Esportes

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come; essa é a situação do Ramalhão

DANIEL LIMA - 16/05/2011

O Ramalhão do segundo semestre desta temporada, um semestre de Série C do Campeonato Brasileiro que pode durar menos de dois meses, está naquela situação axiomática de que se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Mais precisamente, esse é o quadro que envolve o Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), empresa que terceirizou a administração do Ramalhão com todas as vantagens que os clubes-empresas não têm.


Já há gente em Santo André que se arrepende de não ter forçado o presidente Ronan Maria Pinto a cumprir a ameaça de renunciar ao cargo. Ronan ficará à frente do Ramalhão por tempo que não se imagina quanto. E deverá, com isso, prolongar a crise esportiva, institucional, econômica e financeira.


O fato cristalino que salta da derrocada do Ramalhão é que tudo tende a piorar e que nada, absolutamente nada de novo, deverá pintar com cores menos sombrias o horizonte mais próximo.


O Ramalhão está perdido no nevoeiro de uma gestão empresarial e esportiva sofrível. Os acionistas do Saged já entregaram a rapadura. Chamá-los para distribuir tarefas e financiar o rombo de mais de R$ 15 milhões será pura perda de tempo.


O Ramalhão vai ser tocado com a barriga por Ronan Maria Pinto. Novo rebaixamento, agora à Série D do Campeonato Brasileiro, é o temor maior. Só falta mais essa para enterrar de vez a grandeza de um clube médio que um dia chegou a ganhar a Copa do Brasil e a frequentar com assiduidade a Série A do Campeonato Paulista e a Série B do Campeonato Brasileiro.


Há lamentações por conta da liberalidade decisória do Conselho Consultivo do Saged que, em resposta a um Ronan Maria Pinto que colocou o cargo presidencial à disposição, em vez da renúncia, impediu por margem escassa de votos que o caso fosse levado à Assembléia de Acionistas.


Concedeu-se a Ronan Maria Pinto, que jamais prestou conta de absolutamente nada à frente do Ramalhão, um respiradouro administrativo que não alterará em nada a rota preferencial de quem opta sempre e sempre pelo obscurantismo gerencial.


O dirigente ganhou sobrevida que queria para tentar tapar os buracos que o assolam fora do futebol porque sabe que os buracos do futebol poderiam remetê-lo ainda mais a complicações fora do futebol.


Não há, portanto, como vestir-se de otimismo senão hipócrita e apreciar o futuro do Ramalhão sem um mínimo de desconfiança de que o mais provável é que tudo vai agravar-se.


Os preparativos para a Série C do Campeonato Brasileiro são dignos de equipe próxima da Quarta Divisão. O discurso de renovação do elenco é manjadíssimo e pode ser traduzido da seguinte forma: o Ramalhão está numa pindaíba de dar dó e vai recorrer a tudo para montar um catado que possa ter alguma força. Um dos adversários que enfrentará é o Chapecoense, que acaba de conquistar o titulo catarinense. Os outros são o Joinville, o Caxias e o Brasil de Pelotas.


Quem conhece um mínimo de futebol sabe que gaúchos e catarinenses não são exatamente os adversários mais desejados nesse tipo de competição.


Há conselheiros e acionistas do Ramalhão que começam a desconfiar para valer que o afastamento de Ronan Maria Pinto poderia ser uma notícia mais agradável do que a continuidade. Sem o aniquilado Saged o Ramalhão poderia ter voltado à administração do Esporte Clube Santo André, onde há dirigentes com experiência no futebol. Eles só repassaram o Ramalhão aoSaged porque acreditavam no sucesso de um novo modelo degestão.


Por outro lado, não falta quem peça cautela e caldo de galinha, porque não há Esporte Clube Santo André que seja suficientemente apropriado para absorver a avalanche de complicações de quatro anos de descalabros do Saged.


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