Um gol logo no primeiro minuto de um jogo que sugeria facilidades acabou comprometendo o São Caetano na segunda rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. A derrota de 2 a 0 para o Ituiutaba, sexta-feira à noite no Anacleto Campanella, pode embaralhar o futuro próximo da equipe. Principalmente a liderança do técnico Márcio Goiano, que errou na escalação da equipe e meteu os pés pelas mãos nas substituições. O problema do São Caetano, entretanto, não está somente na assimilação do novo sistema tático implementado pelo treinador que levou o Figueirense de volta à Série A do Brasileiro, ano passado.
Para piorar a situação do São Caetano, o que parecia impossível de tornar-se mais comprometedor — um time sem poder ofensivo durante todo o Campeonato Paulista — acabou incontrolável diante do Ituiutaba: houve desajuste completo também no sistema defensivo.
Ganhar apenas um dos seis primeiros pontos no campeonato que classifica os quatro primeiros à Série A do ano que vem não é uma catástrofe, porque ainda tem muito água para rolar. O que deve preocupar é o enrosco tático e a apatia. O São Caetano não teve poder algum de reação.
Se até o inigualável Barcelona conta com um volante defensivo – o extraordinário Busquets — não se entende por que o São Caetano insiste em abrir mão de um especialista em rastrear a entrada da área. Com Augusto Recife, Ricardo Conceição e Souza, todos segundos-volantes, os zagueiros e laterais do São Caetano ficam vulneráveis demais. E olhem que o Ituiutaba entrou preocupado em se defender e se utilizou muito pouco de contragolpes com meias sempre livres de marcação e também com o apoio de laterais.
Os três volantes do São Caetano conseguiram a proeza de ausentarem-se de funções defensivas rígidas e de persistirem em erros de passes na articulação ofensiva.
Isso mesmo: a compensação de contar com três volantes móveis, com capacidade de organização de jogo, não foi o contraponto à vulnerabilidade defensiva. O São Caetano não imprimiu velocidade inteligente, excedeu-se em erros de passes, manteve o centroavante Nunes isolado demais e sobrevivia de avanços do lateral Arthur.
Para complicar a sorte do Azulão, o sistema com quatro zagueiros, quatro meio-campistas e dois atacantes em contraposição ao 3-5-2 de temporadas passadas ainda não foi absorvido. Em vários momentos do jogo transpirou a impressão que os próprios zagueiros esperavam contar com mais alguém na linha de defesa de modo a cobrir espaços vazios por onde penetravam atacantes mineiros.
O São Caetano parece estar condicionado a atuar com três zagueiros. Por isso mesmo a cobertura aos laterais que se soltam no apoio ao ataque é deficiente, entre outras razões também porque os volantes não se aperceberam que os corredores laterais precisam ser reforçados na vigília, no combate e na cobertura. Debitar exclusivamente a derrota de sexta-feira à pane tática não é o mais ajuizado. Faltou alma ao São Caetano. E não é a primeira vez, embora desta feita tenha sido exasperante. Nem uma feijoada consumida pouco antes do jogo serviria de justificativa a tamanha lentidão.
Para piorar a situação no segundo tempo, o técnico Márcio Goiano tentou corrigir um erro estrutural da equipe, de jogar com três volantes móveis e um articulador, no caso Ailton, quando optou por dois centroavantes. A entrada de Eduardo implicou na substituição de Ricardo Conceição. O meio de campo perdeu ainda mais em arrumação de jogo e o ataque ganhou uma redundância, porque Nunes e Eduardo são goleadores, embora com diferenciações técnicas.
Nunes sabe movimentar-se melhor em pequenos espaços, protege melhor a bola, sabe jogar de costas para o gol como espécie de parede, enquanto Eduardo é finalizador e cabeceador. Ambos são centroavantes convencionais, sem velocidade, agilidade, técnica e mobilidade para atuar fora da área. Raramente os treinadores brasileiros, exceto em momentos críticos de final de jogo, optam por dois centroavantes de características pouco complementares.
Somente a entrada do meia-armador Walter Minhoca no lugar de Antonio Flávio corrigiu parcialmente o erro do treinador do São Caetano, mas foi mesmo a saída do cansado Nunes que aliviou o congestionamento improdutivo no meio do ataque. Tudo isso muito aquém das carências da equipe, que sofreu o segundo gol no final em rápido contragolpe.
Frequentar a última colocação na Série B após a segunda rodada não é nenhum drama. O problema é enfrentar um adversário sempre indigesto na próxima rodada — o Bragantino, em Bragança Paulista — com possível trauma tático. Manter o 4-4-2 com variável ao 4-2-2-2 dos dois primeiros jogos ou voltar ao 3-5-2 do Campeonato Paulista, utilizando-se de jogadores das mesmas características de então, seria incidir em erros que não resolvem o maior problema da equipe: jogar coletivamente à altura das individualidades.
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