Esportes

Depois de regredir, expectativa é
de que São Caetano volte a evoluir

DANIEL LIMA - 20/06/2011

Embora um ponto seja pouco ante três em disputa, o resultado foi melhor que a apresentação do São Caetano sexta-feira à noite diante do Icasa no Ceará. O zero a zero caiu do céu para quem passou o primeiro tempo inteiro como barata tonta em galinheiro e no segundo conseguiu reagir sem, entretanto, alcançar rendimento compatível com as rodadas anteriores, de evolução tática e técnica.


O jogo desta terça-feira no Estádio Anacleto Campanella ante o lanterninha Duque de Caxias é oportunidade de ouro para uma dose dupla de boa notícia, com retomada de rendimento satisfatório e a segunda vitória na competição.


Depois de seis rodadas, os seis pontos alcançados não significam mais que um terço de índice de produtividade. Muito pouco e estatisticamente dentro da zona de rebaixamento, embora o Azulão esteja fora da degola.


É preciso começar a elevar esse indicador nessa corrida contra o relógio. Ainda há muito terreno a ser percorrido para chegar a 55% de aproveitamento, que assegura um lugar na Série A do Brasileiro do ano que vem, mas quanto antes se aproximar dessa marca, melhor.


Foram mudanças demais no São Caetano que entrou em campo em Juazeiro do Norte. Alterou-se a equipe em todos os setores. Na defesa, com o lateral-direito Robert e o zagueiro-volante Thiago Martinelli. No meio de campo, além de Martinelli, também Souza e Júnior Xuxa. E no ataque, o abandono da dupla de atacantes: Nunes ficou de fora e Eduardo se fixou como centroavante. Um 4-5-1 condenado a reforçar a defesa e a apostar em algo lotérico para incomodar o goleiro Marcelo Pitol. O mais assombroso foi a incapacidade de reter a bola, provavelmente ligada à rede elétrica sempre que uma chuteira do Azulão a tocasse.


Sorte do São Caetano que o Icasa não consegue traduzir mobilidade e muito toque de bola em finalizações certeiras. Tanto que acaba de contratar um centroavante experiente, Alex Afonso, ex-Palmeiras e uma porção de equipes, para tentar colocar a bola dentro do gol com a simplicidade e a eficiência que faltam aos rapidíssimos mas dispersivos atacantes.


Os primeiros 20 minutos do segundo tempo sugeriram que o São Caetano poderia vencer o jogo. O Azulão parecia ter descoberto o mapa da mina, pela direita do ataque, onde Antonio Flávio, Robert e Allan resolveram jogar por aproximação. A iniciativa prendeu o lateral-esquerdo do Icasa, que passou o primeiro tempo todo no ataque, mas foi abandonada. Antonio Flávio procurou outros espaços, Allan voltou a ficar mais preocupado com a marcação e Robert cansou. Geovani deu mais velocidade ao contragolpe e Luciano Mandi uma opção pela esquerda que reduziu a liberdade de apoio do lateral adversário, mas o São Caetano insistia em oferecer poucas opções de ataque. Sem compactação entre os setores, o campo de jogo fica imenso e incontrolável.


O Icasa não teve no segundo tempo o controle do jogo do primeiro, mas também não se perdeu na ânsia de fazer os três pontos em casa. Tanto que praticamente não cedeu espaços demais aos contragolpes do São Caetano. O técnico Márcio Goiano esperava por excessos ofensivos do Icasa, um time que, em casa, joga à moda vai-ou-racha africana que se vê em toda Copa do Mundo. Desta vez o Icasa foi ao ataque, mas não se descuidou da defesa.


A lista de prioridades para o São Caetano não ser surpreendido por um Duque de Caxias que despenca na tabela começa pela definição tática. O hibridismo de terceiro zagueiro e primeiro volante de Thiago Martinelli causa mais complicações que soluções. A dupla tarefa embaralha a marcação dos dois zagueiros de área e abre buracos no meio de campo. Eli Sabiá e Anderson Marques vinham se entendendo muito bem.


Poucos treinadores brasileiros insistem nessa operação tática. Efeitos colaterais atingem o meio de campo, na readequação funcional de um ou outro componente. Diante do Icasa, apenas Souza pode ser catalogado como volante com razoável poder de marcação. Foi ele quem mais diretamente auxiliou Thiago Martinelli. Os demais – Júnior Xuxa, Allan e Fernandes — são mais ofensivos.


Ainda sobre zagueiro/volante, é preciso discernir o que pode ser ocasional, de lance ou determinado período de jogo, de estrutural, de determinação tática explícita e duradoura. Um terceiro zagueiro que passa o tempo todo preocupado em tornar-se volante compromete-se nas duas funções. Principalmente quando o adversário tem mais volume e iniciativa de jogo, caso do Icasa. Contra um provavelmente defensivo Duque de Caxias não há sentido em repetir a dose. Um terceiro zagueiro fixo não significa necessariamente o retrato de um time defensivo, porque os laterais com habilidade de alas podem compensar a ausência de um meio-campista convencional.


Também é preciso resolver o que fazer com Nunes e Eduardo. Esses dois centroavantes dão como resposta positiva um incômodo maior aos zagueiros adversários, mas exigem maior agressividade da equipe, com amplo apoio dos alas e verticalidade dos volantes e armadores. Sem isso, acabam inutilizados, perdidos entre lançamentos compridos. O ideal mesmo é jogar com dois atacantes que se completem, um mais letal e outro mais rápido, mais técnico. Nunes e Eduardo ocupam preferencialmente a grande área. Quanto mais distantes daquele espaço, menos resolutivos se tornam.


Não existe verdades definitivas no futebol, mas alguns conceitos precisam ser esquadrinhados. A maioria das grandes equipes não abre mão de um camisa nove como referência, mas já há tendência de preencher o setor com jogadores mais habilidosos, não necessariamente trombadores. O Barcelona dispensa o camisa nove convencional. Messi é quem deita e rola à frente (e também nas laterais) do gramado.


O Barcelona, convenhamos, é um time extra-terrestre. Não serve a comparações. Portanto, esculhambaria a teoria pela magnitude da força e do talento do conjunto. Seguir o receituário tradicional é a melhor decisão. Até porque, o São Caetano perdeu a classificação para o mata-mata do Campeonato Paulista em casa diante do Linense porque não contava com opção à ausência de Eduardo.


Com dois centroavantes o São Caetano perde mobilidade e fica estrangulado caso o adversário repita o Americana de terça-feira passada: basta destacar dois jogadores, no caso os meias de armação, para atuarem como secretários dos laterais na obstrução da subida dos alas. Aí a transposição ao ataque sobrecarrega o meio de campo. Volantes e armadores terão de desdobrar-se. Com dois centroavantes e um zagueiro/volante, a situação se agrava.


O São Caetano tem tudo para retomar a caminhada evolutiva no campeonato. Tomara que o jogo no Ceará tenha sido apenas uma exceção que confirmaria a regra. Uma exceção mais que lógica, é verdade, porque time algum fica impune a tantas mudanças.


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