O São Caetano vai apresentar uma grande novidade tática na abertura da Série B do Campeonato Brasileiro desta temporada, nesta sexta-feira à noite em Caruaru diante do Salgueiro, um dos novos integrantes da competição. O sistema 3-5-2 utilizado há muito tempo dará lugar ao 4-4-2 de Márcio Goiano, técnico que levou o Figueirense, ano passado, de volta à Série A.
Quem não é do ramo pode considerar a mudança irrelevante. Entretanto, para o São Caetano trata-se de transformação importante na engenharia organizacional. Talvez possa ser comparada ao caso de uma empresa que vende produtos apenas para os ricos e decide também ir à nova classe média emergente. É preciso um período de adaptação. Deve-se contar com profissionais habilitados à nova empreitada.
O São Caetano tem um elenco cuja morfologia técnico-tática foi concebida nos últimos anos para atuar no sistema 3-5-2. Com isso, as contratações voltaram-se ao fortalecimento numérico de zagueiros que atuam internamente, e se deu preferência a laterais apoiadores, os chamados alas.
Na prática a teoria não funcionou principalmente no recém-encerrado Campeonato Paulista. O São Caetano revelou-se ofensivamente limitado demais. Tanto que só marcou 22 gols em 20 jogos. Uma média baixíssima de 1,1 gol por jogo. E sofreu iguais 22 gols. Foi por isso que não chegou entre os oito finalistas.
Como explicar um nível tão baixo de produção ofensiva? Estava a matutar sobre o assunto já havia algum tempo na tentativa de matar a charada e acho que consegui, antes mesmo de, me revelam fontes insuspeitas, o técnico Márcio Goiano iniciar preparação exatamente no sentido de adotar o sistema 4-4-2, mais a seu gosto pessoal e, acreditem, apesar da quantidade de zagueiros de área, das disponibilidades do São Caetano.
De fato, verdadeiramente, o São Caetano vinha jogando numa espécie de 5-3-1-1. Parece bizarrice, mas não é. Além dos três zagueiros de área, os laterais Arthur e Bruno Recife também se posicionam muito mais defensivamente do que como alas, espécies de armadores pelas extremidades do campo. Arthur é zagueiro de área de origem e dá respostas positivas se for bem abastecido como ala.
A diferença entre Arthur e Bruno Recife é que o primeiro é mais jovem, tem mais força física e chegou a ser bem explorado em alguns jogos do Campeonato Paulista e do Campeonato Brasileiro do ano passado como ala com ímpeto para penetrar em diagonal. Bruno Recife já não tem tanto fôlego e a velocidade não é seu ponto forte.
Com excesso de lotação defensiva, já que, repito, atuava quase o tempo todo com cinco zagueiros, sobravam espaços no meio de campo do São Caetano. Por isso a equipe não alcançava estabilidade tática nem mesmo durante um mesmo jogo. Foram raras as situações no Campeonato Paulista em que o São Caetano teve fluência na zona de criação e manteve o adversário sob controle.
A posse de bola sempre se tornou tormentosa para o Azulão. Faltava compactação no meio de campo porque escasseava gente para ocupar espaços. Resultado: o ataque tornava-se previsível, por conta de algumas poucas opções, raras aproximações e de excessos de lançamentos. Sacrificava-se demais Ailton, o cérebro do time, isolado entre os volantes e com dificuldades para aproximar-se do centroavante. Souza foi o volante-armador que mais chegou ao ataque.
Os melhores jogos do São Caetano no Campeonato Paulista foram contra equipes grandes entre outras razões, além da motivação especial, porque o defensivismo latente do 3-5-2 tornava-se estratégico em vez de um tiro no próprio pé. Jogar contra as grandes equipes com preocupação mais defensiva é natural. Explorar os contragolpes é óbvio. Agora, enfrentar equipes do mesmo nível ou, em muitos casos, inferiores, sem o adensamento ofensivo de alas de verdade, de volantes mobilizados a invadir o campo adversário, é outra coisa.
Tenho informações seguras que Márcio Goiano vai levar o São Caetano ao ataque sem cometer loucuras defensivas. Já que Arthur e Bruno Recife são mais laterais que alas, que joguem mais como laterais que alas. Já que os volantes Augusto Recife e Ricardo Conceição são móveis, que tenham mobilidade para auxiliar Ailton e Souza, que atuariam como volantes-armadores. E no ataque deverá colocar Renatinho mais próximo de Nunes, o novo centroavante. Um 4-2-2-2 com possíveis variáveis. Uma das quais a possibilidade de introduzir o 4-1-3-2, com o volante fixo Erandir, recorrendo a Augusto Recife, Ailton e Souza mais adiantados, e dois atacantes prontos para dar o bote. Semelhantemente ao que Muricy introduziu no Santos agora muito mais cuidadoso na defesa.
Também não estaria descartada a possibilidade de, em determinadas situações de jogo, o Azulão voltar-se ao 3-5-2 circunstancial, supostamente para manter uma vantagem no placar que requer cuidados maiores.
Certo mesmo é que parece que o técnico Márcio Goiano está decidido a ajustar o São Caetano de acordo com a disponibilidade de recursos técnicos, partindo do princípio de que vai tornar o time mais ofensivo. Finalmente, o meio de campo deverá ter consistência.
Quem sabe o novo contratado do São Caetano consiga, finalmente, tornar o rendimento coletivo muito mais próximo dos valores individuais? Nada mais providencial, porque uma das quatro vagas à Série A só será possível com pelo menos 55% de produtividade, que é a divisão dos pontos conquistados pelos pontos em disputa. Nas quatro vezes em que o Azulão disputou a Série B, depois de rebaixado em 2006, não conseguiu chegar a 48% de índice de rendimento. Para chegar entre os quatro precisará de evolução de 20% nos pontos médios conquistados. Quem sabe o 4-2-2-2 seja a resposta?
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