Esportes

Domingo desastroso: Azulão sai do G8,
Tigre cai e Ramalhão é lanterna

DANIEL LIMA - 18/04/2011

O domingo da última rodada da Série A do Campeonato Paulista não poderia ter sido pior para o Grande ABC. Que o Santo André caminhava garbosamente para a merecida rabeira, nada surpreendente. Nada mais emblemática da derrocada do Ramalhão do que a expressão-síntese “do vice-campeonato à lanterninha”. Agora, o São Caetano deixar escapulir a vaga no G8 em casa contra um Linense que jogava para não cair e o São Bernardo perder quando já havia espécie de arranjo de última hora, de últimos minutos, de que o empate seria suficiente para garantir a festa de gregos e troianos, isso foi demais. E uma derrota de gol quase sem querer, porque o atacante da Portuguesa errou o chute.


Mais que isso: assistindo atenta e repetidas vezes os últimos minutos do jogo, fiquei com a sensação de que houve um relaxamento geral das duas equipes quando chegou a informação no banco de reservas de que tudo estaria consumado em São Caetano e que o empate no Canindé satisfaria às duas partes. A troca de passes entre os jogadores da Portuguesa indicava que um tratado de não-hostilidade se consumou nos olhares. Quem assistir à gravação verá que não estou exagerando. Ou teria o São Bernardo caído na arapuca dos lusos, que se fingiram de satisfeitos, para não dizer outra coisa, e, pumba, deram uma estilingada certeira?


O irônico do resultado final do Campeonato Paulista para as equipes da região é que o técnico que o Santo André dispensou porque o time não engrenava, salvou o Linense do rebaixamento. Pintado é o nome dele. E também o técnico que o São Bernardo dispensou, Ruy Scarpino, livrou o Ituano do rebaixamento. É demais. Mais que demais, é impressionantemente complicado o futebol. Estevam Soares contratado pelo São Bernardo e Sandro Gaúcho efetivado pelo Santo André melhoraram o rendimento das equipes. Pelo menos o Santo André deixou de ser um time peladeiro e o São Bernardo não viveu apenas de cruzamentos na área.


Uma pena o rebaixamento, porque o São Bernardo que levou tanta gente ao Estádio Primeiro de Maio e correu atrás de soluções para corrigir o planejamento deficiente na organização do grupo de jogadores disputou praticamente pau a pau o jogo com a Portuguesa. O adversário teve um pouco mais de oportunidades, mas o Tigre poderia também ter chegado ao gol.


É verdade que o São Bernardo atuou com maiores preocupações defensivas, com três zagueiros e três volantes (Guto, Zé Forte e Lucas), o que isolou os atacantes Lucas Gaúcho e Daniel. Não fosse um primeiro tempo primoroso do ala Kauê, o São Bernardo teria sido óbvio demais. Mas a Lusa também não incomodou no primeiro tempo. Os espaços estavam fechados dos dois lados.


No segundo tempo o jogo pegou fogo, os times foram ao ataque e mesmo assim o resultado mais justo seria o empate. A queda do São Bernardo pode transmitir a falsa impressão de que a equipe foi um fracasso semelhante ao do Santo André. Não é nada disso. Houve erros, perderam-se pontos demais no Primeiro de Maio, os benefícios da ordem de jogos foram diluídos mas o time do presidente Luiz Fernando Teixeira exibiu jogos muito mais consistentes do que um dos piores times da história do Ramalhão de Ronan Maria Pinto.


O São Bernardo volta à Série B logo após subir de divisão deixando a impressão de que poderá retornar logo-logo se não esmorecer.


O Ramalhão deixa a Série A transmitindo a ideia, pela terra arrasada do Saged, de que poderá passar por longo inverno longe dos melhores momentos transmitidos pela televisão. E que já contratou novo rebaixamento, agora à Série D do Campeonato Brasileiro, já que vai disputar grupo classificatório (e desclassificatório) contra gaúchos e catarinenses. Uma tragédia anunciada.


A última posição no campeonato caiu sob medida para o Ramalhão. Seria injusto que o Grêmio Prudente, muito melhor em valores individuais e coletivos, carregasse a lanterninha.


Já o São Caetano que deixou escapar a oportunidade de disputar as quartas-de-final ao perder para o Linense em pleno Anacleto Campanella, mais uma vez exalou apatia contra equipes de menor porte. A equipe só acordou para um jogo mais veloz, preenchedor de espaços, relativamente dinâmico, depois de sofrer o primeiro gol dos visitantes. Um gol mais que anunciado, porque desde o primeiro tempo havia sempre alguém desmarcado na entrada da área do Azulão. A segunda bola era sempre do adversário.


A ausência do centroavante Eduardo foi muito sentida não necessariamente por conta de seu futebol, mas da funcionalidade tática. Sem Eduardo, o São Caetano jogou com dois atacantes avançados demais e praticamente na mesma linha — Renatinho e Antonio Flávio — e com isso exigiu o avanço de Ailton. Sem jogadas pelas extremidades do campo, onde Arthur e Bruno Recife não tinham com quem dialogar, exceto com um Souza mais avançado, o São Caetano tornou-se repetitivo e lento. O Linense apenas procurou as brechas para encaixar contragolpes, mantendo Pedrão mais avançado para incomodar os zagueiros.


Se fosse traduzir em números, o São Caetano jogou numa espécie de 3-4-3, com três zagueiros, quatro meio-campistas (Souza, Augusto Recife, Arthur e Bruno Recife) e três atacantes (Ailton, Antonio Flávio e Renatinho), com variável ao 3-5-2, com o recuo de Ailton. Gol sofrido, o técnico Ademir Fonseca retirou um dos zagueiros e adensou o meio de campo com Walter Michoca. Outras duas substituições deram mais velocidade ao ataque, mas aí já era tarde. O gol de Túlio mal anulado no final não mudaria a história do jogo.


O São Caetano simplesmente repetiu contra o Linense, entre outros defeitos, uma deficiência renitente durante toda a competição: não encontra o ajuste motivacional adequado para superar equipes menos brilhantes. Parece que só os grandes espetáculos mobilizam a equipe.


De qualquer forma, bem ou mal, com performance de montanha russa, o São Caetano é o que sobrou de bom do Grande ABC à Série A da próxima temporada. O sonho do trio regional na Primeira Divisão paulista durou apenas uma temporada de verão. Não é por acaso que nosso único representante é o mais experiente, dentro e fora dos campos. Mesmo que isso não signifique o preenchimento de todos os requisitos para o sucesso, porque ficar fora do G8 é passivo grave para quem conta com elenco de qualidade.


Traduzindo em expressões sintéticas o desempenho do Grande ABC na Série A do Campeonato Paulista, diria que o São Caetano tornou-se muito menor que a soma da partes de seus jogadores, que o São Bernardo não conseguiu traduzir em campo o equilíbrio de fidelidade de apoio popular nas arquibancadas, e o Santo André refletiu com impressionante perfeição a dimensão da esquizofrenia da subtração, coroada com o destempero presidencial às vésperas do jogo decisivo contra o São Bernardo.


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