O São Caetano pode não ser uma Consul em matéria de ataque, mas está próximo disso na Série B do Campeonato Brasileiro. Pena que quando vira o jogo e o que está em xeque é a defesa, o São Caetano está mais para algo mequetrefe. Os leitores vão entender o que quero dizer sobre o único representante do Grande ABC no principal campeonato de acesso do País. A equipe tem ataque de pretendente à Série A, mas a defesa é de concorrente à Série C.
Os números dos 10 primeiros jogos de um total de 38 de turno e returno confirmam o que a prática está cansada de mostrar: o Azulão precisa ajustar-se coletivamente para pretender mais que fugir dos últimos lugares na classificação de 20 equipes. Espera-se que uma nova etapa comece nesta terça-feira à noite no Estádio Anacleto Campanella, quando enfrenta o ASA de Arapiraca, 11º colocado. Três posições à frente do São Caetano.
Antes que me chamem de simplista, explico que sempre que me referir a ataque e defesa do São Caetano e de qualquer equipe quero dizer “sistema de ataque” e “sistema de defesa”. Não há no futebol, atividade coletiva, separação analítica entre compartimentos. Se o São Caetano vai mal na Série B é justamente porque subestimou esse princípio. Atacantes e meio-campistas se esquivam de funções defensivas enquanto zagueiros e laterais, além dos dois volantes, não conseguem se efetivar como peças ofensivas.
Há quem tenha observado que o São Caetano do estreante técnico Oswaldo Vadão Alvarez do jogo de sexta-feira à noite contra o Vila Nova em Goiás não mudou nada em relação aos jogos anteriores, sob o comando do demissionário Márcio Goiano. Mudou sim. Principalmente de atitude. A derrota de 2 a 0 foi justa. O time de Goiás está mais ajustado, jogava em casa e contou com pitada de sorte ao marcar o primeiro gol de bola parada quando mal conseguia penetrar na área do São Caetano.
O que mudou na atitude do São Caetano que muitos parecem não ter visto? Os atacantes e os jogadores do meio de campo finalmente correram atrás dos adversários. Encurtaram espaços pelas laterais e pelo meio. Parece até que assistiram aos últimos jogos do Corinthians de Tite. Ou do Santos da Libertadores.
O Vila Nova bem que tentou, mas não conseguiu imprimir domínio avassalador. Foi melhor, é verdade, mas nada massacrante. E sofreu um bocado logo após o segundo gol, no começo do segundo tempo, quando o São Caetano com dois atacantes mais agudos, Luciano Mandi e Nunes, decidiu perder o medo ofensivo e poderia ter diminuído a diferença. Foram os melhores 20 minutos do São Caetano no jogo. Nos últimos 15, caiu na dispersão do primeiro tempo.
O time que perdeu em Goiás não será repetido nesta terça-feira à noite contra o ASA. Provavelmente com a volta do meia-atacante Ailton, que se recupera de contusão, e com Nunes de centroavante, além de esperado retorno dos zagueiros titulares (Eli Sabiá e Anderson Marques), e da manutenção do mais marcador Arthur na lateral-direita, há possibilidades de ganhar mais força ofensiva sem comprometimento defensivo.
Mencionei os números dos 10 primeiros jogos do São Caetano e ainda não os revelei interpretativamente. Pois vou em frente.
Sabia o leitor que embora esteja apenas em 14º lugar na classificação geral, a um ponto da zona de corte de rebaixamento (10 pontos, contra nove pontos de Goiás, Salgueiro, Guarani, Icasa e Bragantino, e a sete do lanterninha Duque de Caxias) o São Caetano está abaixo apenas da líder Portuguesa, da vice-líder Ponte Preta do quarto colocado Paraná e do quinto colocado ABC de Natal quando o ranking é o número de gols marcados? Foram 13 nos 10 jogos, contra 21 da Ponte, 26 da Lusa, 15 do Paraná e 14 do ABC. Empatam com o São Caetano no critério o Vitória da Bahia e o Sport. Todos os demais estão abaixo.
Vê-se portanto, que, apesar dos pesares de ter se dividido entre dois centroavantes (Nunes e Eduardo), um centroavante (Eduardo ou Nunes) e nenhum centroavante (Geovane e Antonio Flávio) o São Caetano não faz feio ofensivamente na competição. Completando o raciocínio de sistema ofensivo, o São Caetano resiste mesmo ao avanço ainda tímido dos meias de ligação com os quais contou até agora (Allan, Ailton, Júnior Xuxa, Kleber, Fernandes) e aos volantes pouco ofensivos (Augusto Recife, Souza e Ricardo Conceição) e igualmente com deficiências de marcação. Os laterais até que fazem o que podem e as areias da engrenagem coletiva permitem.
Com esse nível de rendimento ofensivo, o São Caetano poderia estar mais bem colocado na classificação geral. Está à frente, em gols, de sete adversários que lhe impõem vantagem na tábua de classificação. E empata com outros dois.
Está claro, portanto, que o maior problema da equipe é o sistema defensivo. Que o time sofre gols demais. Foram 18 em 10 jogos. Performance só superada pelo lanterninha Duque de Caxias, vazado 21 vezes. Todas as demais equipes foram menos vazadas que o São Caetano.
O técnico Oswaldo Vadão Alvarez parece ter arrancado mais que palavras dos jogadores. O grupo transpirou solidariedade tática contra o Vila Nova. Que o placar adverso seja confirmado nos próximos jogos como circunstancial. O São Caetano não obterá nada na competição sem o equilíbrio tático que os números revelarão quando nova batelada de rodadas virar numerologia a ser dissecada.
Somente os jogos da líder Portuguesa e da vice-líder Ponte Preta têm mais gols que os do São Caetano. A Portuguesa contou com 38 gols no total de 10 jogos (26 a favor e 12 contra), enquanto a Ponte Preta chegou a 32 (21 a 11). O São Caetano, com 13 gols a favor e 18 contra, soma 31 gols. Mesmo número do pobre Duque de Caxias, com 10 gols marcados e 21 sofridos. Os números expressam com clareza o quanto o São Caetano está sujeito a contrariedades.
Mais um número estatístico que reforça a desestruturação do São Caetano e compromete pretensões de chegar à Série A na próxima temporada: Os 232 gols da Série A até agora significam média de 2,32 gols por partida. Os jogos do São Caetano registraram 33% a mais de gols assinalados, com média de 3,10 gols por jogo — 1,80 contra e 1,30 a favor.
Se nos próximos nove confrontos da equipe, correspondentes à distância que separa o jogo desta terça-feira e a última rodada do primeiro turno, o São Caetano apresentar números defensivos mais saudáveis que os registrados nas primeiras nove rodadas, e caso o sistema ofensivo alcance melhores registros, o segundo turno será de expectativa de sucesso.
Para isso, não pode falhar, porque cada rodada que passa torna mais obrigatória a melhora de produtividade, divisão dos pontos conquistados pelos pontos disputados. Quando mais o quociente se distanciar da média geral das últimas edições, menos viabilidade o Azulão terá de chegar lá.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André