Resposta para o título acima: o Azulão precisa de estabilidade tática e estabilidade tática não se compra em feira livre, tampouco está disponível em gôndola de supermercado. Estabilidade tática é consequência de individualidades e de coletivismos. Afunilando a questão, chego à conclusão simples: dificilmente o time de Márcio Goiano alcançará rendimento confiável se não contar com um reforço no meio de campo, à frente da zaga. Está faltando essa peça no grupo de jogadores.
Sim, estou falando de um médio-volante, desses rastreadores, desses combatentes intragáveis. Preferencialmente que tenha experiência, que tenha voz de comando dentro de campo, porque o time que tem jogado é praticamente mudo, aparentemente cheio de melindres. É indispensável que também reúna mobilidade, que socorra os laterais e os zagueiros de área.
O empate-derrota para o Sport, sábado no Estádio Anacleto Campanella, talvez tenha sido a prova definitiva de que ao São Caetano de elenco numeroso e talentoso não resta saída senão trazer um volante perdigueiro para colocar ordem na marcação, para corrigir o posicionamento dos companheiros, para temperar o jogo de acordo com as circunstâncias.
Em resumo, o São Caetano é uma equipe técnica demais, habilidosa demais, numa competição que precisa do recheio da implacabilidade destrutiva. Alguém que seja capaz de impactar todo o grupo com uma porção adicional de garra. Se até o Barcelona não abre mão de um volante destrutivo, embora Brusquets também seja talentoso, por que se permitir tamanha omissão?
Abdicar de um médio-volante de verdade tem se revelado um desastre para o São Caetano. Faz tempo que a equipe sofre desarranjos defensivos. Inventar zagueiro de área atuando como volante é bobagem. Alguns treinadores brasileiros já quebraram a cara com essa suposta inovação. Acabaram por desistir.
O Santos campeão paulista e da Libertadores só se acertou com Muricy Ramalho entre outros motivos porque o eficiente Adriano, que passou discretamente pelo São Caetano, foi escalado para proteger a zaga e, com isso, liberar o apoio de Arouca, e também porque os laterais passaram a ser mais comedidos ofensivamente. Muricy arrumou a cozinha santista. Márcio Goiano não consegue arrumar a cozinha do São Caetano. Foram oito gols nos dois últimos jogos.
O São Caetano é liberal demais. Joga com dois zagueiros internos, com dois laterais que têm mais características de alas, de apoiadores pelas extremidades do campo, com dois volantes-armadores que mais cercam do que combatem diretamente, com dois meias habilidosos mas pouco participativos na marcação e com dois atacantes que dificilmente acompanham os laterais ou volantes adversários que sobem. É um 4-4-2 com forte viés de 4-2-2-2.
O São Caetano é um convite ao ataque adversário. No último sábado o lateral/ala Wellington Saci, do Sport, fez a festa. Participou diretamente dos três gols pernambucanos. Ninguém o combateu o tempo todo. Armou o time pela extremidade esquerda. Desequilibrou um jogo que estava todo a favor do São Caetano e que por pouco não redundou em vitória dos visitantes.
Em outros jogos, adversários com alas esquerdos igualmente soltos, o São Caetano se deu mal também. Há persistente falta de atenção na marcação por zona, agravada com a postura dispersiva da equipe. Há espaços demais entre os três compartimentos. Defesa, meio de campo e ataque raramente se aproximam com ou sem bola.
Cumprido um quarto da disputa da Série B do Campeonato Brasileiro, o São Caetano está muito aquém do imaginado. Já era hora de o time saber o que fazer em campo. Contra o Sport foi uma barbaridade. Terminou o primeiro tempo em vantagem de 2 a 1, mas a vulnerabilidade defensiva era latente.
O técnico Márcio Goiano acertou a marcação com um terceiro zagueiro Thiago Martinelli) no lugar de um pouco útil Cleber, o terceiro gol parecia definir a sorte do jogo mas aí faltou inteligência, porque em vez de atrair o adversário para liquidar de vez o jogo em contragolpe o São Caetano entregou de bandeja um contra-ataque, numa virada de jogo de Allan que Wellington Saci interrompeu e armou cruzamento para a conclusão de um atacante em posição de impedimento.
A partir do segundo gol do Sport, e com a contusão de Anderson Marques, o São Caetano voltou a deixar imensos buracos defensivos. A saída equivocada de Luciano Mandi retirou a força física da puxada de contragolpe, sempre pela esquerda. No final, o empate acabou sendo um alívio. Mas renovou uma lição que ainda não foi entendida: o São Caetano precisa acabar com a permanente entrega da rapadura. Foi assim contra a Ponte Preta no mesmo Anacleto Campanella.
Que o volantão chegue logo e que também os demais titulares, sejam quais forem, aprendam a lidar com a competitividade da Série B. Que, aliás, não é da Série B, é do futebol bem jogado. Quem só com a bola joga com a bola será derrotado.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André