Esportes

Nunes está equivocado: São Caetano
não sabe ganhar, esse é o problema

DANIEL LIMA - 25/07/2011

O centroavante Nunes, sempre abrasivo, desabafou ao Diário do Grande ABC. Disse que o São Caetano não tem ambição de ganhar, por isso deixa escapar vitórias no Anacleto Campanella. O empate de sexta-feira ante o Grêmio Barueri irritou o atacante que ainda está em busca da melhor forma técnica, por conta de adaptação ao grupo. Nunes tem faro de gol mas no caso do diagnóstico do Azulão chutou uma bola furada: não falta ambição ao São Caetano. O que tem faltado, principalmente em casa, é maturidade.


O São Caetano deixa de jogar com o regulamento debaixo do braço. Com isso, perdeu seis pontos em três jogos que vencia entre 35 e 43 minutos do segundo tempo, contra Ponte Preta, Sport Recife e Grêmio Barueri. Perdeu-os por excesso de ambição, de querer fazer mais gols sem cuidar da retaguarda. Nunes talvez não saiba que ambição e cautela são faces da mesma moeda tática. São assim como remédio e veneno. Tudo é questão de dosagem.


Em todos os jogos que o São Caetano deixou escapar a vitória iminente no Anacleto Campanella e também nos demais no local, a equipe se excedeu na premissa de que quem joga em casa precisa atacar sempre. Não é bem assim. Há circunstâncias a indicar que o bom senso é transformar vantagem no placar em vantagem tática. Inclusive para dilatar a diferença.


O empate contra o Barueri colocou o técnico Oswaldo Vadão Alvarez entre o céu e o inferno. Estava 1 a 0 para o São Caetano no segundo tempo quando o adversário começava a controlar um jogo completamente do Azulão no primeiro tempo. Houve desgaste na marcação, principalmente dos alas, e o meio-campo adversário também começou a incomodar com mobilidade ofensiva.


Especialmente pela direita, com Pimentel, o Barueri começava a lançar-se em permanentes penetrações laterais e cruzamentos em diagonal. Luciano Mandi já não conseguia produzir defensivamente e piorava ofensivamente. Vadão o substituiu por Júnior Xuxa, refratário na marcação mas bom articulador ofensivo. Vadão poderia ter optado por um terceiro zagueiro, deslocando Arthur para o meio da zaga. Robert entraria como lateral-ala.


O técnico do São Caetano teria saído festejado se Júnior Xuxa não trocasse os pés pela cabeça num passe milimétrico de Ailton, o melhor do Azulão. O jogador emprestado pelo São Bernardo cabeceou livre de marcação uma bola em que o chute teria colhido o goleiro no contrapé. Em seguida houve a expulsão de um jogador do Barueri e mais adiante, num levantamento de Pimentel, Gil empatou ao recolher a sobra depois de Arthur errar o tempo de bola na tentativa de cabeceio. Arthur errou na cobertura porque ficou sobrecarregado na marcação.


O pulo do gato do técnico Sérgio Soares, do Barueri, foi colocar o centroavante Val Baiano para dobrar o peso com Pedrão e priorizar os cruzamentos altos. Contra dois atacantes de área, o São Caetano ficou sem a sobra. Um terceiro zagueiro teria amenizado o risco. Vadão preferiu manter o time ofensivo e se deu mal. Poderia ter-se dado bem se fechasse mais a defesa, bloqueasse os alas adversários e explorasse contragolpes. Embora o resultado acabasse se ajustando aos méritos e aos defeitos das duas equipes (o São Caetano sobrou no primeiro tempo e o Barueri foi corajoso e pragmático no segundo), a melhora do time de Vadão não deve ser subestimada.


Os 10 dias de folga na tabela e a intertemporada em Minas Gerais fizeram efeitos. A marcação está muito mais apurada, com atacantes e meio-campistas contribuindo até cansarem-se no encurtando de espaços. Antonio Flávio descobriu o lado direito como melhor opção no conjunto, Ailton voltou com a calibragem de técnica e velocidade pouco comum na Série B e os volantes se acertaram na divisão de tarefas, com Augusto Recife mais preso e Souza com liberdade de apoiar. Eli Sabiá e Revson até se revezaram em estocadas ofensivas e só passaram aperto quando tiveram de cuidar de dois centroavantes.


Ainda há muito para avançar, mas muito se avançou em relação a Ademir Fonseca e a Márcio Goiano. A compactação entre setores ganhou mais consistência, mesmo que ainda não seja uniforme o tempo todo, como nos últimos 20 minutos ante o Barueri.


O jogo desta terça-feira em Natal ganhou dimensão maior de dramaticidade. Agora não resta alternativa senão quem sabe os três pontos ante o surpreendente ABC para fugir da zona de rebaixamento. Um acinte provavelmente temporário para um grupo de jogadores que agora está mais perto do coletivismo, combustível da recuperação. É preciso saber resistir à eventual circunstancialidade classificatória desagradável. Mas quem sabe o ABC não seja finalmente a cartilha com que o São Caetano tanto sonha para iniciar para valer uma nova etapa no campeonato?


Para isso, é preciso saber ganhar quando se está ganhando. E ganhar quando se está ganhando muitas vezes reúne contornos de quem apenas aparentemente não quer perder. O Cruzeiro que ganhou ontem do Corinthians jogou como time pequeno porque se confiasse apenas na tradição e na imagem de time grande sabia que sair do Pacaembu com um empate já seria difícil. Jogou como time pequeno e ganhou como time grande.


A ambição de vitória e de acesso sugerida por Nunes muitas vezes, portanto, ganha a roupagem de previdência, de cautela, de pragmatismo. Tudo que faltou ao São Caetano contra a Ponte Preta, o Sport e o Barueri. Todos os jogos em que o Azulão estava em vantagem no placar, os três pontos pareciam certos e acabou entregando a rapadura.


Talvez Nunes esteja confundindo ambição com maturidade. E também com liderança individual. O São Caetano joga muito calado. Quem sabe o zagueiro Domingos não resolve o problema?


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