Esportes

Ramalhão também é rebaixado
no campeonato de transparência

DANIEL LIMA - 29/04/2011

O Ramalhão é um prato cheio para qualquer jornalismo minimamente inteligente e responsável, porque é um navio que afunda aos olhos de todos, mas, por conta de peculiaridades, poucos se mobilizam em torno de informações que eliminem dúvidas, confrontem dados, desmascarem usurpadores.


Não fosse a revista CapitalSocial, que vai muito além das quatro linhas dos gramados quando se trata de esportes, o processo de esfacelamento do Ramalhão sob a gestão do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva) passaria em branco.


Até parece que não estamos tratando de uma propriedade sentimental e cultural do Grande ABC com mais de quatro décadas de existência e inúmeras disputas inesquecíveis.


Não existe um tratado formal para dar refresco ao Ramalhão do presidente Ronan Maria Pinto. O que existe é algo muito pior, porque dissimulado e envergonhado: o dirigente é dono do Diário do Grande ABC e as outras mídias se sentem de alguma forma constrangidas em vasculhar as vísceras do Saged, empresa que Ronan Maria Pinto dirige com cuidados contábeis de vendedor de quinquilharias.


Fosse Ronan Maria Pinto qualquer coisa, menos dono do Diário do Grande ABC, há muito tempo teria sido desalojado da presidência do Saged. Como a maioria o teme, é possível que fique no Saged até quando bem entender.


Desmascarada a farsa da renúncia de quem de fato pretendia controle ainda mais autoritário do futebol de Santo André, não resta a Ronan Maria Pinto senão sujeitar-se a encontrar a saída para a enrascada em que meteu o Ramalhão, trirrebaixado nas últimas temporadas.


Querem saber o que vai acontecer com o Ramalhão?


Lamentavelmente, se está no palco Ronan Maria Pinto a revelar todo o despreparo de um saxofonista, esperem para ver quando ele resolver tocar piano.


A mais recente atuação do dirigente foi solicitar o cancelamento da reunião que ele mesmo recomendou ao presidente do Conselho de Acionistas do Saged, o empresário Jairo Livolis, ex-presidente do Esporte Clube Santo André, responsável pela construção do Poliesportivo do Parque Jaçatuba.


Não há justificativas consistentes à mudança de data para a semana que vem. Mas a explicação é simples: Ronan Maria Pinto precisa ganhar tempo para encontrar alguma solução. Ele teme que o Ramalhão seja novamente rebaixado, agora no segundo semestre, quando enfrentará adversários complicados na fase classificatória e desclassificatória da Série C do Campeonato Brasileiro.


Responsável direto pela versão única de informações esfarrapadas do fracasso do Ramalhão, utilizando-se para tanto das páginas do Diário do Grande ABC em que manda e desmanda, Ronan Maria Pinto cometeu o pecado capital de transferir a terceiros pelo menos parte da culpabilidade por seguidos rebaixamentos. Correlaciona os insucessos ao recorte do Saged quando, de fato, a estrutura jurídica dessa empresa terceirizada para administrar o futebol do Ramalhão é o melhor dos mundos.


Fosse o Ramalhão clube-empresa de direito, embora o seja de fato, os custos gerenciais aumentariam em pelo menos 40%, segundo especialistas que ouvimos atentamente. Ou seja: o prejuízo acumulado de mais de R$ 15 milhões ultrapassaria a R$ 20 milhões. Ronan Maria Pinto faz encenação às torcidas organizadas e aos leitores do Diário do Grande ABC quando afirma diretamente ou por terceiros que o desenho jurídico do Saged é um tiro no pé. Bobagem, pura bobagem.


Se me perguntarem o que vai acontecer com o Ramalhão no futuro — e essa pergunta já me fiz várias vezes, e as respondi para mim mesmo sem pestanejar — o mais provável é que estará numa encruzilhada de desaparecimento puro e simples e de recomposição hierárquica no futebol brasileiro numa marcha tão lenta, tão lenta, que, provavelmente, muitos dos que se omitem hoje em relação aos acontecimentos não estarão mais neste mundo.


Visão catastrófica? Nada disso. Infelizmente, Santo André envelheceu de tal maneira como Município que acumulou muitas perdas industriais nas três últimas décadas que já não vejo o ímpeto de cidadania esportiva se manifestar, porque o fenômeno seria um desdobramento de cidadania maior de outros tempos. O desfalecimento é tamanho que Ronan Maria Pinto reina absoluto com seus tropeços homéricos e nada, absolutamente nada, se desdobra.


Somando-se todos os aspectos econômicos, sociais e sociológicos que colocam os municípios periféricos das regiões metropolitanas na penumbra do capital social, tudo isso sob o peso da exclusão das grandes redes de televisão, com as especificidades do mundo da bola, alçado à condição de estrela de primeira grandeza nos negócios de marketing esportivo, estultice seria projetar um Ramalhão revigorado a dar a volta por cima.


A alternativa mais viável, talvez a única, de atrair investidores internacionais para reerguer o Ramalhão, está completamente fora do radar de gente séria porque ninguém que tenha juízo vai meter o nariz numa caixa-preta chamada Saged.


Quem poderia esperar que esse fosse o ponto terminal, ou quase terminal, do décimo melhor clube paulista no ranking nacional da Confederação Brasileira de Futebol? Isso mesmo: o Ramalhão está entre os 10 clubes paulistas mais importantes da história quando se observa o ranking de pontos acumulados em competições nacionais.


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