Com um técnico que comandou o acesso do Figueirense na temporada passada e com um elenco numeroso e repleto de jogadores de boa qualidade, o São Caetano reinicia nesta noite contra o estreante Salgueiro, em Pernambuco, a maratona da Série B do Campeonato Brasileiro. Será a quinta temporada seguida no principal campeonato de acesso do País do clube médio mais vitorioso neste século. Uma certeza está clara, fruto do aprendizado: a longa jornada de 39 etapas exige regularidade.
E o que vem a ser regularidade, quando se trata de chegar à Série A? Simples: o Azulão não pode desgarrar-se dos índices estatisticamente previsíveis para manter-se entre os primeiros. Quando se descola dessa margem de segurança — e cada rodada consumada agrava a situação aos inadimplentes — a recuperação torna-se cada vez mais problemática.
Se os leitores mais meticulosos forem aos arquivos desta revista digital vão entender o que estou escrevendo, porque me fio muito nos números para apontar alguns caminhos.
A maioria da crônica esportiva faz pouco caso da matemática. Há alguns especialistas no ramo esportivo que dificilmente quebram a cara. Salvo exceções à regra, casos do Fluminense de 2009 que escapou milagrosamente do rebaixamento e também o Flamengo campeão na mesma temporada, na Série A do Brasileiro.
Geralmente os jornalistas esportivos se fiam em números absolutos e esquecem números relativos quando procuram embasar análises sobre as possibilidades das equipes, tanto na disputa pelo acesso quanto de fuga do rebaixamento. Erra-se demais porque eles simplificam o que é complexo.
Quanto se tem quatro pontos de diferença e se restam algumas rodadas para o encerramento da competição, normalmente se diz que são apenas quatro pontos. Entretanto, quanto se vai aos números relativos, aos percentuais, a história é outra. Uma equipe que após 35 rodadas apresenta desempenho médio de 48% dos pontos disputados terá que alcançar 52% até a última rodada para chegar ao acesso. Parece pouco, mas os quatro pontos percentuais de distancia entre o que se tem e o que se necessita significam rendimento médio superior ao histórico alcançado pela equipe na competição.
Daí a prioridade absoluta ao quesito regularidade.
Está estatisticamente provado que a melhor garantia para subir à Série A do Campeonato Brasileiro é o São Caetano alcançar 57% dos pontos. São 65 pontos positivos em 114 disputados. Com menos pontos é possível também chegar em quarto lugar, que é a risca de corte, como chegou o América de Minas no ano passado (55,26%), Grêmio Barueri em 2008 (55,26%), Vitória da Bahia em 2007 (51,75%) e América de Natal em 2006 (53,51%), temporadas nas quais o sistema de turno e returno prevaleceu. Os 57% foram registrados pelo Atlético Goianiense em 2009.
Certo, como se observa, que não há registro de acesso a contemplar equipe que tenha somado menos de 58 pontos na temporada. O máximo que o São Caetano atingiu desde que disputa a Série B foram 54 pontos na temporada de 2009 (sétimo colocado) e também 54 pontos em 2008 (nono colocado). No ano passado, chegou a 52 pontos, com 46% de índice de aproveitamento. Precisará somar 13 pontos a mais nesta temporada se quiser alcançar a tranquilidade dos 57% de aproveitamento do Atlético Goianiense em 2009. Ou apenas mais nove pontos se quiser passar o sufoco do acesso do América de Natal em 2006.
A experiência que se repete a cada ano de uma competição em turno e returno sedimenta aperfeiçoamento dos dirigentes, treinadores e jogadores. É possível que a ilusão dos números absolutos já tenha sido relegada a segundo plano entre os mais preparados. Uma tabela de premiação que subordine o posicionamento no campeonato ao índice de rendimento estimula desempenho mais uniforme.
A divisão de competição tão desgastante em etapas, estabelecendo-se metas para cada período, com possibilidade de retificações do trajeto, também integra o receituário dos clubes mais consistentemente organizados.
Ou seja: há alternativas não-excludentes que podem proporcionar projeto substancioso que tenha como objetivo final uma disputa sem sobressaltos.
A previsibilidade de um sistema motivacional à manutenção da regularidade de uma equipe com potencial de acesso é fator diferenciado numa atividade ainda fortemente marcada pelo improviso, pelo imediatismo, pelo atalho e pela simplificação.
Disputar a Série B do Campeonato Brasileiro com os olhos postos numa das quatro primeiras colocações tem de ser algo como a preparação e a execução de uma maratona.
Qualquer atleta que já tenha experimentado algo semelhante sabe que mais importante que uma largada impetuosa ou uma chegada alucinante é o ritmo estável e competitivo durante todo o trajeto. É claro que no futebol probabilidades de surpresas fazem parte do roteiro, mas paradoxalmente também isso deve estar na previsão de rendimento, estabelecendo-se margem de manobra numérica.
O que não tem sentido é que a performance de uma equipe remeta a um eletrocardiograma de enfartado.
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