Esportes

São Caetano sai do freezer para
o microondas com o mesmo time?

DANIEL LIMA - 27/06/2011

Duvideodó que o técnico Márcio Goiano repetirá nesta terça-feira à noite no Canindé contra a Portuguesa o São Caetano que goleou o Duque de Caxias quarta-feira à noite no Estádio Anacleto Campanella por 4 a 2. Duvideodó mil vezes, porque cada jogo é o jogo e as circunstâncias que o cercam. O time carioca era (e continua sendo) o lanterninha da competição que classifica os quatro primeiros à Série A do ano que vem. Já o time paulistano é líder e vem de duas vitórias incontestáveis: 5 a 1 diante de um Bragantino sempre indigesto e 4 a 1 contra o Goiás, fora de casa. Bastam esses pontos para acreditar que o São Caetano será programadamente cauteloso.


E precisa ser cuidadoso mesmo, porque as facilidades que encontrou e criou para superar com tranquilidade o Duque de Caxias expuseram recorrentes falhas de marcação que redundaram em dois gols dos cariocas, no segundo tempo. E de pelo menos outras três oportunidades agudas.


O São Caetano saiu de um freezer na quarta-feira passada para entrar num microondas nesta terça-feira.


Explico o que vem a ser sair de um freezer:


Primeiro, o adversário não tinha nada a perder como lanterninha da competição. Vinha de derrota em casa e transferia toda a responsabilidade de vitória ao Azulão.


Segundo, o São Caetano estava traumatizado, porque algumas horas antes de entrar em campo o elenco todo estava no Cemitério Jardim da Colina, acompanhando o sepultamento do vice-presidente Luiz Batata de Paula, assassinado juntamente com o irmão no dia anterior.


Terceiro, o São Caetano precisava da vitória a qualquer custo para, entre outras superações, não ficar ameaçado de terminar a sétima rodada do primeiro turno entre os quatro últimos, na zona de rebaixamento.


Explico o que vem a ser entrar num microondas:


Primeiro, a Portuguesa está embaladíssima com vitórias em seguida e gols em profusão.


Segundo, a Portuguesa joga pelo topo da tabela.


Então, tudo está perdido para o São Caetano? Qual nada. Essa é a grande oportunidade para o time de Márcio Goiano mostrar característica comum do Azulão: é nos momentos aparentemente mais problemáticos que tem poder de superação.


Mas para isso não poderá apresentar tantas vulnerabilidades defensivas. O sistema 4-4-2 de Márcio Goiano é mais ofensivo do que defensivo. Aos poucos o treinador define as melhores opções técnicas, mas não deve deixar de flexibilizar a tática. Jogar contra o líder pode sugerir a retomada do 3-5-2 ou postura mais conservadora do 4-4-2, segurando os laterais e os dois volantes. Nas duas goleadas aplicadas pela Portuguesa, ficou evidenciado que o time de Jorginho adora espaços concedidos pelos adversários, sobretudo à frente dos zagueiros. E agora que tem um Edno jogando onde sabe jogar (o mais próximo possível da grande área, como segundo atacante), as ideias do treinador estão mais viáveis.


É muito importante para o equilíbrio do São Caetano sair do Canindé com um resultado positivo. As circunstâncias poderão determinar até que ponto apenas a vitória seria festejada, ou se até mesmo o empate serviria. Certo é que chegar à oitava rodada, ou a 20% da competição, com 50% de índice de aproveitamento, seria desempenho satisfatório. Para isso, é preciso vencer.


Por que 50% são um índice a ser valorizado? Porque é muito próximo, historicamente, do necessário para chegar entre os quatro primeiros. É verdade que nenhum concorrente subiu com 50% de aproveitamento, mas a maioria chegou à Série A porque durante a competição jamais se deixou desgarrar demais dessa marca. Quando se tem de recuperar em curta cronologia os resultados que deixaram de ser conquistados ao longo da disputa, a situação se agrava.


Ora, chegar à oitava rodada com 50% dos pontos sinalizaria que o São Caetano teria se recuperado das primeiras rodadas. Não se poderia esquecer que a marca seria registrada num ambiente hostil, de cinco jogos fora e apenas três em casa. Mais que isso: quatro desses oito jogos diante de equipes paulistas, com conteúdo de clássico.


O técnico Márcio Goiano parece já se ter definido por um grupo de titulares. Há funções que parecem já ter sido confirmadas ou apropriadas. Casos do goleiro Luiz, dos laterais Robert e Diego, dos zagueiros Eli Sabiá e Anderson Marques, do volante-armador Allan e do armador Ailton, que está contundido.


Sobram disputas às funções de primeiro e segundo volantes, com Ricardo Conceição, Souza e Augusto Recife atrás de duas vagas, e aos dois ocupantes do ataque. Os centroavantes Nunes e Eduardo limitam demais a mobilidade da equipe. Por isso, depois do jogo de quarta-feira, Geovani (o melhor em campo) e Antonio Flávio passaram a ser cotados como titulares. Eles são velozes, hábeis, solidários na movimentação e até podem render mais reforçando a recomposição do meio de campo. A lista de pretendentes tanto para o meio de campo como para o ataque é extensa. O São Caetano não pode reclamar de falta de alternativas.


A realidade é que o São Caetano tenta se desvencilhar dos vícios do Campeonato Paulista. Márcio Goiano parece decidido a dar mais velocidade, mobilidade, densidade e técnica ao meio de campo e ao ataque. Mas ainda há dificuldades ao encaixe da marcação. Tanto meio-campistas quanto atacantes não desempenham funções defensivas persistentes, de marcação da saída de bola e dos deslocamentos dos alas e dos meio-campistas adversários.


O jogo com a Portuguesa vai ser uma ótima oportunidade para avaliar com mais precisão as reais possibilidades do São Caetano na Série B do Brasileiro. Nada definitivo, é claro, mas nada que não mereça atentas análises.


 


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