Caçapa cantada nesta revista CapitalSocial, o dono do Diário do Grande ABC confirmou ontem à noite em reunião do comitê do Conselho de Acionistas do Saged que renunciou à renúncia ao cargo de presidente do Ramalhão. A tentativa de golpe de Estado deu com os burros nágua. Ronan Maria Pinto substituiu a apresentação de carta-renúncia pela informalidade de colocar o cargo à disposição. A maioria do comitê rejeitou o atalho. O Ramalhão é um abacaxi financeiro tão indigesto que não há quem segure o rojão, exceto os principais responsáveis pelas complicações que culminaram com o recorde de rebaixamentos de uma equipe nos últimos anos.
O título deste artigo na língua do “erre” foi proposital. E se querem saber, estava pronto havia mais de três semanas, à espera do texto. Sabia exatamente o enredo dessa ópera-bufa de quinta classe protagonizada pela presidência do Santo André Gestão Empresarial e Desportiva.
A situação administrativa e financeira do Ramalhão é tão grave que está à beira ao desespero. Talvez só perca para o cenário que se desenha para os próximos meses, quando novo rebaixamento, agora à Série D do Campeonato Brasileiro, é o roteiro mais provável. Brasil de Pelotas, Caxias, Chapecoense e Joinville não são adversários que acenam dias de glórias ao Ramalhão. Qualquer movimento que se faça para contrariar a tendência de nova degola desencadearia no agravamento financeiro. O Saged não se sustenta. O Ramalhão foi sucateado ao longo dos últimos quatro anos. Respira por aparelhos. Doses maciças de morfina financeira serão paliativas. A estrutura está destruída.
Ainda vou apurar em detalhes os meandros da reunião de ontem à noite na sede do Esporte Clube Santo André. Os vazamentos são inevitáveis. Sei já neste início de quinta-feira que a atmosfera do encontro em petit-comitê do Conselho dos Acionistas do Saged não foi das mais leves. Ronan Maria Pinto escapou por pouco da visibilidade e da transparência maiores da Assembléia Geral dos acionistas.
A intenção de Jairo Livolis e de Celso Luiz de Almeida, dirigentes históricos do Esporte Clube Santo André, era conduzir a definição do pedido de renúncia ou de cargo à disposição de Ronan Maria Pinto ao conjunto dos acionistas. Composto de sete membros, o Conselho Consultivo do Saged preferiu a acomodação ao descartar o esticamento do caso. Os aliados de Ronan Maria Pinto descobriram a pólvora de que a ameaça de renúncia, que virou do cargo à disposição foi uma tremenda bobagem. Para que dar sobrevida a um ataque camicase?
O que se pergunta nestas alturas do campeonato é quando os acionistas do Saged vão ter coragem e dignidade de dar transparência à contabilidade financeira do Ramalhão. Um balanço financeiro minucioso, como recomenda a ética e a moralidade em corporações de múltiplos participantes, seria o mínimo. Depois de quatro anos de operações, o Saged é uma caixa-preta. O recuo de Ronan Maria Pinto tem a ver também com o temor de repercussões jurídico-dministrativa.
Se renunciasse de fato, algo que vociferou apenas como estratégia para tomar de vez o poder no Ramalhão, o presidente do Conselho Consultivo, Jairo Livolis, assumiria o cargo e chamaria, imediatamente, reforço judicial.
Pretendia-se utilizar mecanismos legais para apurar tim-tim-por-tim-tim toda a contabilidade pregressa do Saged. Seria o estouro da boiada de improvisações, despreparo, malversações e quejandos. Provavelmente sobrariam complicações a muita gente. Ronan Maria Pinto foi aconselhado a reduzir a carga de pressão contra os dirigentes do Esporte Clube Santo André.
Nem a falácia de que o modelo de clube-empresa adotado pelo Saged contribuiu para a hecatombe do Ramalhão ganhou fôlego nos últimos dias. A máscara da tentativa de transferência de responsabilidade pelos erros cometidos caiu de vez. Especialistas asseguram que o Saged é recorte jurídico perfeito para quem quer sofrer menos impacto tributário. É um clube em tudo que diz respeito às atividades esportivas previstas na legislação, e empresa beneficiada pela redução de custos tributários. O Saged é uma sociedade mercantil para ganhar dinheiro e uma sociedade esportiva no pagamento de impostos. O melhor dos mundos.
Traduzindo, o Saged tem cabeça empresarial e corpo esportivo. A queixa maior do presidente Ronan Maria Pinto é que o modelo não lhe confere representação esportiva formal. Reuniões nas instâncias esportivas têm de contar com a presença obrigatória de Celso Luiz de Almeida, presidente do Esporte Clube Santo André, ou de alguém que venha a ser credenciado. Celso Luiz de Almeida é respeitadíssimo tanto na Federação Paulista de Futebol quanto na Confederação Brasileira de Futebol. Já não se pode dizer o mesmo de Ronan Maria Pinto. Relações diplomáticas não se constroem do dia para a noite, como se sabe.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André