Uma boa notícia para quem estava descrente do futuro do Ramalhão após três rebaixamentos seguidos: uma reunião realizada ontem à noite na sede do Esporte Clube Santo André, envolvendo a direção da agremiação presidida por Celso Luiz de Almeida e dirigentes e acionistas do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), empresa criada para administrar o Ramalhão, ensaiou a possibilidade de dias melhores. Tomara que tudo se encaminhe nesse sentido já a partir deste domingo, quando o Ramalhão estreia na Série C do Campeonato Brasileiro e precisa pelo menos fugir de nova queda.
A garantia do presidente do Saged, Ronan Maria Pinto, de que há investidores dispostos a retirar o Ramalhão do estado terminal de competitividade esportiva foi repetida a pedido deste jornalista na mesa retangular. Fiz questão que o dirigente sublinhasse a frase porque num encontro recheado de participantes nem tudo que se declara é memorizado. Ronan Maria Pinto assumiu, com isso, compromisso formal com os acionistas do Saged e os dirigentes do EC Santo André.
A declaração do dirigente do Saged é um alento. O EC Santo André há muito entregou a rapadura e o Saged há muito também está estruturalmente incapacitado à empreitada de sustentar o futebol da cidade.
No mundo democrático do futebol nada é por acaso. Os seguidos rebaixamentos do Ramalhão, após breve período de glória, são a consumação da fragilidade organizacional do futebol de Santo André. Viveu-se um período curto de deslumbramento sob bases orçamentárias anabolizadas, até que a realidade se impôs.
Aliás, não foi por outra razão que o então presidente Jairo Livolis teve a ideia de buscar alternativa empresarial para manter o Ramalhão entre os 40 principais times do País. A capacidade econômico-financeira do Esporte Clube Santo André, no modelo de clube associativo, já estava esgotada naquele 2007.
O que falta, afinal, para o Ramalhão sair do estado catatônico? A resposta é viabilidade jurídica para uma transposição indispensável: que o Saged seja deixado de lado como administrador do Ramalhão, que o EC Santo André abra mão formal da representação denominativa e que a nova identidade formal seja o corolário de uma série de decisões prospectivas e também cautelares, entre as quais completa eliminação dos déficits acumulados e projeção de comprometimento dos investidores com a cultura municipal.
Ou seja, algo como um Santo André Futebol Limitada, o clube-empresa que se pretendia lá atrás para o Ramalhão. Há controvérsias sobre a solução. Coloca-se como referencial modelo semelhante ao que sustenta o São Bernardo de breve mas nem por isso única passagem pela Série A do Campeonato Paulista e um São Caetano da Série B do Campeonato Brasileiro. Só será possível encontrar a saída desse labirinto com especialistas e também com boa-vontade de todos. Sem abdicar-se de cuidados que não foram consolidados no contrato de gestão atual, que contamina a associação esportiva.
Ronan Maria Pinto conduziu com liberdade e atrevimento demais os destinos do Ramalhão. Levou a equipe da glória da Série A ao desalento da Série C do Campeonato Brasileiro. Por que a situação poderia ser outra com um grupo de investidores nacionais ou internacionais?
Porque o hibridismo do modelo atual é um empecilho à consumação do clube-empresa. O Saged é uma esquizofrenia jurídica e funcional, porque tem cabeça de empresa, no caso o Saged, e corpo de clube, no caso o EC Santo André. Esse é um recorte vantajoso em termos fiscais, porque reduz em pelo menos 40% a carga de tributos. Mas é limitador de movimentos mais ousados à chamada de capital, por exemplo. Ou mesmo à aquisição maciça de ações.
Ronan Maria Pinto lamenta que todas as tentativas de consolidar parcerias com investidores deram com os burros nágua porque o controle do Ramalhão nas esferas esportivas permanece sob a tutela do Esporte Clube Santo André. Para o Esporte Clube Santo André o modelo vigente também é um desastre, porque pode soterrar ativos financeiros por conta de insolvência do Saged.
Os obstáculos à amarração jurídica que deu luz ao Saged não podem ser biombo às falhas detectadas ao longo de quatro anos de presidencialismo quase todo ocupado por Ronan Maria Pinto.
A maioria das bobagens cometidas se deu à margem da matriz do regime jurídico do Ramalhão. Mas isso, nesta altura do campeonato, não pode virar prioridade de debates. Nesse momento em que se avizinha nova reunião, agora com especialistas que destacam o encaminhamento de nova estrutura jurídica para o Ramalhão, o que vale mesmo é buscar solução compatível com a responsabilidade intrínseca que os passivos financeiros do Saged exigem.
Mas não se pode fechar as portas a tentativa mais que válida, providencial, à solução de um drama que ameaça tornar o Ramalhão uma equipe qualquer no futebol paulista e brasileiro.
É certo sim que há enrosco a ser superado. O desaparecimento do Saged e uma nova concessão do Esporte Clube Santo André à representatividade esportiva do Ramalhão não são decisões simples, mas também não são incontornáveis. Do jeito que está é que não pode ficar, porque o Ramalhão pode morrer de inanição, entre o desalento do Saged e o desinteresse do Esporte Clube Santo André.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André