Esportes

Ramalhão e Tigre, contrastes no
rebaixamento e rumo ao futuro

DANIEL LIMA - 25/05/2011

Uma coisa foi o rebaixamento do São Bernardo à Série B do Campeonato Paulista da próxima temporada; outra coisa foi o rebaixamento do Santo André à Série B do Campeonato Paulista da próxima temporada. Faço questão de repetir a frase com os respectivos nomes dos protagonistas de duas das quatro quedas da temporada do principal campeonato estadual do País para que não haja dúvida. Martelo uma sequência de palavras rigorosamente iguais, trocando apenas o sujeito, para facilitar a memorização dos leitores. É assim que sempre faço, esse jogo de palavras que não tem outro objetivo senão cristalizar uma ideia. Não estou esclerosado. Ainda. Podem acreditar.


Embora não faltasse quem procurasse colocar os dois descensos na mesma panela de ineficiências, como também até mesmo a não-classificação do São Caetano à fase de mata-matas, há fundas diferenças entre o desempenho passado e a projeção dos próximos tempos envolvendo as equipes da região que vão disputar o Acesso em 2012.


A principal distinção é que o Tigre, como é conhecido o São Bernardo, caiu à Série B quando poderia ter se salvado, enquanto o Ramalhão caiu desde que começou a disputa.


Se tivesse que apostar no futuro do Ramalhão e do Tigre, se alguém surgisse com a coragem necessária para uma aposta de verdade, não tenham dúvidas os leitores que apontaria a organização da equipe de São Bernardo como contraponto ao esfacelamento do Ramalhão.


Qualquer situação que coloque o Ramalhão na trilha do sucesso e o São Bernardo no desvão de derrotas não passará de zebra.


Vejam só que mesmo sob o impacto de uma queda inesperada e mesmo injusta, pautada na última rodada por um gol sem querer de um atacante da Portuguesa que simplesmente errou a finalização, vejam só que mesmo assim o São Bernardo já dá mostras de reabilitação emocional completa.


Tanto que acaba de anunciar um técnico especialista na montagem de elenco, o experiente Luiz Carlos Martins, que comandou o surpreendente Oeste no recém-encerrado Campeonato Paulista.


E o presidente Luiz Fernando Teixeira, já há alguns dias, declarou que o Tigre voltará a forrar as arquibancadas do Estádio Primeiro de Maio com um público maciço doutrinado a virar torcedor.


Enquanto isso, o Santo André junta os cacos do trirrebaixamento, fica com as sobras do elenco mal-ajambrado que fracassou no Campeonato Paulista e já passou pelo vexame de receber um redondíssimo “não” de resposta do centroavante aposentado, Mixirica, que, hoje comerciante, precisou dizer aos dirigentes que já não tem mais bola nem fôlego para enfrentamentos competitivos.


Se levarmos o confronto às arquibancadas estaremos cometendo impiedosa maldade com o Ramalhão, provavelmente o clube brasileiro com o menor número de aficcionados quando divididos por facções de torcidas organizadas que vão ao Estádio Bruno Daniel.


Para dizer a verdade, o Santo André deixou de ter torcida e virou um time apenas de minguados torcedores organizados.


Percebe-se, com isso, que o egocentrismo presidencial do Saged, o clube-empresa informal (e por isso mesmo beneficiadíssimo com baixa carga tributária) espalhou-se e consolidou-se nas arquibancadas. Afinal, não tem sentido contar com tantos e mirrados grupos organizados enquanto as arquibancadas permanecem praticamente vazias.


Luiz Fernando Teixeira e Edinho Montemor formam uma dupla diretiva de valor à frente do São Bernardo. Num encontro ainda outro dia com ambos, durante a festa de aniversário do prefeito Luiz Marinho (isso mesmo, saí da toca noturna e fui a um evento, porque o dever jornalístico assim o exigia) conversamos demoradamente sob as condições auditivas pouco apropriadas por conta do som de um conjunto musical que animava os convidados. Senti que eles não só estão recuperados, lambendo as feridas do rebaixamento, como também animados. O São Bernardo vai ser fortíssimo candidato ao Acesso na próxima temporada.


Sinceramente, foi uma pena que a equipe tenha tido um primeiro casamento tão breve com a Série A. Tudo bem que pagou o preço da inexperiência na montagem do grupo de jogadores, sobretudo porque subestimou a importância de contar com um elenco e não apenas com um time. Mas mesmo assim o destino foi rigoroso demais.


Aquele gol já no tempo suplementar diante da Portuguesa, no Canindé, não será esquecido tão cedo. Até porque provocou marcha-ré no processo evolutivo de sustentabilidade de um projeto que conta sim com o suporte da Prefeitura. Quem é puritano e aponta o dedo de suspeitabilidade de apoio logístico à agremiação subestima a importância de se contar como esse contraponto numa etapa em que os grandes clubes massacram os médios e os pequenos ao contarem com todos os benefícios do marketing televisivo.


Ainda não estudei a fundo o desenho organizacional do São Bernardo para dizer como pretendo dizer que é indispensável que se apliquem mecanismos de institucionalidade mais consistentes e à altura do que se observa nas arquibancadas, mas que a agremiação está anos-luz à frente do Ramalhão dirigido pelo Saged, como também no passado do Ramalhão dirigido pelo Esporte Clube Santo André, não há como negar.


No fundo, no fundo, o que pretendiam Jairo Livolis e Celso Luiz de Almeida quando decidiram repassar o Ramalhão para o Saged, numa situação de dívida zero e muita história de sucesso, era contar com algo como o São Bernardo que está aí. Só não poderiam suspeitar que havia uma pedra e tanto no meio do caminho.


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