O São Caetano deve se dar por satisfeito por ter perdido por 5 a 2 ontem à noite no Canindé para a Portuguesa. As recomendações para que atuasse de forma cautelosa diante de uma equipe que está encantando na Série B do Campeonato Brasileiro foram olimpicamente desprezadas. Ou o técnico Márcio Goiano fez pouco caso das advertências, ou os jogadores precisam ser duramente repreendidos.
O São Caetano foi um time relapso na marcação e previsível com a bola nos pés. É possível que tivesse perdido também se tivesse feito tudo de acordo com o figurino de visitante respeitoso diante do líder da competição, mas jamais de goleada. Consumidas oito rodadas do primeiro turno e conquistados apenas nove pontos, o que o coloca em situação de risco de proximidade com a zona de rebaixamento, o São Caetano precisa se definir taticamente.
O sistema 4-4-2 com viés exclusivamente ofensivo é contraproducente à dinâmica de competitividade acirrada da Série B. Os jogos são sempre muito disputados. O nível de entrega dos jogadores é elevadíssimo. Compensa-se a técnica média inferior em relação à Série A com muita dedicação física e aplicação tática.
O São Caetano acredita que apenas com técnica será capaz de chegar entre os primeiros.
A realidade da Série B é que apenas com técnica é muito mais provável que o rebaixamento se avizinhe.
A Portuguesa do técnico Jorginho Cantinflas é o melhor benchmarking ao São Caetano. Reúne tanto qualidades ofensivas quanto defensivas. O grupo prevalece sobre as individualidades. Os espaços parecem desaparecer para os adversários quando a Portuguesa está sem a bola. E se multiplicam quando tem a bola.
O São Caetano não poderia ter cometido o erro de subestimar a Portuguesa. A Lusa vinha de duas vitórias incontestáveis, em casa por 5 a 0 diante do Bragantino e em Goiânia por 4 a 1 contra o Goiás. Acumulara 20 gols nos sete primeiros jogos.
É impossível acreditar que o São Caetano tenha ido ao Canindé sem conhecer a Portuguesa. A tecnologia está disponível para capturar todos os passos e passes de uma equipe. Sei que o Azulão estudou a movimentação da Portuguesa com e sem bola. Então, o que se deu em campo?
Faltou sobremodo encaixe de marcação. Esse é o drama do São Caetano, porque tanto os laterais quanto os volantes, os armadores e os atacantes não têm vocação e também disposição ao encurtamento de espaços. O São Caetano sabe jogar como a bola nos pés, mas não está doutrinado a jogar com a bola nos pés dos adversários.
Todo santo jogo sobram atacantes, alas e meio-campistas na cara do gol de Luiz. Eles surgem de todos os cantos.
Foi assim ontem à noite. Com seis minutos de jogo, a Portuguesa já vencia por 2 a 0. No primeiro gol luso, uma jogada de ultrapassagem de lateral e meia pela direita para cruzamento na pequena área, onde Edno estava livre. Em seguida, o mesmo Edno, agora desgarrado pelo meio, recebeu um passe de primeira e de primeira, de voleio, fez o segundo gol.
O restante do jogo foi apenas uma tortura para o São Caetano e uma diversão para os torcedores da Portuguesa, que arriscavam o placar final. Virou 4 a 1 como poderia ter virado 7 a 1.
O quinto gol no começo do segundo tempo já com um São Caetano reduzido a 10 jogadores, por conta da expulsão de Geovane no intervalo, reforçava possível extravagância no placar. Mas aí o São Caetano já consertara uma parte do estrago tático, com a entrada de Thiago Martinelli como terceiro zagueiro. Fernandez, de maior poder de marcação no meio de campo, também ajudou a amenizar o prejuízo. Sem contar que a Portuguesa desacelerou.
O São Caetano foi reprovado na sabatina mais importante, até agora, da Série B do Brasileiro. Isso não quer dizer que esteja irremediavelmente aniquilado. Nada disso. Não há momento melhor para os jogadores entenderem que sem transpiração contínua, em todos os jogos, não chegarão a lugar algum. Exceto à zona de rebaixamento.
Leiam também:
São Caetano sai do freezer para microondas com o mesmo time?
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André