Somente nos últimos 25 minutos do jogo de ontem à noite em Americana o São Caetano atuou com alguma inspiração ofensiva, auxiliado é verdade pelo técnico adversário, Toninho Cecílio, que retirou um atacante e colocou um meio-campista defensivo. Mas não foi exatamente por isso que a equipe de Márcio Goiano perdeu o segundo jogo em cinco rodadas do primeiro turno da Série B do Campeonato Brasileiro. O experiente centroavante Dodô fez a diferença com um gol bem ao seu estilo, de fino finalizador.
Não fosse isso, é provável que o empate sem gols prevaleceria porque as duas equipes jogaram como se olhassem no espelho: com muito cuidado, marcação intensa, passes cuidadosamente medidos, infiltrações raríssimas. Um jogo de paulistas que se conhecem e que sabem que o empate é bom resultado, apesar da matemática do campeonato dizer o contrário.
A campanha do São Caetano na competição (uma vitória, um empate e duas derrotas) está aquém do esperado, mas não é motivo para decisões tresloucadas. Algumas ponderações são importantes, como é o caso da melhoria de um padrão de jogo que vem sendo concebido gradualmente, ao contrário do que se verificou no Campeonato Paulista com o técnico Ademir Fonseca. Também há ajustes por conta de reforços inseridos num contexto de nova configuração tática, no qual se consolida o sistema 4-4-2 e se descarta o 3-5-2.
Outro ponto que deve ser ponderado é que dos cinco jogos, três foram contra adversários paulistas. São clássicos estaduais entre médios clubes brasileiros. Serão 12 confrontos com essa marca ao longo da competição. Isso mesmo: nada menos que 36 pontos dos 114 disputados (31,5%) envolverão equipes paulistas. Traduzindo: um terço da Série B do Campeonato Brasileiro será espécie de Campeonato Paulista de clubes médios. Quem registrar melhores índices de produtividade possivelmente estará entre os quatro primeiros colocados. Por enquanto o São Caetano ganhou 44% desses pontos. Abaixo do índice geral de 55% para quem quer subir.
Mesmo sem repetir o jogo eficiente diante da Ponte Preta no Estádio Anacleto Campanella, quando o empate no final não traduziu o rendimento coletivo, o São Caetano não decepcionou em Americana. Já fez jogos muito mais comprometedores na temporada. Faltaram velocidade, mobilidade, infiltração, é verdade, mas é preciso levar em conta que havia um adversário em campo. Parece óbvio, mas não é. A maioria dos comentaristas esportivos costuma ver apenas um time em campo. O time sobre o qual se lançam mais holofotes. Ou que interessam particularmente à cobertura jornalística.
E o Americana foi um adversário que obedeceu rigidamente às determinações do técnico Toninho Cecílio, entre as quais a redução severa de espaços pelas laterais, por onde Arthur e Diego avançam para alimentar os centroavantes Nunes e Eduardo. Ao interromper esse circuito de transposição de bola, o Americana estrangulou ofensivamente o São Caetano. A marcação não era menos asfixiante nos dois jogadores com mais liberdade ofensiva no meio de campo: Allan e Fernandes eram vigiadíssimos.
O jogo morno do primeiro tempo, com leve superioridade do Americana em construir jogadas ofensivas, teria levado a um zero a zero mais que previsível não fosse Dodô e sua mania de fazer gols bonitos. Ao apanhar a bola na intermediária, sofrer um empurrão de Arthur e livrar-se do mesmo Arthur com um chega-pra-lá, Dodô encurtou a distância que o separava do goleiro Luiz e dos zagueiros de área com um chute letal em curva.
As mudanças do técnico Márcio Goiano no segundo tempo não foram tão importantes quanto o excedente de cuidados de Toninho Cecílio, ao trocar um 4-3-3 já cauteloso por um 4-4-2 aferrolhado. Com Dodô esgotado e já sem o sempre perigoso centroavante Reinaldo, o Americana perdeu a gestão de contragolpear para um São Caetano agora mais solto, mais ágil e mais mobilizado a ocupar espaços. Liderado por um Allan mais avançado e sempre pronto para o arremate ou passe certeiro, o São Caetano poderia ter empatado o jogo. Pena que Souza tenha errado passes demais e Antonio Flávio demorado a descobrir o melhor posicionamento, à direita, no vácuo entre o zagueiro e o lateral-esquerdo do Americana.
Agora vem o jogo no Ceará contra um Icasa que é a antítese do Americana: um time abusado, que se lança ao ataque sem medir consequências. O São Caetano precisa preparar botes certeiros para traduzir menos densidade em gols cortantes. É um jogo em que a inteligência tática pode superar o voluntarismo físico, mas o São Caetano também precisará gastar mais energia física.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André