Esportes

São Caetano sinaliza que vai ser
mesmo mais ofensivo na Série B

DANIEL LIMA - 23/05/2011

A estreia do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro na última sexta-feira em Paulista, na Grande Recife, preencheu a expectativa exposta nesta revista digital na semana passada, quando me referi à mudança tática implantada pelo técnico Márcio Goiano: o 4-4-2 que substitui o 3-5-2 coloca a equipe no ataque. Por isso mesmo o sistema exige paciência durante a fase de adaptação. O resultado contra o Salgueiro poderia ter sido desmotivador, mas o empate de 1 a 1 alcançado no final do jogo encaixou-se na lógica de que sempre é bom somar ponto fora de casa. A instabilidade durante os 90 minutos decorre da fase de adaptação. O Azulão ainda está eliminando vícios de um suposto 3-5-2. Pretende ser um tigre ofensivo, depois de atuar como elefante defensivo.


Se querem saber o que achei do desempenho da equipe, logo vou escrevendo: apesar dos pesares, gostei.


Primeiro porque tornou-se mais leve, mais participativa, mais ocupadora de espaços.


Segundo porque o centroavante Nunes não ficou tão isolado quanto Eduardo durante todo o Campeonato Paulista.


Terceiro porque houve mais troca de passes no meio de campo, mais controle das ações, mesmo que com baixa resolutividade ofensiva.


Quarto porque não se intimidou diante de um adversário que joga duro, na bola, mas duro. E que tem uma vocação incansável à redução de espaços.


Quinto porque o aperto das dimensões do campo em Paulista é contraproducente à linhagem mais técnica do time de Márcio Goiano.


É muito provável que somente após a sexta rodada desse primeiro turno o São Caetano possa ser examinado individual e coletivamente com menos risco. Mas é possível antecipar algumas conclusões.


Talvez o posicionamento da dupla de zagueiros internos deva sofrer alteração. Eli Sabiá jogou o tempo todo pela esquerda e Thiago Martinelli pela direita. Quem os conhece sabe que atuam exatamente em lados opostos, Eli pela direita e Thiago pela esquerda. Sei lá as razões de Márcio Goiano para a inversão. Seja qual for, dificilmente convencerá quem sabe que em futebol simplicidade faz diferença. Imaginem Chicão jogando pela esquerda na defesa do Corinthians, Miranda pela direita no São Paulo, Danilo pela esquerda no Palmeiras, Edu Dracena pela esquerda no Santos. É complicado.


O meio de campo que atuou grande parte do jogo contra o Salgueiro contou com excesso de volantes-armadores e com escassez de armadores-volantes. Augusto Recife, Ricardo Conceição e Souza têm características assemelhadas, de forte marcação e avanço a partir da zona intermediária defensiva. Ter qualquer um deles como armador que procura atuar defensivamente e que dê apoio ao ataque é exigir demais. Tanto que o São Caetano melhorou de rendimento quando Cleber substituiu a Souza e dividiu encargos de armação com Ailton, mais ofensivo e que por isso mesmo não pode atuar tão longe da intermediária adversária.


O nível de posse de bola e de ultrapassagens curtas, bem como as viradas de jogo, ainda está aquém do desejado. Mas é natural, porque durante todo o Campeonato Paulista o São Caetano fez mal e porcamente essa equação. Principalmente porque o sistema 3-5-2 de fato era 5-4-1. A equipe recorria demais a lançamentos verticais ou cruzamentos, contrariando a característica individual da maioria dos jogadores.


Ainda é muito cedo para projeções, até porque a Série B não reúne contrastes históricos de forças da Série A, cujos participantes podem ser divididos em três blocos facilmente identificáveis, dos que lutarão pelo título, dos que lutarão por posições intermediárias que darão direito a uma Copa Sul-Americana e dos que querem mesmo é fugir do rebaixamento. A Série B recomenda que se espere um pouco mais para um diagnóstico dos integrantes dos três blocos, que surgirão por volta da virada de turno, ou quem sabe um pouco antes.


O São Caetano transmite a sensação de que pode, finalmente, depois de quatro temporadas na penumbra, requisitar uma vaga na Série A. Mas isso é apenas uma impressão, que espero não ser passageira. A opção à ofensividade e a motivação do grupo, detectada durante os 90 minutos em Paulista, alimentam a esperança de que teremos um time diferente. Provavelmente a média de gols será muito maior que nas disputas anteriores.


Resta saber se o saldo fará a diferença no final.


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