Ronan Maria Pinto, presidente do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), empresa gerenciadora do Ramalhão, blefou quando mandou publicar nas páginas do Diário do Grande ABC, do qual é dono, que renunciaria ao cargo. Era antevéspera do jogo que decretou a queda da equipe à Série B do Campeonato Paulista. E Ronan Maria Pinto continua a blefar quando segue afirmando que deixará o cargo.
O irônico é que talvez Ronan Maria Pinto seja obrigado a renunciar de fato. Uma espécie de Golpe de Estado que não deu certo com Janio Quadros, que renunciou à Presidência da República na expectativa de que cairia nos braços do povo e voltaria ao poder com mais força ainda, se repete como farsa no Ramalhão. Poucos acreditam que Ronan Maria Pinto seja adequado ao Ramalhão. Mas não o dizem porque o temem como condutor da mídia mais tradicional do Grande ABC.
A revista CapitalSocial, que segue atentamente a história do futebol de Santo André com este jornalista, ouviu diferentes agentes de jogadores, empresários de futebol, que mantêm relações diretas ou indiretas com Ronan Maria Pinto já há algum tempo. E com base em informações densas, embora sigilosas quanto às fontes, CapitalSocial chegou à conclusão que o rompante demissionário não passou de cortina de fumaça de Ronan Maria Pinto. Ele só não contava com a cartada da direção do Esporte Clube Santo André, a quem o Ramalhão esteve vinculado durante quatro décadas.
Quando declarou que deixaria a presidência do Saged e o comando do Ramalhão por conta de supostas dificuldades administrativo-estruturais provocadas pela direção do Esporte Clube Santo André, Ronan Maria Pinto pretendia atribuir parte da responsabilidade pela então iminente queda no Campeonato Paulista e os rebaixamentos anteriores aos ex-dirigentes da equipe. Até os buracos do gramado do Estádio Bruno Daniel sabem que o Esporte Clube Santo André não tem relação alguma com o novo desmoronamento do Ramalhão comandado pelo Saged.
Agentes de futebol asseguram que Ronan Maria Pinto mantém contatos com profissionais do setor para reestruturar em bases mais modestas a equipe que disputará a Série C do Campeonato Brasileiro. O dirigente quer evitar que o Ramalhão sofra novo rebaixamento, mas sabe que as rédeas financeiras que restaram ao Ramalhão são curtas. É necessário reduzir as despesas à metade do despendido no Campeonato Paulista. Seriam menos de R$ 200 mil mensais na Série D do Brasileiro.
O orçamento financeiro para a disputa será minguado e não se tem mais dúvida sobre isso. O Saged está asfixiado por dívidas e não haveria possibilidades de nova capitalização de recursos porque quase R$ 10 milhões canalizados em três anos para consolidar o Saged desapareceram em despesas incontroláveis do Ramalhão. Faltam investidores internos e externos para potencializar uma equipe excluída da grade de televisão, vitrine que faz girar a roda da economia do futebol. Os rebaixamentos custaram caro ao Ramalhão sob a direção do Saged. O que o Esporte Clube Santo André fez o Saged desfez.
O modelo dito romântico (foi assim que Ronan Maria Pinto se referiu à gestão de Jairo Livolis e de Celso Luiz de Almeida à frente do Ramalhão) comprovou-se inapropriado aos novos tempos do futebol de negócios. Mas o modelo dito empresarial, gerenciado pelo Saged, esfarelou o prestígio do Ramalhão dominado pelo centralismo de Ronan Maria Pinto.
O Saged não teria, portanto, meios financeiros para sustentar equipe que teoricamente poderia disputar uma vaga e voltar à Série B do Campeonato Brasileiro. Teme-se agora que despenque à Série D.
Quando anunciou que renunciaria ao cargo dois dias antes do clássico com o São Bernardo, Ronan Maria Pinto pretendia apertar o torniquete político-administrativo contra o Esporte Clube Santo André — além de pressionar psicologicamente os jogadores às vésperas de um jogo decisivo, o que se tornou um fracasso. Ele queria ver até que ponto poderia provocar mudanças nas relações contratuais que ligam o Saged e o Esporte Clube Santo André. Acreditava Ronan Maria Pinto que a manobra funcionaria: a direção do Esporte Clube Santo André cederia a todas as suas vontades, mesmo depois de administrar o Saged com centralismo, absolutismo e imperialismo. Ronan Maria Pinto queria a representatividade formal do Ramalhão nas esferas esportivas que, protocolarmente, é do Esporte Clube Santo André. Não lhe satisfazia o controle técnico-administrativo total. Queria o comando formal, contrariando o contrato firmado que, de fato, jamais foi cumprido, dado o ditatorialismo do dirigente do Saged.
A resposta à tentativa de golpe de Estado de Ronan Maria Pinto veio em seguida, agora segundo fontes de acionistas do Saged que teriam recebido informações de dirigentes do Esporte Clube Santo André e do próprio Ronan Maria Pinto: é praticamente impossível o Saged tornar-se clube-empresa, segundo definição jurídica da expressão, enquanto a empresa terceirizada para administrar o Ramalhão não acertar todos os débitos, inclusive tributários. E mesmo assim, caberia à direção do Esporte Clube Santo André, de Celso Luiz de Almeida, a decisão de aceitar nova identidade e composição empresarial para gerenciar o Ramalhão, substituindo-se o Saged.
A constituição do Santo André Futebol Limitada, uma das alternativas de um novo clube-empresa, não se consumaria sem a aprovação do Esporte Clube Santo André. A medida exigiria alteração do contrato firmado há quatro anos.
CapitalSocial ouviu dois especialistas sobre a possível transferência da administração formal do Ramalhão a uma nova empresa, com nova composição jurídica. Ambos afirmaram que o Esporte Clube Santo André poderá arcar com as consequências relativas às atividades esportivas da equipe, enquanto os comandantes e os acionistas do Saged sofreriam demandas dos demais credores. Ou seja: os débitos diretamente relativos à operacionalidade do futebol seriam de responsabilidade do Esporte Clube Santo André, de direito o representante oficial do Ramalhão, enquanto os prejuízos gerados por compromissos assumidos formalmente pelo Saged seriam uma arma apontada a dirigentes e acionistas da empresa.
Os pareceres informais dos especialistas ouvidos por CapitalSocial coincidiriam com o resultado de uma consulta que teria sido feita pelo presidente do Esporte Clube Santo André, Celso Luiz de Almeida, quanto às responsabilidades da agremiação associativa com eventual devolução unilateral do Ramalhão pelo Saged caso as dívidas que ultrapassariam a R$ 15 milhões não fossem sanadas.
A direção do Esporte Clube Santo André teria então se posicionado informalmente sobre as medidas que tomaria: exigiria dos acionistas do Saged o resgate dos passivos, evitando-se o risco de o Parque Poliesportivo do Esporte Clube Santo André sofrer completa paralisia por falta de recursos financeiros para manter o quadro de funcionários e obrigações diversas, inclusive de manutenção operacional.
Uma versão de que se solicitaria algo como uma intervenção judicial para apurar os débitos do Saged teria também contribuído para arrefecer a operação-renúncia de Ronan Maria Pinto, independentemente de blefe. Uma reunião marcada para a próxima quinta-feira, que reuniria apenas um grupo de sete acionistas, que formam o Conselho Consultivo do Saged, deverá dar algum encaminhamento objetivo à situação. Tudo pode acontecer, inclusive a renúncia à renúncia de Ronan Maria Pinto e, também, por se sentir pressionado, o dirigente decidir renunciar de fato.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André