Para se aproximar do núcleo estatisticamente confiável de que estaria assegurada vaga na Série A do Campeonato Brasileiro do ano que vem o São Caetano precisa recuperar o terreno perdido nas 11 primeiras rodadas da Série B. Como ganhou apenas 39,39% dos pontos disputados (13 de um total de 33) e a marca de corte para comemorar o acesso é de 55,26% de aproveitamento (63 pontos em 114 disputados), o que lhe resta é trabalhar de olho no campo e numa projeção de conquistas. Ganhar do Grêmio Barueri nesta noite de sexta-feira no Estádio Anacleto Campanella significaria mais que os três pontos: a equipe do técnico Oswaldo Vadão Alvarez registraria 44,44% de aproveitamento. Mais de 10 pontos percentuais abaixo do necessário. A situação já esteve pior.
Transformar o futebol em dados estatísticos pode ser uma chatice para o torcedor que só quer saber de bola na rede. Talvez o torcedor comum. Os mais versados em complicações e também os cronistas têm obrigação de irem além. Principalmente os cronistas.
É comum o noticiário de que determinada equipe está a apenas quatro, cinco pontos da zona de classificação para algum objetivo, ou de rebaixamento para algum lugar. O reducionismo numérico simplifica um caminho de recuperação muito mais desafiador. Quatro ou cinco pontos são aparentemente uma caminhada curta. Até que se observe, como é comum, a quantidade de adversários que se interpõem à linha de corte, e, principalmente, o índice de rendimento.
Ou seja: a distância de quatro ou cinco pontos da linha de corte é apenas uma miragem numérica, assim por dizer, porque o movimento classificatório está muito longe de parentesco com mobilidade exclusivamente individual ao sabor dos resultados. Há situações em que todas as peças se reorganizam na classificação. Há também casos em que a movimentação geral implica congelamento classificatório.
Vou dar um exemplo prático do que ocorreu na 11ª rodada da Série B, embora o núcleo não seja a zona de classificação, mas de rebaixamento. O São Caetano ganhou na terça-feira do ASA de Alagoas e desgarrou-se da lista de equipes ameaçadas ou já frequentadoras da zona de rebaixamento. Quando a rodada se completou no sábado à noite, com vitórias de quase todos os concorrentes abaixo do São Caetano na classificação geral, o que tivemos foi a manutenção quase intocável do espaço que as envolvia nas respectivas pontuações. Os três pontos contra o ASA foram importantes, sem dúvida, mas o perfil do agrupamento de descenso seguiu praticamente inviolável. O São Caetano permaneceu um ponto acima da linha de corte.
Terá o São Caetano alcançado uma grande façanha — uma façanha que permitirá sonhar com reviravolta no segundo turno — se conseguir encerrar o primeiro turno da Série B com 50% dos pontos disputados. Faltará pouco para os 55% previstos. Mesmo assim, os cinco pontos percentuais que separariam a equipe do índice de aproveitamento mínimo não seriam galinha morta.
Vamos a um exercício simples mas didático:
Imagine o São Caetano com 28 pontos ao final do primeiro turno. Seriam 49,12% de aproveitamento. Para chegar ao final do segundo turno com 55%, precisaria somar novos 35 pontos, ou 61,40% dos pontos em disputa em 19 jogos. Vejam que a situação não seria fácil.
Quem quiser brigar com os números absolutos ou relativos vai quebrar a cara, porque a projeção está respalda pelo histórico do Campeonato Brasileiro da Série B.
Talvez os 55,26% parametrizados sejam levemente reduzidos, como o foram em duas oportunidades: em 2007 o quarto colocado Vitória da Bahia totalizou 51,75% de aproveitamento (59 pontos) e no ano anterior o quarto colocado América de Natal fez 53,51% (61 pontos). Nas demais edições, em 2008, 2009 e 2010, deram-se quocientes maiores: o América de Minas no ano passado (63 pontos ou 55,26%), o Atlético Goianiense em 2005 (65 pontos, ou 57,01%) e o Grêmio Barueri em 2008 (63 pontos ou 55,26%).
Prometo aos leitores que, ao final do primeiro turno, vou preparar um texto que irá muito além de cálculos matemáticos e traçaria a trajetória necessária ao São Caetano no segundo turno.
Certo mesmo é que o jogo contra o Barueri e o encontro na semana que vem com o ABC de Natal são significativamente especiais: o primeiro porque poderá dar um fôlego maior à fuga do paredão do rebaixamento, embora, como expliquei anteriormente, isso não seja garantido, por conta da interdependência de resultados; o segundo jogo porque reduziria o distanciamento da equipe alagoana, um dos fortes concorrentes a uma das quatro primeiras colocações.
A mobilidade dos pontos numa competição referenciada por um patamar estatisticamente previsível de sucesso é um dos encantos da Série B, da mesma forma que o é na Série A. No caso específico do São Caetano, quando mais resultados positivos se confirmarem, menos carga pesada de resultados positivos será indispensável no conjunto da competição. Se há hoje uma dependência enorme de vitórias, já que o São Caetano precisa conquistar 69,69% dos pontos que disputar até o final da competição para chegar à Série A, dentro de alguns dias esse indicador poderá ser severamente rebaixado. É uma dinâmica que vale a pena ser objeto de planejamento tático e de pontos.
Quem não cercar o touro do Acesso ou do Rebaixamento com cuidados numéricos que o histórico da competição oferece de bandeja está fadado a correrias de última hora. Por isso mesmo não passa de bobagem acreditar que cada ponto disputado na competição tem peso igual, seja qual for o adversário. Há jogos em que os três pontos devem ser obtidos a todo custo, há jogos em que o empate precisa ser antecipadamente valorizado e há até mesmo confrontos em que a derrota não seria um desastre. Identificar as especificidades de cada jogo não é tarefa para descuidados.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André