Esportes

São Caetano endoidece em Natal
e interrompe avanços na Série B

DANIEL LIMA - 27/07/2011

O São Caetano voltou com um novo ponto ganho na Série B do Campeonato Brasileiro ontem à noite em Natal contra o forte ABC, mas carregou também na bagagem uma mala cheia de preocupações. Primeiro porque desperdiçou nova oportunidade de ganhar três pontos, não apenas um. Segundo porque o técnico Oswaldo Vadão Alvarez adotou um sistema tático camicase, enlouquecedor, que só não custou a derrota porque o goleiro Luiz virou milagreiro. Terceiro porque não se sabe o que será dos próximos jogos. Ou seja: se a loucura será esticada.


É impossível acreditar no futuro de uma equipe que dá provas de loucuras ao substituir maturidade por ambição desregrada. O time jogou como Nunes sugeriu equivocadamente no começo da semana. Nada pior. Centroavante é para fazer gols, não para puxar a sardinha do esquema tático para a própria brasa. O que é bom para o centroavante não é necessariamente bom para a defesa. Foi o que se viu em Natal.


É complicado reproduzir o conteúdo do jogo de quatro gols e inúmeras oportunidades desperdiçadas sem recorrer às imagens. Quem melhor definiu o jogo foi o comentarista do canal pago SporTV. Ele sugeriu que seria difícil enquadrar os melhores momentos porque faltaria tempo a tantos lances. Talvez a saída fosse a reprodução integral do jogo.


Seria dispensável dizer que futebol não permite avalanche de oportunidades das duas equipes (mais do ABC) sem que delírios táticos ajudem a explicar a situação.


O São Caetano simplesmente abandonou qualquer resquício de cautela que também poderia ser entendida como racionalidade e estratégia. Colocou-se diante do ABC de peito aberto. A recíproca é verdadeira. Se já no primeiro tempo as oportunidades abundaram, no segundo o que se viu foram operações suicidas dos dois lados.


Tudo sugeria que alguém deve ter soprado aos ouvidos dos jogadores que a CBF modificara o sistema de pontuação e cada vitória passaria a valer cinco pontos e o empate estava condenado a um passo ainda mais regressivo de valorização, não passando de meio ponto.


Atacar era o que importava. Os zagueiros ficaram o tempo todo expostos, os meio-campistas só queriam saber de avançar, os laterais viraram alas e os atacantes poucos se incomodaram em marcar a saída adversária porque estavam assoberbados com passes e lançamentos para traduzirem em gols. Havia muito não se via tanta liberalidade num jogo de profissionais de nível. Não fosse isso, o espetáculo poderia ser confundido como um encontro de final de semana entre casados e solteiros. É provável que até casados e solteiros joguem com mais responsabilidade tática hoje em dia, inspirados quem sabe nas transmissões de futebol que mostram equipes cada vez mais cientificamente preparadas.


Convenhamos que num regime de futebol profissional e numa competição em que cada ponto vale ouro, dar pouco ou quase nenhum valor ao sistema defensivo é uma heresia. É o ápice da irresponsabilidade. É o desleixo completo. É algo como assinar um atestado que dispensa a atuação dos dois treinadores no banco de reservas. Jogar na base do tudo ou nada talvez seja compatível apenas nas quadras escolares, nos intervalos e após as aulas.


Uma pena que o São Caetano tenha entrado nesse barco furado de atacar a qualquer custo. O avanço tático que o técnico Vadão encaminhou desde que assumiu há três jogos foi para o beleléu. Tomara que a doideira em Natal tenha sido apenas circunstancial. Não há futuro num grupo de jogadores que subestima os riscos de atacar o tempo todo. Tampouco de apenas defender.


Por isso o São Caetano deixou escapar uma vitória de 2 a 0 e quase voltou para casa com uma derrota no lombo e um incômodo espaço na zona de rebaixamento, da qual está no limite.


O São Caetano jogou o tempo todo desdenhando das circunstâncias que se apresentaram. Quando a vantagem numérica se estabeleceu no primeiro tempo, mesmo com sustos provocados pelo adversário que encontrava espaços de sobra para avançar, era hora de remodelar o arranjo tático. O São Caetano não soube bloquear o adversário quando estava em vantagem no placar, não fez o tempo passar mais vagarosamente com o desaquecimento do ambiente em campo ao introduzir menos calor e mais luz tática, e seguiu jogando como se o que importasse era manter a audiência televisiva com um jogo extremamente emocional.


O empate e a chuva torrencial de emoções podem ter agradado ao público, porque se convencionou dizer que os gols salvam qualquer espetáculo, mas causaram mais estragos ao São Caetano do que ao ABC, que agora está fora do G4, reservado às equipes na zona de classificação para a Série A do Campeonato Brasileiro.


O resultado foi mais prejudicial ao São Caetano porque as circunstâncias do jogo colocaram a equipe de Vadão na cara da vitória e agora surge uma densa névoa de desconfiança quanto ao equilíbrio que exibirá, por exemplo, no final de semana contra o Paraná, na Vila Belmiro. Replicará Vadão o vai-ou-racha de ontem à noite ou vai voltar ao estado de sanidade tática com que deve sonhar uma equipe cujas individualidades são forte respaldo a embalar — apesar dos números cada vez mais inquietantes – acesso à principal divisão nacional?


Será o São Caetano de agora em diante o time maduro que Vadão parecia estar moldando ou o time aquecido e tresloucado de Nunes?


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