos jogos entre outros motivos porque o treinador Ademir Fonseca finalmente descobriu a pólvora de que o atacante tem os limites de diálogo razoavelmente produtivo com a bola no interior da grande área adversária, quanto muito um ou outro metro fora daquela demarcação. Tentar fazer de Eduardo um meia-atacante é pura bobagem porque quanto mais se afasta da área, mais o gol se lhe torna indecifrável.


Sem Eduardo e contra uma esperada retranca do técnico Pintado, rei do defensivismo, o São Caetano terá a oportunidade de exercitar uma ação coletiva que o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho, o Cruzeiro de Montillo, o Palmeiras de Felipão e o Barcelona de Messi estão cansados de expor: jogar sem um centroavante tradicional. A equipe perderá um atacante de referência, mas ganhará muitas outras opções se entender que espaços precisam ser multiplicados para apanhar os zagueiros adversários no contrapé de posicionamentos convencionais.


Se o Linense atuar com o zagueiro central Fabão, de quase dois metros de altura, o técnico Ademir Fonseca tem de passar uma recomendação ameaçadora aos jogadores: quem ousar levantar a bola na área adversária será penalizado com multa. Fabão corta tudo por cima, mas é uma peneira por baixo. Os baixinhos do São Caetano podem fazer a festa. Com sabor especial para o Grande ABC, porque estenderá o sucesso ao São Bernardo. Que não pode deixar de fazer sua parte.


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